Bruno Goulart
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (UB), permanece um nome pouco familiar para a maior parte dos brasileiros, mesmo com esforço para se projetar nacionalmente. Dados da pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta quarta-feira (20), indicam que 53% da população não soube opinar sobre suas ações diante do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Apenas 16% consideram suas medidas corretas, enquanto 31% apontam que Caiado agiu mal. É o maior índice de desconhecimento entre as autoridades citadas no levantamento.
O cenário político, por sua vez, evidencia obstáculos significativos para a consolidação de Caiado como presidenciável em 2026. Apesar de movimentos públicos e articulações de bastidor, o governador saiu derrotado em duas frentes dentro da “superfederação” União Progressista (União Brasil + PP), oficializada nesta semana. Primeiro, não conseguiu convencer a federação a romper com o governo Lula. Em segundo lugar, tampouco garantiu apoio firme à sua pré-candidatura presidencial.
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Para o historiador e especialista em políticas públicas Tiago Zancopé, ouvido pelo O HOJE, essas derrotas refletem uma lógica complexa da política de Brasília. “Sim e não. Sim porque mostra que para os líderes mais orgânicos de Brasília, do União Progressista, ainda não é hora de desembarcar do governo. Isso porque desembarcar agora faz com que você tenha muito mais problemas para acomodar possíveis aliados num governo futuro”, afirmou. Zancopé destaca que abrir mão de cargos e posições estratégicas em favor de uma pré-candidatura ainda não consolidada representa um risco político elevado, o que reforça o paradoxo entre proximidade e distância do poder. “Ninguém agora em Brasília que tem uma liderança mais orgânica vai querer trocar o certo pelo duvidoso”, disse.
Conhecido no interior
O especialista também explica por que Caiado continua a ser um “ilustre desconhecido” para a maior parte do eleitorado. “O Ronaldo Caiado entra na política nos anos 1980 como liderança classista do agro brasileiro, especialmente na União Democrática Ruralista (UDR), cobrando políticas que garantissem respeito à propriedade privada e melhores condições para o produtor rural. Ele disputou presidência e governo do Estado, foi deputado federal reeleito várias vezes e, mais recentemente, senador e governador de Goiás. Mesmo assim, furar a bolha do eleitorado goiano e do agro não é fácil”, disse.
Zancopé aponta que o grande desafio de Caiado é se conectar com os eleitores das grandes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, onde suas ações estaduais podem ser percebidas como limitadas. “Acho que se Caiado fosse talvez o governador da Bahia, ou de São Paulo, Minas, Rio de Janeiro, talvez a análise fosse outra”, completa.
O historiador ainda ressalta que o chamado “interland” – conceito que descreve a conexão entre eleitores do interior do Brasil – ajuda a consolidar Caiado junto a esse público específico. Contudo, para crescer nacionalmente, o goiano precisaria expandir sua visibilidade e reforçar mensagens de segurança pública e programas sociais, de forma que seu trabalho seja reconhecido fora do eixo do agronegócio e do interior.
Por fim, Zancopé enfatiza que a estratégia de alianças locais e regionais será crucial. “Caiado precisa começar a frequentar Assembleias Legislativas, Câmaras, cidades, prefeitos e encontros de igreja. É aquele cardápio político que a gente já conhece. Isso pode ser um ponto positivo para ele, conclui. (Especial para O HOJE)
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