Dados divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 213 mil pessoas com 15 anos ou mais ainda são analfabetas em Goiás. A taxa de analfabetismo no Estado é de 6,2%, patamar que, embora inferior à média nacional (5,4%), mantém-se estável desde 2019 e escancara os desafios persistentes na inclusão educacional de jovens, adultos e, principalmente, idosos.
A situação é ainda mais crítica quando analisado o recorte etário. Entre a população com 60 anos ou mais, o índice de analfabetismo salta para 14%, evidenciando a herança de um sistema educacional excludente nas décadas passadas. Enquanto os mais jovens têm maior acesso à educação formal, os idosos permanecem à margem dos avanços, com sérias implicações para sua cidadania, autonomia e participação social.
Entre os fatores que explicam essa realidade estão o abandono escolar precoce, o trabalho infantil, a pobreza estrutural e a escassez de políticas públicas continuadas de alfabetização para adultos. A pesquisa aponta ainda desigualdades regionais e raciais. Na zona rural, por exemplo, os índices são mais altos que nos centros urbanos, agravando o cenário em comunidades tradicionais e populações vulneráveis.
O caso dos quilombolas rurais de Goiás é emblemático: segundo o Censo 2022, mais de 22% dessas pessoas não sabem ler ou escrever — uma taxa mais que três vezes superior à média estadual. A carência de escolas próximas, a ausência de transporte escolar e a falta de programas permanentes de educação para adultos contribuem para a exclusão educacional nessas comunidades.
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Diante desse panorama, iniciativas como a Educação de Jovens e Adultos (EJA) ganham ainda mais relevância. Em Goiânia, a Prefeitura tem reforçado a busca ativa por novos alunos para a EJA desde janeiro de 2024, mesmo após a reestruturação do programa, que transferiu os anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º) para a Secretaria Estadual de Educação. A medida, segundo a gestão municipal, busca economizar recursos e ampliar o acesso a programas técnicos e bolsas estaduais, mas foi criticada por entidades sindicais e educadores, que alertam para o risco de evasão e descontinuidade pedagógica.
A Secretaria Municipal de Educação (SME) de Goiânia mantém atualmente turmas voltadas para a alfabetização e os anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano). A mobilização ocorre por meio de visitas domiciliares, campanhas nas redes sociais e ações em espaços públicos, com o objetivo de incentivar a matrícula de jovens e adultos que não concluíram os estudos na idade adequada.
A EJA em Goiânia oferece estrutura adaptada à rotina dos estudantes, incluindo passe livre estudantil, merenda noturna, acompanhamento pedagógico e acesso à meia-entrada cultural. A meta é garantir que a alfabetização seja, além de um direito, uma ponte para o exercício da cidadania e melhoria das condições de vida.
A Pnad Contínua revela ainda que, apesar da estabilidade nas taxas de analfabetismo em Goiás, houve melhora nos níveis de escolarização: a proporção de pessoas com 25 anos ou mais que concluíram pelo menos o ensino médio aumentou de 52,3% para 53,6% entre 2022 e 2023. No entanto, esse avanço ainda é desigual e não contempla plenamente os públicos historicamente marginalizados.
A SME reforça que a matrícula na EJA pode ser feita por maiores de 15 anos, mediante apresentação de documento de identificação, comprovante de residência e histórico escolar. Para aqueles sem histórico, é realizada uma avaliação diagnóstica para inserção adequada na etapa de ensino.
Especialistas apontam que, para além de campanhas pontuais, é necessário o fortalecimento de políticas permanentes de educação de jovens e adultos, com foco especial nas zonas rurais, comunidades quilombolas e idosos. A alfabetização dessas populações não é apenas uma questão de ensino, mas também de reparação histórica e inclusão social.
Em Estados como Mato Grosso do Sul, por exemplo, a taxa de analfabetismo já é de apenas 4,3%, o que evidencia o impacto positivo de políticas educacionais estruturadas e continuadas. O desafio em Goiás, portanto, é aliar os dados preocupantes à ação pública concreta, garantindo que nenhum goiano seja privado do direito básico de ler e escrever.
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