A tramitação da PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados gerou uma situação difícil para o União Brasil e para os parlamentares que votaram a favor. Isso ocorre não só por conta do caráter do conteúdo que o projeto carrega, mas também pelas investigações que vieram à tona logo após a aprovação do texto pelos parlamentares, inclusive por boa parte da bancada do partido de Ronaldo Caiado, governador de Goiás e pré-candidato à Presidência da República.
Antônio Rueda, presidente nacional do União Brasil, está na mira da Polícia Federal por suposto envolvimento em ações da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). A suspeita é de que aviões operados pela organização criminosa pertencem ao dirigente partidário, mas Rueda nega qualquer ligação com o caso. Essa revelação foi o estopim para uma série de ocorrências no cenário político do País, uma vez que o partido votou em peso para a aprovação da blindagem de parlamentares e, também, de presidentes de partidos políticos.
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Assim, ao juntar as peças do quebra-cabeça, percebe-se que a efetivação do projeto seria perfeito para a situação em que Rueda se encontra. Em contrapartida, o Senado representa um obstáculo que impede o presidente do partido de ter esperança quanto ao seu futuro, pois o que se sabe é que o texto não será aceito por parte considerável dos senadores que apresentam posições firmes, principalmente quando o assunto é a avaliação do projeto pela Comissão de Constituição e Justiça da Casa (CCJ).
Surgiram questionamentos em relação ao posicionamento favorável do União Brasil frente à avaliação da blindagem de parlamentares e presidentes de partidos, pois há suspeitas de que membros do partido possam ter pressionado deputados para que parlamentares votassem a favor da proposta.
Encaixe das peças
O imbróglio pode explicar o arrependimento que a deputada federal Silvye Alves (União Brasil) diz ter sentido após votar a favor da PEC da Blindagem. Nas palavras de Silvye, “a partir desse momento, eu comecei a receber muitas ligações de pessoas influentes do Congresso Nacional, se é que vocês me entendem”. “Ligaram dizendo que, [havendo] a votação contra, eu sofreria retaliações. Enfim, eu não sei que tipo de retaliação um deputado federal poderia sofrer dentro da Câmara dos Deputados, e eu fui covarde”, revela a parlamentar, que anunciou a saída da sigla.
O sociólogo Jones Matos fala sobre a possibilidade de Rueda ter feito pressão sobre deputados para aprovarem o projeto que pode favorecê-lo frente a uma investigação mais acirrada sobre seu envolvimento com facções. “Eu entendo que a questão da tentativa de blindar os parlamentares, sobretudo os deputados, não vai prosperar. Tanto é que o Senado já teve uma posição dura, firme e, provavelmente, vai enterrar esse projeto lá na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)”, comenta Matos ao O HOJE.
O sociólogo afirma que o União Brasil cometeu um erro ao ser favorável ao texto. “Os partidos deram um tiro no pé, principalmente o União Brasil, inclusive para proteger o presidente da sigla. Será que não foi pressão do próprio Rueda para tentar construir a imunidade dele e de outros? Eu entendo que o Ronaldo Caiado está em um momento muito difícil por ele ser do partido.”
Além da situação pouco favorável em que se encontra o chefe do Executivo goiano, outro ponto que gera especulações tem a ver com a relação entre a federação União Progressista frente a ascensão das polêmicas em torno do partido dirigido por Rueda. O União Brasil deu 53 votos a favor da PEC no primeiro turno da votação e 52 na análise definitiva na Câmara.
Contrário à PEC da Blindagem
Vale lembrar que, na tarde de quinta-feira (18), Caiado criticou a aprovação da PEC na Câmara. “A PEC da Blindagem, se for mesmo aprovada, representa o divórcio do Congresso Nacional com o povo brasileiro e terá consequências nefastas para a política nacional. Ela é um convite para o crime organizado entrar no Congresso pela porta da frente, disputando voto nas urnas, para proteger os chefes das facções do alcance da justiça. Espero que o Senado corrija o erro da Câmara e rejeite a proposta”, escreveu o governador goiano no X (antigo Twitter).
O cientista político Lehninger Mota diz acreditar que Caiado não será afetado de forma profunda por conta das ocorrências em questão. Porém, o estudioso em política avalia que a federação União Progressista, formada pelo União Brasil e pelo Progressistas, tende a apoiar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), caso o político confirme seu interesse em disputar a Presidência da República.
“Eu acho que essas denúncias não afetam o Caiado, o governador tem uma vida pública favorável por nunca ter se envolvido em escândalo de corrupção. Então, é natural que o que acontecer com algum membro do partido vai refletir nele. Eu tenho a impressão que a federação União Progressista está mais inclinada a apoiar um candidato como o Tarcísio do que manter o projeto do Caiado”, pontua Mota ao O HOJE. (Especial para O HOJE)
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