A indústria automotiva brasileira registrou um crescimento robusto nas exportações de veículos no primeiro semestre de 2025. Segundo dados divulgados pela Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o país embarcou 264.149 veículos entre janeiro e junho, o que representa um aumento de 59,8% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 165.300 unidades foram enviadas ao exterior. Em termos nominais, o volume exportado é o maior para o período desde 2018.
Argentina lidera com folga as compras de veículos brasileiros
O crescimento acelerado das exportações é creditado, quase integralmente, à surpreendente recuperação econômica da Argentina, principal destino dos veículos brasileiros. O país vizinho absorveu 157.350 unidades no primeiro semestre, um salto de 183,1% na comparação anual. Com esse desempenho, a Argentina respondeu por 59,6% do total das exportações do setor no período, ante 33,6% em 2024.
Em nota, a Anfavea destacou a concentração como ponto de atenção: “Quase todo esse crescimento dos embarques se deve à surpreendente recuperação do mercado argentino, o que coloca o Brasil numa situação de maior dependência do país vizinho para manutenção dos bons níveis de exportações, já que não houve altas relevantes nos envios para outros países.”
Queda no México e avanço em Colômbia e Chile
Essa dependência não é nova, mas se intensifica com a estagnação de outros mercados relevantes. O México, tradicionalmente o segundo maior comprador de veículos brasileiros, importou 36.989 unidades no semestre, queda de 18,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. O desempenho do México já era previsto pela indústria, diante da menor demanda local e da reconfiguração da produção mexicana voltada ao consumo interno, após medidas protecionistas nos Estados Unidos.
Por outro lado, alguns mercados da América Latina apresentaram crescimento. A Colômbia comprou 19.939 veículos brasileiros, alta de 38% sobre 2024, e o Chile importou 12.695 unidades, também com aumento de 38%. Já o Uruguai, quarto maior destino, manteve relativa estabilidade, com leve retração de 0,9%, totalizando 16.607 unidades.
Maio bate recorde financeiro de exportações desde 2017
Em termos financeiros, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) registrou um total de US$ 570 milhões em exportações de automóveis de passageiros em maio de 2025, valor 86% superior ao de maio de 2024. Trata-se do melhor resultado para um mês de maio desde 2017. A Argentina foi, novamente, o principal responsável: US$ 384,1 milhões em compras, contra US$ 125,7 milhões no mesmo mês do ano anterior.
A Colômbia ampliou suas importações de US$ 34,9 milhões em maio de 2024 para US$ 82,1 milhões em maio deste ano. O Chile, com forte recuperação, aumentou suas compras em 220%, somando US$ 20 milhões no mês.
Indústria automotiva acelera nas exportações
Concorrência chinesa avança na América Latina
No entanto, o desempenho externo positivo contrasta com a crescente concorrência no mercado latino-americano, especialmente com a China. De acordo com a Anfavea, enquanto em 2013 o Brasil detinha mais de 20% do mercado de exportação de veículos na região (com menos de 5% de participação da China), em 2024 os números se inverteram: os veículos chineses detêm 27,9% da fatia, contra 13,9% dos brasileiros.
“A competitividade da indústria nacional está em risco. Precisamos de políticas que garantam equilíbrio competitivo com países que subsidiam fortemente sua produção automotiva, sobretudo nos segmentos eletrificados”, afirmou Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea.
Produção desacelera após início aquecido
Enquanto as exportações registraram alta expressiva, a produção doméstica de veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus) teve alta moderada de 7,8% no acumulado do semestre, com 1.226.663 unidades produzidas contra 1.137.881 no mesmo período de 2024.
No entanto, o ritmo desacelerou nos últimos meses. Em junho, a produção caiu 6,5% em relação a maio, que já havia registrado recuo de 5,4% ante abril. Foram produzidas 200.764 unidades em junho, frente a 214.749 em maio.
Segundo analistas do setor, a retração mensal da produção pode estar relacionada ao ajuste dos estoques e à instabilidade do mercado interno, que ainda sofre os efeitos dos juros elevados e do crédito restrito ao consumidor.
Empregos em queda e alerta sobre balança comercial
Apesar da performance nas exportações, a geração de empregos nas montadoras voltou a registrar perdas. Em junho, 462 postos de trabalho foram eliminados, deixando o total de empregados nas fabricantes em 108.861 pessoas, segundo levantamento da Anfavea.
Outro fator que preocupa o setor é a balança comercial negativa no segmento automotivo. As importações de veículos também cresceram em 2025. No primeiro bimestre, chegaram ao país 75 mil veículos, aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano anterior. A maior parte veio da China, composta principalmente por modelos híbridos e elétricos.
A penetração dos veículos importados — especialmente eletrificados — tem gerado tensão no setor. Atualmente, um em cada cinco carros vendidos no Brasil é fabricado no exterior. A Anfavea tem pressionado o governo pela antecipação da alíquota máxima de 35% do imposto de importação para híbridos e elétricos, prevista apenas para 2026.
“No Brasil, ainda não há produção significativa de veículos elétricos. As tecnologias híbridas existentes são limitadas a poucos modelos e com baixo índice de nacionalização. Enquanto isso, as montadoras chinesas se aproximam da produção local, o que pode consolidar sua liderança na região nos próximos anos”, alerta o relatório da entidade.
Apesar do anúncio de mais de R$ 100 bilhões em investimentos para eletrificação da frota nacional até o fim da década, os primeiros resultados devem demorar. Enquanto isso, o país segue exportando majoritariamente veículos a combustão, o que pode se tornar um gargalo à medida que os mercados internacionais endurecem regras ambientais.
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