A tensão diplomática e militar entre Estados Unidos e Venezuela ganhou novos contornos nos últimos dias, reacendendo um conflito que mistura acusações de narcotráfico, disputas de legitimidade política e demonstrações de força militar. De um lado, o governo de Donald Trump reforça medidas contra Nicolás Maduro, incluindo a duplicação da recompensa oferecida por sua captura, enquanto do outro, Caracas mobiliza milhões de milicianos e acusa Washington de usar propaganda e intimidação para justificar ações de intervenção.
No início do mês, Trump anunciou o aumento da recompensa por informações que levem à prisão de Maduro, elevando o valor para US$ 50 milhões (cerca de R$ 273,8 milhões). O montante supera a recompensa oferecida pelo paradeiro de Osama bin Laden, tornando-se a maior recompensa da história dos EUA. A medida foi acompanhada de acusações formais da DEA, a agência antidrogas norte-americana, que afirma ter apreendido toneladas de cocaína e ativos avaliados em mais de US$ 700 milhões vinculados ao presidente venezuelano e seus aliados.
Pam Bondi, procuradora-geral dos EUA, foi categórica ao justificar o aumento da recompensa. “Sob a liderança do presidente Trump, Maduro não escapará da justiça e responderá por seus crimes atrozes”, disse, acusando-o de utilizar organizações como o Tren de Aragua, o Cartel de Sinaloa e o Cartel dos Soles para enviar drogas letais ao território norte-americano. Washington também sustenta que a permanência de Maduro representa uma ameaça direta à democracia na região, especialmente após as eleições de julho de 2024, que não foram reconhecidas por parte da comunidade internacional.
A resposta de Caracas não tardou. O chanceler venezuelano, Yván Gil, classificou a iniciativa como “patética” e afirmou que se trata de um “show desesperado” para desviar a atenção dos problemas internos dos EUA. Maduro, por sua vez, elevou o tom, prometendo resistir a qualquer ofensiva estrangeira. Em discurso televisionado, declarou: “Nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela. Defendemos nossos mares, nossos céus e nossas terras, e assim continuará sendo”.
Paralelamente à escalada verbal, os dois países intensificaram suas movimentações militares. Segundo a CNN, supostamente três navios de guerra norte-americanos, USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson, foram designados para a costa venezuelana, com apoio de aviões espiões P-8 e submarinos de ataque. Estima-se que cerca de 4 mil marinheiros e fuzileiros navais estejam envolvidos na operação. Embora o Departamento de Defesa tenha negado a informação, a possibilidade de uma presença militar contínua permanece em aberto.
Em contrapartida, Maduro anunciou a ativação de mais de 4,5 milhões de milicianos distribuídos em diferentes cidades do país. O governo venezuelano apresenta a medida como parte de um “plano de paz” e afirma que os chamados “quadrantes de paz” servirão para proteger a soberania nacional. A Milícia Nacional Bolivariana, criada por Hugo Chávez, passa a ter papel ainda mais central, com a promessa de cobertura em todo o território. Também foi anunciada a criação de três zonas de segurança na fronteira com a Colômbia.
As movimentações refletem um impasse que se arrasta desde 2019, quando os EUA romperam relações diplomáticas com Caracas. Washington insiste em não reconhecer Maduro como presidente legítimo e mantém a posição de que o venezuelano está envolvido em crimes de narcotráfico e corrupção. Já a Venezuela denuncia que os EUA recorrem a ameaças para tentar impor sua influência e garantir interesses estratégicos na América do Sul.
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