A Assembleia Geral das Nações Unidas inicia, em Nova York, sua 80ª edição em meio a um cenário internacional conturbado. Entre essa terça-feira (23) e a próxima segunda-feira (29), chefes de Estado e representantes dos 193 países-membros se reúnem para debater temas que refletem os desafios da ordem mundial, incluindo as guerras em Gaza e na Ucrânia, as mudanças climáticas e a defesa da democracia.
Principal órgão deliberativo da ONU, a Assembleia foi criada em 1945 e se consolidou como fórum universal para o debate político, econômico, social e humanitário. Cada país tem direito a um voto, o que garante igualdade formal entre potências e nações menores. Suas resoluções, no entanto, não têm caráter vinculante, funcionando como sinalização política das posições adotadas pelos Estados.
A reunião deste ano tem caráter simbólico por celebrar os 80 anos da fundação da ONU. O tema escolhido é “Melhor Juntos: 80 anos e mais para paz, desenvolvimento e direitos humanos”. Além das sessões oficiais, o encontro tem cúpulas sobre meio ambiente, economia global, inteligência artificial e atualizações dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O Brasil abre tradicionalmente o Debate Geral, um costume iniciado ainda nos primeiros anos da ONU, quando se voluntariava a discursar primeiro. Coube ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugurar a tribuna, em um momento de tensão crescente com os Estados Unidos. Logo após o brasileiro, a fala passa para o presidente norte-americano, Donald Trump.
A participação brasileira ganha relevância diante da crise entre Brasília e Washington. É a primeira viagem de Lula aos EUA desde a posse de Trump, em janeiro. O encontro em Nova York também pode ser o primeiro frente a frente dos dois líderes, embora não haja reunião bilateral confirmada.
Durante a cúpula do G7 no Canadá, houve a expectativa de um encontro entre os líderes, porém eles não chegaram a se cruzar.
Na pauta do presidente brasileiro estão compromissos sobre os territórios palestinos e encontros preparatórios para a COP30, prevista para novembro em Belém. A agenda reflete a tentativa de projetar protagonismo regional e ambiental, mesmo diante da tensão com a Casa Branca.
O palco da Assembleia não se limita ao embate entre EUA e Brasil. A guerra na Ucrânia, a ofensiva de Israel em Gaza e as tensões comerciais globais devem dominar as discussões. Para alguns países, a reunião representa a chance de cobrar respostas coletivas; para outros, serve como oportunidade de reforçar alianças ou expor divergências. O recente veto norte-americano à participação de representantes palestinos já indicou o tom das disputas.
O debate também marca a presença inédita do presidente da Síria, Ahmad al-Sharaa, primeiro líder do país a participar da Assembleia desde 1967. A viagem foi classificada pela agência estatal síria como histórica, após a derrubada do regime de Bashar al-Assad em 2024.
A condução dos debates está sob responsabilidade da presidente da Assembleia, Annalena Baerbock, ex-ministra do Exterior da Alemanha. Caberá a ela administrar a ordem dos discursos e o cumprimento do limite de tempo de 15 minutos estabelecido pela organização.
A ONU reforça que, ao contrário do Conselho de Segurança, onde decisões são vinculantes, a Assembleia Geral cumpre papel de termômetro do cenário global. É nesse espaço que emergem consensos frágeis, declarações de princípio e disputas que espelham a complexidade da geopolítica contemporânea.
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