A relação entre o prefeito Sandro Mabel (União Brasil) e a Câmara Municipal de Goiânia vive, atualmente, um clima de atrito constante. O embate se intensificou ao longo dos últimos meses em votações polêmicas e troca de liderança dentro da Casa. O episódio mais recente, na última quinta-feira (2), quando Mabel se recusou a responder questionamentos dos vereadores durante a prestação de contas, expôs o desgaste do diálogo entre Executivo e Legislativo.
Quando foi eleito, Mabel contava com apoio de cerca de 27 dos 37 vereadores que compõem o parlamento goianiense. Chegou respaldado pela maioria dos parlamentares, que defendiam dar o amparo necessário para a nova gestão trabalhar. No décimo mês de gestão, a relação passa longe da moderação no início de mandato.
O atrito entre Mabel e Câmara Municipal teve início com a instauração da Comissão Especial de Inquérito (CEI) que investiga o contrato do consórcio Limpa Gyn com a Prefeitura de Goiânia. O Paço é contrário à investigação. De lá para cá, a tensão só aumentou.
Desde agosto, os embates passaram pelo resgate do projeto que revoga a Taxa de Limpeza Pública (TLP), o projeto da data-base e, recentemente, pelas emendas que alteraram o índice de remanejamento orçamentário para 2026, em votação polêmica da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) que está sob risco de nulidade. Em meio aos acontecimentos, Mabel destituiu o vereador Igor Franco (MDB) do cargo de liderança na Casa de Leis, que foi substituído pelo vereador Wellington Bessa (DC).
A recusa em responder os questionamentos dos vereadores na última quinta, durante a prestação de contas na Casa de Leis, somou-se aos episódios de confronto entre vereadores e Mabel. Para o mestre em ciência política pela Universidade Federal de Goiás, Lehninger Mota, a forma de trabalho de Mabel difere do ex-prefeito Rogério Cruz (Solidariedade) e causa um “choque inicial”.
“O Rogério tinha uma forma de trabalho que dava muita liberdade aos vereadores, que tinham cargos na prefeitura e influenciavam nas decisões do Paço. Já o Sandro Mabel tem uma característica centralizadora que não consulta muito os vereadores. Ele não está com a porta aberta toda hora para o vereador discutir algumas questões. Como a maioria dos vereadores foram reeleitos, esse choque inicial é natural”, destacou Mota.
O cientista político, porém, chama atenção para a postura do prefeito. “O que é prejudicial nessa relação é o que vem acontecendo. Algumas acusações do Mabel e de aliados, como o próprio vice-governador [Daniel Vilela (MDB)], falando em “desmamar bezerros”. Isso é um desrespeito ao cargo de vereador, que é o para-choque da política, sempre fazendo o corpo a corpo com a população sabendo das suas necessidades”, afirmou o especialista.
Desrespeito é o problema
Lehninger alerta que o método de trabalho diferente não é problema, mas, sim, o desrespeito, que pode, inclusive, inviabilizar matérias importantes para a população na Casa de Leis. “O desrespeito leva a um cenário totalmente avesso, um cenário não confortável para os vereadores em votarem questões que a prefeitura acha importante. Assim, podemos ter temas que deveriam avançar no Legislativo ficando parados”, frisou o cientista.
Mota classificou o episódio da fuga de Mabel dos questionamentos dos vereadores durante a prestação de contas como “lamentável”. “Ter divergência é normal, é da política. Mas ofensas e agressões gratuitas não são. Uma Câmara contrária ao prefeito resulta em projetos que seriam positivos emperrados”, concluiu Lehninger. (Especial para O HOJE)