O setor de logística no Brasil, especialmente em estados estratégicos como Goiás, vive um paradoxo: enquanto cresce a demanda por transporte eficiente, esbarra na escassez de motoristas, na elevação dos custos operacionais e na instabilidade do comércio internacional. Com localização privilegiada no Centro-Oeste, Goiás abriga centros de distribuição de grandes varejistas e é peça-chave no escoamento de grãos e produtos industrializados. No entanto, o avanço do setor depende da superação de gargalos históricos e da atração de novos profissionais.
Déficit global de motoristas impacta o Brasil
A falta de mão de obra qualificada no transporte de cargas é um fenômeno global. Segundo dados da União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU), o déficit de caminhoneiros já ultrapassa 3 milhões de vagas no mundo. A projeção é ainda mais alarmante: esse número pode dobrar até 2028. No Brasil, a situação não é diferente. A Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) estima que 37% dos caminhoneiros autônomos devem se aposentar até 2026. Isso representa uma perda de mais de 220 mil profissionais da ativa, num universo atual de 615 mil cadastrados no RNTRC.
A idade média dos motoristas autônomos no país é de 46 anos. Sem renovação geracional, a cadeia logística corre o risco de paralisar parte do seu funcionamento. Além disso, os caminhões em circulação têm, em média, 11 anos de uso, o que reforça a necessidade de modernização da frota e de políticas de incentivo à profissão.
Goiás: polo estratégico da logística nacional
Com localização geográfica privilegiada, Goiás se destaca como centro logístico do Centro-Oeste. A cidade de Hidrolândia, por exemplo, é hoje sede de 15 centros de distribuição, sendo um dos principais entroncamentos rodoviários do país, cortada por 26 km da BR-153. A posição estratégica atrai empresas do setor varejista, farmacêutico e de peças agrícolas, com impacto direto no emprego e na renda da região.
O prefeito de Hidrolândia, José Délio, afirma que os CDs da cidade geram cerca de 4 mil empregos diretos e até 7 mil indiretos. “Temos a melhor localização geográfica do estado. Hidrolândia não precisa atravessar Goiânia para chegar a polos como Anápolis. Isso facilita a chegada e a saída de produtos”, destaca.
Insegurança global e alta no custo logístico
As tensões internacionais também afetam o transporte brasileiro. O fechamento do espaço aéreo no Oriente Médio e a ameaça de bloqueio do Estreito de Ormuz elevaram os custos de frete e seguro. A Associação Brasileira de Logística (Abralog) estima que o frete aéreo pode subir entre 15% e 25% nas próximas semanas. No caso do agronegócio, o impacto é ainda maior: o custo do transporte de grãos pode chegar a US$ 500 milhões, com o aumento de US$ 7 por tonelada no frete marítimo.
Em setores como varejo, indústria automotiva e agro, o custo logístico total pode ter alta entre 5% e 12%, segundo estimativas da Abralog. Isso coloca pressão sobre preços finais, margens e competitividade.
Custo do frete de grãos sobe US$ 500 mi. Foto: Divulgação
Campanhas tentam atrair jovens para o transporte
Diante do cenário de envelhecimento da categoria e desvalorização profissional, entidades como a CNTA lançaram o movimento “Orgulho de Carregar o Brasil”, que será divulgado no Dia do Caminhoneiro, em 30 de junho. A campanha quer resgatar o prestígio da profissão e atrair jovens para o transporte rodoviário, por meio de vídeos, depoimentos, colaborações com influenciadores e apoio de nomes ligados ao automobilismo.
“Esse movimento nasceu para dar visibilidade ao que muitas vezes passa despercebido: o caminhoneiro está no coração da economia brasileira”, afirma Thelis Botelho, idealizador da campanha. A ideia é reconectar a sociedade com o valor da profissão e pressionar o poder público por melhores condições de trabalho e remuneração.
Inovação e tecnologia transformam a logística
Enquanto lida com escassez de motoristas e infraestrutura precária — segundo a CNT, 67,5% das estradas brasileiras têm problemas de pavimentação ou sinalização — o setor aposta em tecnologia. Sistemas como WMS (gestão de armazéns), ERP com foco em agro e sensores conectados (IoT) ajudam a reduzir perdas, otimizar rotas e rastrear cargas em tempo real.
Tendências como a automação de última milha, uso de veículos elétricos e inteligência artificial para previsão de demanda e roteirização também ganham espaço. A expectativa é que, até o próximo ano, 20% das entregas no Brasil sejam automatizadas, segundo o Fórum Econômico Mundial.
Combinadas, essas soluções apontam para uma nova fase da logística no país: mais conectada, estratégica e sustentável. Mas para que isso aconteça, será preciso enfrentar os desafios estruturais e humanos que ainda travam o setor — e que, sem ação rápida, podem comprometer o futuro da cadeia produtiva nacional.
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