Bruno Goulart
A condenação de Jair Bolsonaro (PL) a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado alterou profundamente a dinâmica política da direita brasileira. Embora ainda cumpra prisão domiciliar, o ex-presidente se aproxima do momento em que poderá ser transferido para o regime fechado. Essa perspectiva acelerou os movimentos de partidos do Centrão, que passaram a pressionar Bolsonaro para indicar um sucessor antes de perder protagonismo na cena política.
Nesse cenário, o nome que mais se destaca é o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Visto como gestor eficiente e herdeiro natural do bolsonarismo, ele já conta com apoio de dirigentes do PP, do União Brasil e do próprio Republicanos. O desafio é convencer Bolsonaro a dar seu aval e, ao mesmo tempo, lidar com resistências dentro da própria família.
Pressão
A movimentação ganhou força logo após a leitura da sentença que deixou Bolsonaro inelegível e o condenou por sua participação na tentativa de golpe. Interlocutores do Centrão avaliam que o tempo corre contra a direita. Se não houver definição rápida, outras lideranças poderão se consolidar. “Não dá para deixar um vácuo de comando. A direita precisa de um nome competitivo e viável”, disse um aliado de Ciro Nogueira, presidente do PP.
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De acordo com fontes no Congresso, Antonio Rueda (União Brasil) e Marcos Pereira (Republicanos) já trabalham para consolidar a candidatura de Tarcísio. A lógica é simples: sem Bolsonaro no páreo, é preciso um nome com trânsito em Brasília, prestígio em setores conservadores e capacidade de disputar votos no Sudeste.
Valdemar tenta equilibrar
No PL, a situação é mais delicada. O presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, insiste em afirmar que “toda decisão passará por Bolsonaro”. Ao mesmo tempo, tenta evitar fissuras internas. Deputados e senadores da sigla já receberam autorização para visitar o ex-presidente em casa, com o objetivo de alinhar discursos e preparar a base para um anúncio oficial.
Apesar do esforço, líderes do Centrão não escondem a resistência em aceitar qualquer sucessor da família Bolsonaro. O receio é que nomes como Flávio ou Eduardo tenham menos apelo junto ao eleitorado e mais dificuldade de construir alianças partidárias.
O papel de Tarcísio
Enquanto isso, Tarcísio de Freitas se equilibra. Em público, insiste que não pretende disputar a Presidência em 2026 e que sua prioridade é São Paulo. Nos bastidores, no entanto, tem multiplicado viagens a Brasília, reuniões com dirigentes e acenos ao eleitorado bolsonarista.
A postura já causa desconforto. Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegou a criticar o governador, dizendo que sua atuação é “pouco assertiva”. Ainda assim, aliados de Tarcísio enxergam essas idas à capital como parte de uma estratégia para fortalecer sua imagem de fidelidade ao ex-presidente, sem romper com os setores mais duros do bolsonarismo.
Anistia
Um dos pontos de maior atrito é a proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Enquanto o PL tenta incluir também condenações que tornaram Bolsonaro inelegível, partidos como União Brasil e PP defendem um texto mais restrito. Para esses dirigentes, seria um erro retomar o debate sobre a candidatura do ex-presidente. “Qualquer tentativa de reverter a decisão do TSE gera insegurança e pode rachar a oposição”, avalia um deputado do Centrão.
Essa disputa reflete mais do que a pauta da anistia: é, na prática, uma antecipação da eleição presidencial. De um lado, o PL luta por manter Bolsonaro como centro das atenções. De outro, partidos do Centrão trabalham para construir uma candidatura viável sem a família Bolsonaro.
2026
Com Bolsonaro prestes a enfrentar uma nova etapa da pena, a direita vive um dilema. Se a escolha do sucessor não for feita sob a sua bênção, corre-se o risco de perder o apoio da militância mais fiel. Se for feita tarde demais, pode não haver tempo de consolidar uma candidatura forte contra Lula.
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