O fortalecimento de um governo fica evidente quando a gestão é capaz até mesmo de desfazer vínculos com partidos que, antes, eram essenciais para o seu êxito. É o caso do atual momento em que o governo Lula se encontra, conjuntura essa que possibilita que o petista desfaça ligações com partidos como MDB, União Brasil e PSD por meio da demissão de membros que possuíam algum tipo de ligação com essas organizações.
O motivo disso é algo que reforça ainda mais o poder adquirido pela gestão petista: a posição contrária desses partidos em relação à Medida Provisória de compensação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que cobrava impostos de grandes instituições, sobretudo as financeiras. Assim, fica fácil entender a revolta transmitida por meio das falas de Lula relativas ao arranjo atual da Câmara dos Deputados.
Presidente Lula faz críticas ao Congresso Nacional durante evento realizado no Rio de Janeiro – Créditos: Ricardo Stuckert
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“Hugo [Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara dos Deputados] é presidente deste Congresso e ele sabe que esse Congresso nunca teve a qualidade de baixo nível como tem agora. Aquela extrema direita que se elegeu na eleição passada é o que existe de pior”, disse o presidente em evento do Dia do Professor, que contou com a participação do presidente da Casa Baixa do Congresso, recebido com vaias e gritos de “sem anistia”.
Lula critica a população e diz que a configuração do Congresso é consequência da escolha de cada cidadão no momento do voto. “A cara do Congresso Nacional é o resultado da consciência política que vocês tiveram no dia das eleições. Depois não adianta reclamar.”
A oposição rebate ao afirmar que a gestão petista não consegue lidar com opiniões divergentes. “É inconcebível que o presidente da República, em pleno exercício do cargo, ataque o Congresso Nacional e desrespeite a representação popular, chamando este de ‘o pior Congresso da história’. A fala de Lula é irresponsável, antidemocrática e revela o autoritarismo de um governo que não tolera oposição”, reage o líder da oposição na Câmara, deputado federal Zucco (PL-RS).
O sociólogo Jones Matos vê com bons olhos a ação do governo em efetuar o desligamento com partidos que não colaboram para o andamento dos projetos encabeçados pela gestão petista. “Lula está aproveitando o momento do fortalecimento de sua imagem, de seu governo, das entregas e, evidentemente, das circunstâncias da política que acabaram melhorando e até fortalecendo o governo para encaminhar e fazer algumas mudanças na gestão.”
Jogo político de Lula
De acordo com Matos, é necessário fazer encaixes e abdicar de relações com determinados partidos para que o governo consiga efetivar seus planos e entregá-los à população. “Ele está fazendo o jogo da política, de quem quer fazer entrega, porque se esses grupos não apoiarem a gestão, ele vai fazer uma mudança, mudar o eixo do governo. Boa parte dos cargos ocupados pelo governo são parlamentares da direita mesmo.”
Em contrapartida, o marqueteiro político Leo Pereira diz acreditar que Lula precisa melhorar sua gestão no sentido de estabelecer uma maior harmonia entre os ministérios. “Penso que Lula precisa governar. Do ponto de vista da ação executiva do governo com uma base e ministérios unidos num projeto coletivo bem planejado e leal, ainda não governou.”
Para Pereira, há caminhos que podem ser trilhados por Lula para melhorar a gestão. “Há meios, mas está faltando inteligência e coragem ao governo. Colocar em curso uma ação executiva inovadora é urgente para o projeto 2026. Até então, não há.”
Jones destaca que os partidos afetados pelo ato de demissões de Lula não apoiavam o projeto que determinava a cobrança de impostos de grandes empresas. “O governo tentou construir uma governabilidade com esses grupos que não estão fazendo entregas, haja visto a votação do projeto sobre as alíquotas de impostos com bets e com mercado financeiro.”
O sociólogo finaliza ao revelar o que pensa sobre os partidos que permanecerão ao lado de Lula. “Eu entendo que boa parte do Centrão, sobretudo do Norte e Nordeste do Brasil, vai acompanhar o Lula, porque o governo é muito forte nessas regiões”, pontua Matos ao O HOJE. (Especial para O HOJE)