A blindagem de parlamentares da Câmara dos Deputados levantou debates calorosos, mas o que realmente chamou atenção, talvez mais do que o próprio conteúdo do projeto, foram os votos favoráveis que partiram de deputados petistas. Sabe-se que o Partido dos Trabalhadores é caracterizado por ser uma organização que preza por tomar decisões com base em negociações, mesmo que isso envolva grupos políticos com princípios muito diferentes dos da sigla. Porém, a adesão de 12 deputados petistas à PEC da Blindagem ultrapassou os limites do partido, o que gerou repercussões negativas e, inclusive, desentendimentos entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o presidente nacional do partido, Edinho Silva.
A reverberação do texto foi nacional. Um dos resultados foram os atos realizados no dia de ontem (21) por organizações contrárias à decisão do parlamento de blindar os deputados. Nesse sentido, o partido de Lula pode não ser visto com bons olhos até por seus próprios apoiadores que, pela lógica, poderiam esperar que todos os deputados petistas votassem contra.
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Não é de agora que uma ala do petismo favorece o bolsonarismo na Câmara. Figuras importantes, como Gleisi Hofmann, ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, já deram indícios de que o partido tende a apoiar uma proposta menos punitivista da anistia. Mais um motivo que fez com que Lula se desentendesse com o grupo, apesar de o chefe de Estado nacional apoiar a redução de pena para os manifestantes dos atos antidemocráticos que ocorreram no dia 8 de janeiro de 2023.
PT em divisão
Sobre a votação da PEC da Blindagem, “nenhum parlamentar negociou por interesse pessoal”. “O objetivo foi manter um processo de negociação que garantisse a derrubada da anistia”, afirmou Edinho Silva, presidente do PT. A atitude amarga foi justificada pelo deputado Kiko Celeguim (PT-SP), que defendeu seu voto favorável à blindagem em favor de pautas de interesse do governo. Celeguim disse acreditar que bastaria essa atitude para pôr um fim na pauta de anistia, principal exigência da oposição na Câmara. “Nós precisamos dos votos do Centrão para aprovar as nossas pautas e eles precisavam de uma sinalização do PT para meio que reduzir os danos da aprovação dessa PEC”, justifica o petista.
Já a deputada federal Adriana Accorsi (PT) foi contrária ao projeto que, para ela, é considerado uma “vergonha nacional”. “A Câmara aprovou a PEC da Blindagem, um ataque à democracia. Enquanto isso, a pauta que realmente interessa ao povo, a isenção do imposto de renda, que beneficiaria milhões de brasileiras e de brasileiros, foi deixada de lado. Eu votei não, porque o Congresso deve servir à maioria, e não aos privilégios de poucos”, ressalta a parlamentar.
Goiás à favor da PEC
A Câmara possui 17 deputados goianos e apenas Adriana, o deputado Rubens Otoni (PT) e a deputada Flávia Morais (PDT) não cederam ao projeto. De olho nas ações dos petistas que colaboraram para a aprovação do texto, foi inevitável a reação carregada de críticas nas redes por parte da militância desapontada que manifestou sua contrariedade.
“Alguém que conhece o modus operandi do bolsonarismo e do Centrão acredita mesmo que eles vão recuar na ideia da anistia? Mesmo a tal da anistia light (sem Bolsonaro) não precisa de negociação, porque o Centrão não está interessado em anistiar Jair Bolsonaro (PL) porque querem Tarcísio [de Freitas (Republicanos-SP)] candidato”, reagiu Emídio de Souza (PT-SP).
O deputado demonstrou insatisfação ao dizer que uma das piores coisas para um partido é ser contrário aos interesses da militância e deixá-la sem discurso e constrangida. Dessa forma, identifica-se que há quem pense que o projeto de anistia não vai perder força apenas porque parte do petismo aderiu à blindagem de parlamentares.
Por isso, fica difícil entender como deputados da base, sobretudo petistas, apostaram nessa ideia que mais pode servir de combustível para o avanço da anistia do que colaborar para sua estagnação. Uma nova chance de união da sigla pode surgir no decorrer desta semana, após o manifesto da esquerda nas ruas contra o projeto de proteção parlamentar. (Especial para O HOJE)
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