Os movimentos políticos estão de tal forma intensos que, a 11 meses do 1º turno da eleição para presidente da República, parece que vamos todos votar no próximo domingo. Poucos dias atrás, o desastrado senador Ciro Nogueira (PI), presidente da União Progressista, federação entre os partidos União Brasil e PP, disse que a direita tinha apenas dois nomes com chance de candidatura – observe-se que não era oportunidade de se ganhar, mas de se concorrer. Os dois nomes: Ratinho Jr. e Tarcísio de Freitas, governadores do Paraná e São Paulo. Nenhuma sílaba sobre os também gestores estaduais Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG) e Eduardo Leite (RS). E um deles acaba de ser catapultado ao centro das atenções.
Calado, Ciro é um poeta; falando, não chega a tanto. Nem a lugar algum. Poucos dias após sua aparvalhada participação na pré-campanha, doidinho para ser candidato a vice na chapa de Tarcísio, a situação mudou. Depois de o governador Cláudio Castro (RJ) colocar as polícias Civil e Militar fluminenses para combater o Comando Vermelho, o cenário mudou completamente. Como Castro quer ser senador, nunca comentou sobre interesse no Palácio do Planalto, a sede do Executivo federal, o protagonismo ficou para Caiado.
O governador goiano se destacou pela defesa firme das atitudes do colega do Rio e, mais ainda, pela ideia de formarem um consórcio pela paz. Claro, para obter a tranquilidade o melhor jeito é estar calibrado para fulminar quem quiser encrenca, fazendo jus à frase em latim “Si vis pacem, para bellum”, quer a paz?, se prepare para a guerra. Os 205 milhões de brasileiros que moram nos demais Estados ficaram com vontade de habitar o território gerido por quem trata bandido como bandido legalmente deve ser tratado.
Em vez de impedir a candidatura de Caiado, Ciro pode não ter mais uma federação a presidir. Ou seja, voltou a haver ordem na casa. Como o chefe de uma associação de grandes agremiações da política tem a audácia de se voltar contra a candidatura de um integrante da federação ao maior cargo público do País? Ciro significa exatamente nada em termos de votos, tanto que se tentar a reeleição no Piauí terá votos suficientes para ser a suplência de deputância. Porém, nada lhe custaria honrar a própria posição em seu feudo partidário e apoiar o pré-candidato.
O que falta a 99% dos pretendentes, está sobrando no governador goiano: ousadia, propostas, enfrentamento de pilantras. Ciro jamais contava que Caiado iria reagir à altura no instante seguinte à provocação de que apenas Ratinho Jr. e Tarcísio teriam chance de disputar a eleição presidencial. O pessoal do CV soltou granada dos drones? Caiado se armou do destemor e combateu o combate tipo as polícias. Ciro que volte para seu canto, de onde não deveria ter saído – a menos que seja para assumir que a federação já foi por ele implodida.
A frase lapidar, pedida em textos de O HOJE como tábua de salvação da vontade de Caiado ser presidente, resumiu a aspiração do brasileiro: o que garante a paz é o cala-boca definitivo em quem deseja a guerra. Uma boa forma de avaliar a eficiência desse jeito Caiado de fazer segurança pública está na reverência dos marginais de outras paragens. O criminoso de Minas Gerais só atravessa o Rio Paranaíba se for para fazer compras honestas e volta de rabo entre as pernas. As quadrilhas do Norte passam por Porangatu ou São Miguel do Araguaia mais silenciosas que o Vale do Amanhecer, para não serem notadas pelas Polícias goianas. Assim também são os marginais do Distrito Federal (e não há aqui qualquer referência aos detentores de mandato), que voltam da divisa para evitar confronto com as forças de segurança de Goiás.
Se as portas ficarem abertas pelo menos no tamanho de fresta que Caiado conquistou, vai ser difícil segurá-lo. Ele já conseguiu o apoio partidário (na marra, mas conseguiu). Já tem a atenção da mídia – no gogó, mas tem. E não pisca quando diz que será candidato a presidente da República, não a vice ou a senador. Os concorrentes não esperavam tamanha determinação. E eles viram pouca coisa. Imagine na hora que Caiado estiver em Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus mostrando como se faz para garantir a calma e a tranquilidade às famílias de bem. A revista “Veja” desta semana mostrou que Goiás é o Estado onde mais os índices de violência foram reduzidos. É só o começo.









