Bruno Goulart
A paisagem partidária no Brasil passa por uma transformação silenciosa, mas profunda, às vésperas das eleições de 2026. Após décadas marcadas pelo crescimento desenfreado do número de legendas — fruto do chamado pluripartidarismo — o movimento agora é de retração. Fundações partidárias estão sendo substituídas por fusões e federações. O objetivo é claro: garantir sobrevivência no jogo político, manter acesso ao fundo eleitoral, tempo de TV e espaço no Congresso, tudo isso diante dos critérios impostos pela cláusula de barreira.
Um dos casos que mais simboliza os impactos dessa tendência, em Goiás, foi exposto em entrevista do deputado federal e presidente do Podemos em Goiás, Glaustin da Fokus, ao O HOJE. O parlamentar foi enfático: caso o Podemos se funda com o PSDB, de Marconi Perillo, ele deixará o partido — a menos que tenha o comando da nova sigla em Goiás, o que ele próprio admite ser improvável. “Se tiver a fusão, e não for nós que tiver no comando no partido, eu busco outro”, declarou.
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Glaustin justifica sua posição política pelo alinhamento com o governador Ronaldo Caiado (União Brasil). “Tenho base com o governador Caiado, minha turma é do Ronaldo Caiado”, disse. Segundo ele, uma fusão com o PSDB, que tem projeto nacional e estadual próprio com Marconi, poderia comprometer suas alianças e atrapalhar a montagem de chapas. “Mesmo respeitando a história do Marconi, eu teria dificuldade. Estou numa base de governo que não tem conversa com o Marconi.”
A resistência à fusão, no entanto, não significa que o deputado seja contra os movimentos de unificação partidária. Pelo contrário. Ele reconhece que a política brasileira vive um novo ciclo. “Antes estava tendo criação de muitos partidos, mas o que a gente vê agora é uma queda no número de partidos, por conta de fusões e federações. Muitos partidos estão se incorporando.”
Federação UB-PP
Outro que comentou os efeitos das federações foi o deputado federal José Nelto (UB), também em entrevista ao O HOJE. Ele celebrou a federação já oficializada entre União Brasil e Progressistas (PP), apontando que essa união tem potencial para formar a maior chapa do estado. “A formação da chapa do União Brasil e do PP, na minha visão, vai ser a maior chapa em nosso estado. O governador Ronaldo Caiado é o nosso candidato à Presidência da República e, com essa federação, teremos condições de eleger sete deputados federais e de 10 a 12 estaduais”, afirmou.
Nelto destacou ainda que permanecer em partidos pequenos pode isolar politicamente candidatos e inviabilizar suas eleições. “Quem não estiver numa grande coligação vai se isolar, não terá nem a condição de alcançar o coeficiente eleitoral”, disse, prevendo que duas federações governistas — a União Brasil/PP e uma possível federação entre MDB e Republicanos — podem juntas conquistar até 70% das cadeiras da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa de Goiás.
Sobrevivência política
O avanço das federações e fusões tem uma razão prática e imediata: a cláusula de barreira. Estabelecida para reduzir o número de legendas com pouca representatividade, a regra impõe que os partidos, para manterem acesso a recursos do fundo partidário e tempo de TV, precisam atingir um dos dois critérios: eleger pelo menos 11 deputados federais, distribuídos em nove estados diferentes ou obter no mínimo 2% dos votos válidos nas eleições para a Câmara dos Deputados, também distribuídos em nove unidades da Federação, com um mínimo de 1% dos votos válidos em cada uma.