Cristalina (GO) recebeu o reconhecimento oficial de Indicação Geográfica (IG), na modalidade Indicação de Procedência, para os cristais de quartzo extraídos em seu território. A certificação, concedida pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), atesta a reputação, a origem e a qualidade dos cristais e representa um marco histórico para o município, situado no Entorno do Distrito Federal.
O selo cobre uma área de aproximadamente 6.300 km², abrangendo tanto a zona urbana quanto a rural, e reconhece o saber-fazer tradicional dos artesãos, lapidários e garimpeiros da região. Com essa conquista, os cristais de Cristalina passam a integrar a lista de produtos com origem geográfica protegida no Brasil, ao lado do açafrão da Região de Mara Rosa e da prata de Pirenópolis, entre outros.
A certificação agrega valor ao produto, fortalece sua posição no mercado nacional e internacional e oferece proteção legal contra o uso indevido do nome da cidade. Também estimula políticas públicas voltadas à valorização cultural e à economia criativa, com reflexos esperados na geração de emprego, no turismo e na atração de investimentos.
Para o secretário do Entorno do Distrito Federal, Pábio Mossoró, a certificação é um marco para o desenvolvimento sustentável da região. “Esse reconhecimento fortalece o Entorno como um polo de identidade, inovação e valor agregado. Cristalina agora se consolida não apenas por sua produção mineral, mas também como referência em qualidade e origem reconhecida. O Governo de Goiás, por meio da Secretaria do Entorno, parabeniza todos os envolvidos nessa conquista, que é de todo o Estado”, pontuou
Situada sobre uma das maiores reservas de cristal do mundo, Cristalina se destaca por sua formação geológica única, o domo de cristal lemuriano. A cidade é reconhecida internacionalmente pelas cores raras e vibrantes de seus cristais, como o “green gold”, extraído no Vale dos Cristais. O quartzo da região possui diversas aplicações nas indústrias eletroeletrônica, médica, ótica e de construção civil.
Embora a atividade garimpeira tenha perdido força com o avanço do agronegócio, o setor mineral voltou a ganhar relevância nos últimos anos. Além dos cristais, o óxido de ferro passou a ser extraído em larga escala, provocando uma nova corrida garimpeira e atraindo trabalhadores de diferentes regiões. Estima-se que um quilo de óxido de ferro seja vendido por cerca de R$ 30, com capacidade de extração diária de até 10 quilos por garimpeiro, o que movimenta uma economia paralela e de difícil controle.
Esse novo ciclo, no entanto, trouxe desafios. Em maio, uma operação da Polícia Militar apreendeu 15 toneladas de minerais em uma única residência, avaliada em cerca de R$ 500 mil. A ação resultou na prisão de dezenas de pessoas por crimes relacionados à extração ilegal. O episódio gerou críticas entre trabalhadores do setor, que apontam a tradição do garimpo na cidade e a falta de orientação para a regularização.
Historicamente, a extração de cristais sempre foi uma das principais atividades econômicas de Cristalina. A cidade surgiu no início do século XX justamente em função da mineração artesanal, e o garimpo se consolidou como uma prática cultural e fonte de sustento para milhares de famílias ao longo das décadas. Com o tempo, as técnicas de lapidação se modernizaram, mas muitos trabalhadores ainda operam de forma manual e sem apoio técnico.
Diante desse cenário, associações locais buscam fortalecer a organização do setor. Uma das principais propostas em discussão é a criação de uma cooperativa voltada à legalização da atividade e à defesa dos direitos dos garimpeiros. A iniciativa visa garantir condições mais seguras de trabalho, facilitar o acesso à permissão de lavra garimpeira junto à Agência Nacional de Mineração (ANM) e viabilizar novas oportunidades para a comunidade.
Com a certificação de procedência, Cristalina retoma seu protagonismo como referência mineral, reforçando sua identidade histórica e mirando no futuro com mais segurança jurídica, valorização econômica e responsabilidade social.
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