Bruno Goulart
O depoimento de Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, movimentou a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS nesta quinta-feira (25). Acusado de ser peça central em um esquema que teria desviado bilhões de aposentados e pensionistas, Antunes gerou tumulto, gritaria e discussão entre parlamentares e advogados. Agentes da Polícia Legislativa chegaram a ser acionados, mas não precisaram intervir.
Logo na abertura, o relator Alfredo Gaspar (União-AL) afirmou: “Hoje é um dia muito importante para esta comissão. Relatado pela Polícia Federal, está presente aqui o autor do maior roubo a aposentados e pensionistas da história do Brasil”. A fala irritou o advogado de Antunes, Cleber Lopes, que protestou no plenário. O clima esquentou quando o deputado Zé Trovão (PL-SC) se dirigiu à mesa diretora para confrontá-lo. A confusão obrigou o vice-presidente Duarte Jr (PSB-MA), que presidia os trabalhos, a suspender a sessão.
Defesa e silêncio parcial
Em sua fala inicial, Antunes justificou que não responderia às perguntas do relator. “O relator já me julgou sem me ouvir. Disse em outras sessões que sou ladrão, antes mesmo de eu prestar esclarecimentos”, afirmou. Mesmo assim, disse estar disposto a falar com outros membros da comissão, desde que houvesse “educação e cordialidade”.
Preso preventivamente desde o dia 12, Antunes afirmou que entregará à Polícia Federal 180 gigabytes de documentos — o equivalente a 18 milhões de arquivos — que comprovariam a legalidade de sua empresa, a Prospect. Segundo ele, a companhia prestava serviços de assessoria e consultoria a entidades associativas, oferecendo benefícios como seguros funerários, clubes de descontos e cursos. “Jamais fui responsável pelo recrutamento de associados, tampouco exerci ingerência sobre os descontos feitos nos benefícios”, disse.
Acusações no telão
Enquanto o empresário buscava se defender, o relator projetou em um telão uma imagem de Antunes em reunião no início do governo Lula. “Com treze dias de governo, só tinha uma pessoa naquela mesa que não era do Ministério da Previdência Social. Quem deu autorização para um quadrilheiro sentar na mesa da Previdência Social?”, questionou Gaspar.
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O deputado também acusou Antunes de movimentar milhões em propina e listou bens supostamente incompatíveis com sua renda. Em outro trecho, citou entidades de fachada ligadas ao empresário. “O senhor montou empresas e associações que retiraram R$ 2 bilhões dos aposentados. Só a Unaspub tirou R$ 267 milhões, e 97,6% dos filiados disseram nunca ter autorizado os descontos”, afirmou.
Antunes rebate
O empresário respondeu dizendo ser alvo de “narrativas mentirosas” e garantiu que sua atuação se restringia à prestação de serviços. “A responsabilidade, se houve irregularidade, cabe às associações. Minha empresa se limitava à prestação contratada”, declarou. Ele também negou ter manipulado sistemas do INSS ou criado associações fraudulentas.
Antunes reiterou que responderá às perguntas dos parlamentares, mas não às de Alfredo Gaspar. “Ele já me condenou publicamente sem me dar chance de defesa”, justificou.
Repercussão
Durante um intervalo, o vice-presidente da CPMI, Duarte Jr, avaliou a fala de Antunes: “Ele nega participação no esquema, nega influências políticas, afirma ser empresário. Mas é importante esclarecer que serviços foram prestados, já que não há registros de funcionários ou relações trabalhistas nessas empresas”.
A CPMI investiga suposto esquema em que associações de fachada teriam desviado bilhões de aposentados e pensionistas por meio de cobranças autorizadas diretamente nos benefícios previdenciários.
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