O avanço do desmatamento no território quilombola Kalunga, localizado nos municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, tem gerado preocupação entre lideranças e moradores da comunidade. A expansão da agropecuária, grilagem de terras e a extração ilegal de madeira são apontadas como os principais vetores da destruição ambiental na região, que abriga o maior território quilombola do Brasil, com aproximadamente 262 mil hectares.
Mesmo com esse cenário local, o governo de Goiás apresentou indicadores que apontam para uma redução expressiva do desmatamento no estado. Segundo levantamento divulgado em maio, a supressão de vegetação nativa caiu 71,9% em 2024 na comparação com o ano anterior, desempenho que coloca Goiás na liderança nacional em termos de queda proporcional. O dado reflete uma política ambiental que, segundo o governo, busca aliar crescimento econômico e conservação.
Entre as principais ações citadas está o pacto pelo desmatamento ilegal zero até 2030, firmado em setembro de 2023 com representantes do setor produtivo. O acordo prevê ações de fiscalização, monitoramento, investimentos em tecnologia e conscientização. Outro instrumento destacado é o Sistema Ipê, implantado em 2020, que digitalizou processos de licenciamento ambiental e reduziu de três anos para 45 dias o tempo médio de análise dos pedidos, tornando o estado referência nacional no setor.
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Durante participação na 8ª edição do Congresso Ambiental, realizado em São Paulo, o governador de Goiás defendeu que as pautas ambientais sejam tratadas de forma integrada aos aspectos econômicos e sociais. Para ele, não é possível fragmentar o debate, uma vez que desenvolvimento e sustentabilidade devem caminhar juntos.
Na abertura do evento, também foi reforçado que os estados do Centro-Oeste desempenham papel estratégico na transição para uma economia de baixo carbono, com foco na preservação dos recursos naturais, geração de emprego e inovação.
Apesar dos resultados gerais positivos, relatórios de organizações socioambientais apontam que o desmatamento segue avançando em áreas sensíveis, como territórios tradicionais e unidades de conservação. No território Kalunga, especificamente, o problema se intensificou nos últimos anos, especialmente nas divisas com propriedades rurais. A expansão da fronteira agrícola e a pressão de atividades ilegais geram impactos diretos sobre os recursos naturais, afetando rios, nascentes, fauna e flora da região.
Dados de monitoramento ambiental revelam que, embora a média nacional de redução do desmatamento em 2024 tenha sido de 32,4%, os biomas Cerrado e Amazônia continuam concentrando a maior parte da perda de cobertura vegetal no país. O Cerrado, onde está situado o território Kalunga, foi responsável por mais de 60% da vegetação nativa destruída no Brasil no último ano, evidenciando os desafios específicos que persistem na proteção desse bioma.
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A comunidade Kalunga, reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro, depende diretamente dos recursos naturais para sua sobrevivência e preservação cultural. A degradação ambiental ameaça não só o meio ambiente, mas também as atividades tradicionais de agricultura, coleta e manejo sustentável, que são fundamentais para a segurança alimentar e manutenção dos modos de vida.
Lideranças comunitárias e organizações da sociedade civil reivindicam ações mais efetivas por parte dos órgãos ambientais para coibir o avanço do desmatamento, sobretudo no entorno do território. As denúncias incluem práticas de grilagem, queimadas, abertura de pastagens e extração ilegal de madeira, que comprometem tanto a biodiversidade quanto a integridade física e cultural dos moradores.
O Congresso Ambiental também discutiu os desafios trazidos por legislações recentes, como a nova Lei do Mercado de Carbono, a reforma do setor elétrico e a Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Para especialistas, a implementação dessas normas representa uma oportunidade de fortalecer políticas públicas, mas também exige atenção para que não fragilize direitos socioambientais, especialmente de povos e comunidades tradicionais.
Enquanto o governo estadual destaca os avanços no controle do desmatamento em nível macro, o quadro no território Kalunga evidencia que os desafios permanecem. A preservação ambiental, a proteção dos territórios tradicionais e a busca por modelos sustentáveis seguem como questões centrais no debate sobre o futuro do Cerrado e dos povos que nele vivem. (Especial para O Hoje)