O Brasil se aproxima de um dos momentos mais relevantes de sua trajetória espacial. No dia 22 de novembro, às 15h, está previsto o lançamento do foguete sul-coreano HANBIT-Nano, produzido pela startup Innospace, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão. A operação marca a estreia do país no mercado global de voos comerciais e coloca novamente a base maranhense no foco de instituições de pesquisa, universidades e empresas do setor aeroespacial.
O lançamento do foguete integra a Operação Spaceward, coordenada pela Força Aérea Brasileira (FAB) em parceria com a Agência Espacial Brasileira (AEB). A Innospace foi selecionada após um edital público publicado pela AEB em 2020, que abriu a possibilidade de uso comercial da base para empresas nacionais e internacionais.
Primeiro passo da operação comercial
Para a Innospace, o foguete também representa a estreia do HANBIT-Nano, um foguete de dois estágios, 21,9 metros de comprimento e cerca de 20 toneladas. O equipamento utiliza propulsão híbrida — combinação de parafina com oxidante líquido — tecnologia classificada como mais limpa e de menor risco operacional. Segundo informações oficiais, o veículo poderá atingir cerca de 500 km de altitude.
A missão prevê transportar mais de cinco satélites e experimentos científicos desenvolvidos por instituições do Brasil e da Índia. Entre as cargas, estão os satélites FloripaSat-2A e FloripaSat-2B, ambos criados pelo SpaceLab da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). De acordo com o coordenador do laboratório, Eduardo Bezerra, os dispositivos têm como objetivo validar tecnologias em órbita. “Do ponto de vista tecnológico, demonstra a capacidade do país de desenvolver e testar soluções no espaço. Do ponto de vista acadêmico, é um orgulho ver estudantes participando de uma missão pioneira”, afirmou.
O pacote de cargas inclui ainda experimentos da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), que desenvolveu dispositivos com participação de estudantes da rede pública de Alcântara. Um desses projetos levará ao espaço mensagens escritas por alunos, inspirado na metáfora da “garrafa ao mar”. Para o professor Alex Oliveira Barradas Filho, vice-coordenador da iniciativa, a presença dos jovens no processo tem significado especial. “Ver jovens de Alcântara participando diretamente da integração do satélite é um marco histórico”, destacou.
Primeiro foguete comercial lançado do Brasil tem 21,9 metros de comprimento e pode transportar até 90 kg – Divulgação/INNOSPACE
Contrato, custos do foguete e presença internacional
O contrato entre a AEB e a Innospace foi firmado em 2022, dois anos após o chamamento público que abriu o CLA para uso comercial. Segundo o acordo, o envio de 1 kg de carga ao espaço custa cerca de US$ 33 mil. O Brasil contratou o transporte de 15 kg, totalizando aproximadamente US$ 495 mil.
A operação mobiliza cerca de 400 profissionais da Força Aérea Brasileira — entre militares e civis — e 60 técnicos sul-coreanos que acompanham as etapas finais do processo. De acordo com o tenente-brigadeiro do ar Ricardo Augusto Fonseca Neubert, diretor-geral do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), o lançamento tem valor simbólico para o programa espacial nacional. “Lançar um veículo estrangeiro no Brasil mostra que o país possui infraestrutura, conhecimento e autonomia para atuar em um dos segmentos mais estratégicos da atualidade”, afirmou.
O evento acontece 22 anos após a explosão do Veículo Lançador de Satélites (VLS), que deixou 21 mortos no CLA. Desde então, a base passou por ampliações, adequações técnicas e novos acordos de cooperação.
Além dos satélites da UFMA e da UFSC, a missão também transportará equipamentos de empresas brasileiras e de uma instituição da Índia, com foco em comunicação, coleta de dados ambientais e testes de tecnologias espaciais.
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