O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reuniu nesta segunda-feira (8) os líderes do Brics em uma videoconferência. O encontro virtual tratou do tarifaço de 50% imposto pelo governo Donald Trump sobre exportações, da defesa do multilateralismo, da reforma da governança global e de temas ligados à agenda internacional, como guerras, a 80ª Assembleia Geral da ONU, a COP30 e o G20.
Participaram da cúpula os presidentes Xi Jinping, da China; Cyril Ramaphosa, da África do Sul; Vladimir Putin, da Rússia; além do príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Khaled bin Mohamed bin Zayed Al Nahyan, e representantes de países como Egito, Indonésia, Irã, Emirados Árabes Unidos, Índia e Etiópia. A reunião, segundo o Palácio do Planalto, durou cerca de 1h30 e buscou alinhar a reação conjunta às recentes políticas de Washington.
No discurso de abertura, Lula afirmou que os países do bloco se tornaram “vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais”. Ele declarou que “em poucas semanas, medidas unilaterais transformaram em letra morta princípios basilares do livre-comércio como as cláusulas de Nação Mais Favorecida e de Tratamento Nacional”. Para o presidente, a “chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas”.
De acordo com comunicado divulgado pelo Planalto, os líderes reafirmaram o “compromisso com a preservação e o fortalecimento do multilateralismo” e defenderam a reforma de organismos globais, entre eles a ONU. A nota afirmou ainda que houve consenso sobre a necessidade de “avançar rumo a uma ordem internacional mais justa (…) capaz de refletir as transformações em curso e responder de maneira mais eficaz às demandas do Sul Global”.
Lula destacou que o Brics responde por 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase metade da população mundial. “Temos entre nós grandes exportadores e consumidores de energia, reunimos as condições necessárias para promover uma industrialização verde, que gere emprego e renda em nossos países, sobretudo nos setores de alta tecnologia”, disse.
O presidente brasileiro também criticou o bloqueio da Organização Mundial do Comércio. “A OMC está paralisada há anos”, afirmou, reforçando que “sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos”. Ele voltou a defender que a reforma da entidade é “imprescindível e urgente”.
Além do comércio, a reunião abordou conflitos armados e tensões regionais. Lula elogiou a aproximação entre Estados Unidos e Rússia para buscar a paz na guerra da Ucrânia. “O encontro no Alasca e seus desdobramentos em Washington são passos na direção correta para pôr fim a esse conflito”, avaliou. Apesar disso, criticou a postura de Trump em relação à Venezuela: “A presença de forças armadas da maior potência do mundo no mar do Caribe é fator de tensão incompatível com a vocação pacífica da região”.
O presidente também condenou as ofensivas israelenses em Gaza. “É urgente colocar fim ao genocídio em curso e suspender as ações militares nos territórios palestinos”, declarou. Ao abordar o tema da segurança global, ressaltou que “o terrorismo não está associado a nenhuma religião ou nacionalidade. Também não pode ser confundido com os desafios de segurança pública que muitos países enfrentam. São fenômenos distintos e que não devem servir de desculpa para intervenções à margem do direito internacional”.
Com a presidência rotativa do Brics em 2025, o Brasil tem buscado fortalecer a posição do bloco frente às potências ocidentais.
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