Bruno Goulart
Ex-governador de Goiás por quatro mandatos e atual presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo voltou a se posicionar sobre os rumos do Estado em entrevista exclusiva ao programa Momento Político do O HOJE. Em tom firme, o ex-chefe do Executivo estadual fez um balanço de sua trajetória política, defendeu o legado tucano no Brasil e em Goiás e não poupou críticas ao modelo adotado pela atual gestão. Para Marconi, seus governos se diferenciam pela capacidade de planejamento e execução de políticas públicas de longo prazo, ao contrário do que avalia ser a marca do governo de Ronaldo Caiado (União Brasil).
“Goiás está colhendo o que foi plantado, o que foi planejado lá atrás. Você não vai para frente se não tiver estratégia definida. A minha observação e a minha crítica ao atual modelo de governo é que faltou isso. Faltou estratégia, sobrou discurso. Faltou planejamento, sobrou improviso”, declarou.
Obras, programas e legado
Marconi usou a entrevista para listar entregas de seus quatro mandatos e rebater a acusação de ter deixado obras inacabadas. “A obrigação do governo que entra é terminar o que foi começado. Afinal de contas, é desperdício de dinheiro quando você não termina”, destacou.
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O tucano citou como exemplo programas sociais como o Bolsa Universitária, o Banco do Povo e o Vapt Vupt, além da construção de 88 estações de tratamento de esgoto, 63 colégios militares, mais de 150 escolas padrão século XXI, 90 unidades do Vapt Vupt e milhares de quilômetros de rodovias pavimentadas.
Segundo o ex-governador, esses investimentos tiveram reflexo direto na economia. “O PIB de Goiás, na época em que assumi, era de R$ 17 bilhões. Nós deixamos com R$ 220 bilhões, mais de 12 vezes de crescimento. As exportações foram multiplicadas por 28 vezes. A industrialização deu um salto estrondoso em Goiás”, ressaltou.
Futuro político
Jornalista Wilson Silvestre entrevista ex-governador de Goiás. Foto: O HOJE
No cenário estadual, Marconi avalia que Caiado quase foi derrotado em 2022. O ex-governador lembra que, somados, os votos da oposição chegaram a 49,5% e poderiam ter levado a disputa ao segundo turno. Para o tucano, isso mostra que existe espaço para uma alternância de poder em Goiás.
Sobre rumores de que está isolado politicamente, o presidente nacional do PSDB afirma que prefeitos tendem a gravitar em torno do governo estadual por receio de retaliações. “Tem muito prefeito que continua dizendo que é da base do governo com medo. Medo de perseguição, medo da polícia fazer busca e apreensão, medo de ser retaliado com falta de obras, que aliás quase não tem”, criticou.
Ainda assim, o tucano garante que o eleitor goiano tem comparado os modelos de gestão. “Desde que eu saí do governo, há 7 anos e meio, as pessoas foram refletindo e analisando. Caso o PSDB entre no páreo, teremos um projeto para Goiás pensando nos próximos 30 anos. O que está acontecendo hoje veio lá de trás”, disse.
Dívidas e contas públicas
Outro ponto polêmico enfrentado por Perillo foi a acusação de que teria deixado Goiás endividado. Ele rebateu com números. “Peguei o governo numa situação dez vezes pior do MDB há 28 anos. Em 1999, tínhamos quatro folhas de pagamento em atraso e a maior dívida proporcional do Brasil. Ao final dos meus governos, Goiás devia menos de uma vez à União, 0,9. Essa é a realidade”, afirmou.
O tucano ainda destacou que implantou medidas que valorizaram o funcionalismo. “Fui o governador que coloquei o 13º para ser pago no mês do aniversário do servidor desde julho de 1999. E a partir de 2000 comecei a pagar o salário no mês vencendo, antes do mês terminar. Isso foi uma revolução”, declarou.
Críticas ao Fundeinfra
Ao comentar o Fundo Estadual de Infraestrutura (Fundeinfra), criado no atual governo, Perillo foi incisivo. Para Marconi, a cobrança de 1,5% da renda bruta dos produtores rurais é prejudicial ao setor e carece de transparência.
“Caiado disse num dia que jamais criaria a taxa do agro e no outro criou. Hoje, centenas de produtores estão em dificuldade, muitos em recuperação judicial. Além disso, o pior é que esse fundo repassa dinheiro para um privado executar obras sem licitação. Isso é um absurdo, é criminoso”, criticou.
PSDB e o cenário nacional
Ao falar sobre a trajetória do partido que comanda nacionalmente, Marconi ressaltou o papel histórico da legenda em reformas estruturais no Brasil. “Ninguém discorda que o PSDB e os governos do PSDB foram estruturadores desse Brasil novo. Foi um divisor de águas da história do Brasil”, afirmou.
O ex-governador lembrou que conquistas como o Plano Real, os medicamentos genéricos, o Fundef, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a criação de programas sociais marcaram a gestão tucana. “O PSDB foi o partido da Lei de Responsabilidade Fiscal, dos programas sociais, do fim da inflação, do celular na mão de todo brasileiro. Nós governamos o País e implementamos políticas estruturantes”, pontuou.
Apesar disso, Marconi reconhece que o partido perdeu espaço político nos últimos anos. Segundo o presidente nacional da sigla, a ascensão do bolsonarismo alterou a polarização que antes existia entre PSDB e PT. Ainda assim, diz estar empenhado em reorganizar a legenda, com foco em aumentar a bancada federal e lançar candidatos a governos estaduais.
Planejamento como marca
Para Marconi, o grande diferencial de seus governos foi a capacidade de planejar Goiás para o futuro. O tucano sustenta que a atual administração privilegia a propaganda em vez de ações concretas. “Faltou uma visão de longo prazo e sobrou narrativa política que não condiz com a realidade. Nós fizemos governos planejados, pensando lá na frente, e é por isso que Goiás colhe os frutos até hoje”, afirmou.
O ex-governador encerrou a entrevista em tom de reflexão: “Não estou aqui para fazer críticas pessoais, mas para debater a realidade. O povo goiano tem discernimento e sabe comparar. Nossos governos plantaram, planejaram e fizeram. Essa é a diferença”. (Especial para O HOJE)
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