O cenário político da Bolívia mudou de forma abrupta neste domingo (17), quando o Movimento ao Socialismo (MAS), no poder há quase duas décadas, sofreu a pior derrota eleitoral de sua história. Os resultados preliminares divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia, confirmaram um desempenho pífio da legenda que foi conduzida por Evo Morales e, nos últimos anos, comandada pelo atual presidente Luis Arce.
Fragmentado por disputas internas, o partido apresentou o ex-ministro Eduardo del Castillo como candidato oficial, mas ele obteve apenas 3,2% dos votos. Outro nome associado à esquerda, Andrónico Rodríguez, alcançou 8,15%. Nenhum deles, porém, se aproximou da disputa real, dominada pelo senador Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão, e pelo ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da aliança conservadora Aliança Livre. Ambos avançaram para o segundo turno — um acontecimento inédito na história democrática boliviana.
De acordo com a apuração parcial, Paz liderou a corrida com 32,18%, seguido por Quiroga, com 26,94%. Del Castillo ficou distante, com os já mencionados 3,16%. O resultado expõe a dimensão da crise no MAS, incapaz de unir as correntes ligadas a Morales e Arce.
Em um discurso transmitido ao vivo ainda na noite de domingo, Rodrigo Paz comemorou o resultado como um divisor de águas. “A Bolívia não pede apenas um novo governo, pede uma transformação do sistema político”, declarou, diante de apoiadores que entoavam palavras de ordem pela “renovação”. Quiroga, por sua vez, reconheceu o avanço ao segundo turno, elogiou a campanha do adversário e antecipou um embate “decisivo” em outubro.
Arce, que não concorreu à reeleição, divulgou comunicado breve, no qual afirmou que “a democracia triunfou”, apesar do revés de seu partido. Evo Morales, impedido de disputar o pleito, havia convocado seus seguidores ao boicote, mas os apelos não surtiram efeito: a participação eleitoral foi estável, segundo o TSE, e observadores internacionais relataram normalidade, apesar de pequenos incidentes em Cochabamba, reduto do ex-presidente.
O desempenho de Paz surpreendeu, já que pesquisas indicavam favoritismo de Quiroga e do empresário Samuel Doria Medina, que acabou em quarto lugar e anunciou apoio ao senador democrata-cristão no segundo turno.
O voto contra o MAS pode ter se consolidado como um recado da população diante da pior crise econômica em quatro décadas.
A inflação, que dobrou de 12% em janeiro para 23% em junho, agravou a escassez de combustíveis e dólares no mercado interno. Muitos bolivianos recorreram até mesmo às criptomoedas como proteção contra a desvalorização.
Com o revés histórico, a Bolívia entra em uma fase de transição política incerta. Quiroga promete cortes drásticos nos gastos públicos e ruptura com alianças mantidas pelo MAS com países como Venezuela, Cuba e Nicarágua. Já Paz defende descentralizar o poder e adotar um modelo em que metade dos recursos públicos seja controlada pelos governos regionais.
Independentemente de quem vencer o segundo turno, os resultados deste domingo encerram uma era. Pela primeira vez desde 2006, o MAS não será protagonista direto da corrida presidencial. O país andino agora se prepara para escolher entre dois nomes de centro-direita e direita, em um pleito que pode redefinir sua trajetória política e econômica nas próximas décadas.
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