Diante do aumento de casos de intoxicação por bebidas alcoólicas adulteradas com o metanol, Goiás e sua capital, Goiânia, seguem em estado de alerta, com vigilância reforçada, ainda que não haja registros de casos confirmados no estado. Enquanto o Brasil soma 29 ocorrências confirmadas, a maioria em São Paulo, órgãos de saúde e segurança goianos atuam de forma preventiva, intensificando a fiscalização da procedência de bebidas e monitorando rapidamente qualquer suspeita.
Para ampliar a resposta, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia lançou, em 11 de outubro, um painel de monitoramento específico para casos suspeitos de intoxicação por metanol. A ferramenta integra notificações do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) e permite análise em tempo real. Segundo o secretário municipal de Saúde, Luiz Pellizzer, o painel apresenta os números de casos suspeitos, prováveis e descartados, com recorte por sexo, idade e distrito. As informações são atualizadas pelas equipes de vigilância em parceria com o CIEVS Goiás e o Centro de Informação e Assistência Toxicológica de Goiás (CIATOX).
Metanol em Goiânia
Em Goiânia, quatro casos suspeitos foram notificados: três já descartados e um considerado provável, envolvendo um homem de 30 anos internado no Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo). Em âmbito estadual, boletim do Ministério da Saúde (MS) divulgado em 10 de outubro aponta que Goiás tem dois casos suspeitos em investigação. A Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) reforça que não há confirmações até o momento e que mantém vigilância ativa em hospitais, com exames que, até agora, descartaram a presença da substância.
Outro caso que chegou a preocupar envolveu um goiano de 47 anos, internado no Distrito Federal. Atendido inicialmente na UPA de Brazlândia e depois transferido para o Hospital Regional de Santa Maria, ele foi submetido a exames que confirmaram um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A hipótese de intoxicação por metanol foi descartada em 9 de outubro, já que não foram encontrados níveis tóxicos no sangue, segundo a SES-GO.
Apesar do cenário nacional, bares e restaurantes em Goiás não registraram queda expressiva no consumo. A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Goiás (Abrasel-GO) afirmou, em nota, que o movimento segue normal, reflexo da confiança dos clientes em estabelecimentos que atuam legalmente. O presidente da entidade, Danillo Ramos, destacou que nenhuma garrafa contaminada foi encontrada em bares, restaurantes ou distribuidoras legalizadas. Empresários confirmam a estabilidade. Carlos Henrique dos Santos, dono de uma distribuidora em Aparecida de Goiânia, disse que o trabalho com fornecedores de confiança garante segurança e ajuda a manter a clientela.
O setor se apoia ainda na Operação Metanol, deflagrada em Goiás para barrar bebidas irregulares, principalmente vindas de estados como São Paulo, foco das investigações sobre redes criminosas que adulteram produtos. Durante uma fiscalização em Anápolis, em 9 de outubro, a Polícia Militar encontrou um local vendendo cachaça adulterada com maconha, armazenada em garrafas PET e comercializada sem alvará, a R$ 4.
A Abrasel-GO reforça a importância de atenção à procedência das bebidas. O advogado Raphael Medeiros, especialista em Direito do Consumidor, lembra que bares e restaurantes podem ser responsabilizados objetivamente por danos causados, mesmo que não tenham conhecimento da adulteração. O artigo 272 do Código Penal prevê até 15 anos de prisão para quem pratica esse crime. Para apoiar estados e municípios, o Ministério da Saúde destinou a Goiás 52 unidades do antídoto fomepizol e 75 unidades de etanol farmacêutico, ambos utilizados no tratamento de intoxicações por metanol.
Segundo dados divulgados no dia 10 de outubro, o Brasil contabilizou 29 casos confirmados de intoxicação por metanol, cinco a mais que no último balanço, além de 217 notificações em investigação. Os casos concentram-se em São Paulo (25), seguido do Paraná (3) e do Rio Grande do Sul (1). Todas as cinco mortes confirmadas ocorreram em São Paulo; outros 12 óbitos ainda são apurados em diferentes estados.
As investigações apontam que falsificadores usavam etanol combustível adulterado para fabricar bebidas clandestinas. O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou que há suspeita de envolvimento do crime organizado, incluindo o PCC.
Os sintomas de intoxicação com metanol podem aparecer entre seis e 72 horas após a ingestão e incluem náuseas, vômitos, dor abdominal, tontura, dor de cabeça e confusão mental. Alterações visuais exigem atenção imediata. Em Goiás, os cidadãos podem acionar o CIATOX Goiás pelos números 0800 646 4350 ou 0800 722 6001.
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