Goiás enfrenta mais uma preocupação grave na área da saúde. Desta vez, o alerta vem do aumento expressivo de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), segundo o novo boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado na quarta-feira, 30 de abril.
De acordo com o levantamento, o estado já acumula 3.218 notificações da doença só em 2025 — um aumento de 18% em relação ao mesmo período do ano passado. O avanço do vírus tem atingido principalmente as crianças pequenas, o grupo mais vulnerável diante da atual circulação de agentes infecciosos respiratórios.
A Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) representa a forma mais grave dos quadros respiratórios e pode ser desencadeada por diferentes vírus: o SARS-CoV-2 (Covid-19), o influenza (gripe) e o vírus sincicial respiratório (VSR), este último responsável por bronquiolite em crianças. Neste ano, o VSR é o que tem predominado no país, gerando alta taxa de hospitalizações pediátricas.
No caso de Goiás, o cenário é duplamente preocupante: além de registrar alta incidência, o estado também apresenta tendência de crescimento dos casos — o que, segundo os pesquisadores da Fiocruz, classifica a situação como de “estado de risco”. Em números absolutos, embora a taxa de mortalidade tenha caído 30% em relação a 2024, o total de mortes ainda é alto: 178 pessoas perderam a vida por complicações respiratórias graves neste ano.
Os primeiros sinais de que algo pode estar errado surgem em quadros gripais comuns. A Síndrome Gripal (SG) é definida pela presença de febre de início súbito, mesmo que referida, acompanhada de tosse ou dor de garganta e, pelo menos, um dos seguintes sintomas: dor de cabeça (cefaléia), dor muscular (mialgia) ou dor nas articulações (artralgia), sem outra explicação clínica aparente.
Outros sinais frequentes incluem calafrios, coriza, distúrbios olfativos e gustativos (perda de cheiro e paladar). Em crianças pequenas, além desses sintomas, considera-se também obstrução nasal. Em idosos, devem-se observar sinais de agravamento como confusão mental, síncope (desmaios), irritabilidade, sonolência excessiva e inapetência.
Quando esses quadros evoluem e o paciente apresenta sinais como dificuldade para respirar (dispneia), pressão ou dor persistente no tórax, coloração azulada dos lábios ou do rosto (cianose) e saturação de oxigênio no sangue igual ou inferior a 94% em ar ambiente, o diagnóstico passa a ser de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Em crianças, sinais adicionais de alerta incluem batimento de asa nasal, tiragem intercostal, desidratação e recusa alimentar.
“Se após dois ou três dias de sintomas gripais, especialmente em idosos ou crianças, a pessoa começar a sentir qualquer desconforto para respirar, é fundamental procurar assistência médica imediatamente”, alerta a Secretaria Estadual de Saúde.
Alguns grupos estão mais vulneráveis à evolução para a SRAG. Entre eles, gestantes, puérperas (até duas semanas após o parto), crianças menores de 5 anos (com risco mais alto em menores de 6 meses), idosos com 60 anos ou mais, pessoas com comorbidades (como doenças cardíacas, pulmonares, renais, hepáticas, imunossupressão ou distúrbios neurológicos), obesos e indígenas aldeados ou com dificuldade de acesso aos serviços de saúde.
A preocupação aumenta diante da baixa adesão à vacinação. Em Goiânia, por exemplo, embora 78 mil pessoas já tenham recebido a dose contra a gripe, cerca de 600 mil que integram os grupos prioritários como idosos e gestantes ainda não compareceram aos postos de vacinação.
Situação nacional e em Goiás
O boletim da Fiocruz indica que 18 das 27 capitais brasileiras estão em nível de alerta ou risco para a Síndrome. Goiânia é uma delas, com tendência de crescimento moderado. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), foram registrados 440 casos de SRAG na capital este ano, sendo 33 provocados pelo vírus influenza. Apesar disso, o órgão afirma que a situação está “sob controle”.
No cenário nacional, 45.228 casos de SRAG já foram notificados em 2025. Desses, 42,9% tiveram confirmação laboratorial para vírus respiratórios. O VSR lidera a lista com 38,4% dos casos positivos, seguido do rinovírus (27,9%), SARS-CoV-2 (20,7%), influenza A (11,2%) e influenza B (1,6%). Entre os óbitos confirmados, a influenza A responde por 46,4% dos casos.
Diante da sazonalidade da síndrome gripal e respiratória, a Superintendência de Vigilância em Saúde (Suvisa) reforça a importância de medidas básicas: adesão à vacinação, uso de máscaras em locais fechados ou em caso de sintomas, higienização frequente das mãos e etiqueta respiratória (cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar).
Segundo os pesquisadores, embora Goiás e o Distrito Federal tenham apresentado leve sinal de desaceleração do crescimento, a tendência ainda é de alta. “A gente observa um crescimento sustentado nas últimas seis semanas. Isso é reflexo tanto da circulação do VSR quanto do início da temporada do influenza”, explica a pesquisadora Tatiana Portella, da Fiocruz.
Leia mais: Escala 6×1 é alvo de críticas no Dia do Trabalhador