O setor de aviação agrícola brasileiro registrou crescimento de 8% no último ano, consolidando-se como uma das ferramentas estratégicas para o agronegócio nacional. Os dados foram apresentados durante o Congresso da Aviação Agrícola do Brasil, realizado em Mato Grosso, evento que reuniu empresários, pesquisadores, autoridades e representantes de mais de 12 países.
A expansão acompanha um movimento global de modernização tecnológica e de diversificação de uso das aeronaves. Hoje, além da pulverização de lavouras, elas também são empregadas no combate a incêndios florestais e em operações de monitoramento ambiental. “O setor cobre 140 milhões de hectares e atende mais de 29 culturas. É uma atividade que vai além da agricultura e se conecta diretamente à segurança alimentar e ambiental do país”, destacou um dos diretores do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag).
Frota em alta e papel do Brasil no cenário mundial
O Brasil fechou 2024 com 2.722 aeronaves agrícolas registradas, crescimento de 7,2% no ano — o maior índice desde 2012. Desse total, 1.648 pertencem a empresas especializadas, 1.054 estão em fazendas, cooperativas e usinas, e 20 são operadas por órgãos públicos e instituições de ensino. O país possui a segunda maior frota mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, mas com um diferencial: enquanto os norte-americanos concentram suas operações em três ou quatro meses por ano, devido ao clima, no Brasil as aeronaves trabalham de forma contínua, o que garante maior volume de operações.
Entre 2007 e 2024, a frota praticamente dobrou, com um salto de 1.300 para quase 2.800 aviões. O destaque está no Centro-Oeste e no Sul, que concentram a maior parte das operações. Já o Nordeste ainda enfrenta entraves, como restrições legais e resistência social.
Drones, aviões elétricos e biocombustíveis transformam a aviação agrícola
Nordeste: potencial e barreiras
Atualmente, a região nordestina conta com 293 aeronaves distribuídas em seis estados. A Bahia lidera com 173 unidades, seguida por Maranhão (63) e Piauí (41). O avanço, no entanto, é desigual: enquanto o Matopiba (área formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) amplia o uso da aviação agrícola em culturas como soja e algodão, estados ligados à produção de cana-de-açúcar apresentam baixa adesão.
O caso mais emblemático é o do Ceará, onde uma lei aprovada em 2018 proibiu a pulverização aérea. Mesmo após a liberação do uso de drones em 2024, a aviação convencional segue proibida, o que impactou a produção de banana e elevou os custos de mão de obra. “O Nordeste tem grande potencial para expandir, especialmente na cana-de-açúcar e no combate a incêndios, mas ainda precisa superar barreiras regulatórias e de aceitação”, avalia a direção do Sindag.
Tarifas e risco de retaliações
Apesar do crescimento, o setor acompanha com preocupação as tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos. O tarifaço de 50% aplicado pelos norte-americanos sobre carnes, frutas, madeira e café pode gerar efeitos indiretos sobre a aviação agrícola. A maior parte das aeronaves, motores e peças utilizadas no Brasil vem daquele país, e qualquer retaliação pode comprometer o funcionamento da frota.
“O risco é duplo: redução da demanda por parte dos produtores afetados pelas tarifas e possível dificuldade de reposição de insumos aeronáuticos. Sem acesso a peças e componentes, o agro perde eficiência e o país perde capacidade de resposta”, alertou o diretor do sindicato em reunião com o Ministério da Agricultura. O governo federal informou que negocia com Washington, busca novos mercados e calibra eventuais contramedidas para preservar setores estratégicos.
Inovação tecnológica e sustentabilidade
As inovações apresentadas no congresso reforçaram a tendência de modernização. Aeronaves elétricas e modelos autônomos capazes de pulverizar com maior precisão ampliam as opções para produtores. O uso de drones também cresce, embora ainda tenha limitações: um avião cobre até 450 hectares por hora, enquanto um drone alcança no máximo 10 hectares no mesmo período. A complementaridade, no entanto, já é vista como o futuro da atividade.
Outro diferencial tecnológico é a adoção de aeronaves movidas a biocombustível, como o etanol, que reduzem custos e emissões de carbono. Segundo representantes do setor, a aviação agrícola moderna contribui para evitar a compactação do solo, otimiza o uso de insumos e reduz o desperdício de água.
Formação de pilotos e mercado de trabalho
A expansão da frota elevou também a demanda por mão de obra especializada. A formação de pilotos agrícolas leva cerca de dois anos e exige treinamento específico em pulverização. Atualmente, existem três grandes centros de capacitação no país, localizados em Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo.
Os salários acompanham a responsabilidade: em média, um piloto agrícola recebe entre R$ 40 mil e R$ 50 mil por safra, mas os ganhos anuais podem ultrapassar R$ 400 mil quando há participação nos lucros. A falta de profissionais tem levado empresas a investir em capacitação e retenção de talentos.
Perspectivas
O otimismo para os próximos anos é evidente. Estimativas indicam que a edição de 2025 do congresso supere seis mil visitantes e mantenha o ritmo de negócios acima de R$ 250 milhões. Empresas brasileiras já projetam entregas de novas aeronaves a partir de 2026 e investem em redes regionais de manutenção.
“O setor se fortaleceu mesmo em meio a desafios econômicos e regulatórios. A expectativa é que o Brasil continue ampliando sua liderança mundial em operações aeroagrícolas, unindo eficiência, inovação e sustentabilidade”, resume um dos executivos presentes ao encontro.
Com a agricultura em expansão e a crescente pressão por produtividade e sustentabilidade, a aviação agrícola se firma como peça-chave da competitividade do agronegócio brasileiro.
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