O último fim de semana foi marcado pelo reencontro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). O chefe do Executivo paulista abrigou Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes — que se tornou o QG de preparação do ex-presidente para o depoimento que irá prestar no Supremo Tribunal Federal (STF), onde é réu por tentativa de golpe de Estado, nesta semana.
O movimento de Tarcísio, de receber Bolsonaro na residência oficial do Executivo paulista, foi visto como um gesto de reaproximação entre o governador de São Paulo e o ex-presidente. Sobretudo por acontecer em um momento delicado, já que o ex-chefe do Executivo, nas vésperas da audiência no Supremo, se reuniu com seus advogados para tratar da estratégia de defesa na oitiva da Suprema Corte.
Recentemente, Tarcísio ganhou a desconfiança de parte do bolsonarismo. Durante evento que marcou a filiação do secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, que saiu do PL para voltar ao PP, o governador adotou um tom que não caiu nas graças dos bolsonaristas mais fiéis. Cercado de lideranças do Centrão, a leitura é a de que o evento foi um ato político do governador e contou com o boicote de parlamentares ligados a Bolsonaro — justamente pela expectativa de que o evento fosse um palanque para o governador paulista.
Além disso, os acenos de Bolsonaro em apoio a uma possível candidatura de um membro do núcleo familiar — que nos bastidores é tratado como sua preferência — deram margem para especulações da relação com Tarcísio. Agora, com a hospedagem de Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes, tudo aparenta estar em ordem.
Entretanto, os movimentos acerca da relação entre os dois são tratados com cautela. O ex-presidente resiste em abrir mão de seu capital político e o governador, que tem uma reeleição quase garantida em São Paulo, teme deixar de tentar um novo mandato no Executivo paulista e não ser o escolhido para representar a direita na disputa pelo Palácio do Planalto.
Leia mais: STF inicia interrogatórios do “núcleo crucial” da tentativa de golpe de Estado
Ato simbólico
Para o mestre em ciência política pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Lehninger Mota, o afastamento nunca aconteceu e classificou o caso como um “ato simbólico”. “Eu acredito que o Bolsonaro entendeu que provavelmente vai estar preso [durante as eleições] e que precisa de um nome que tenha capacidade clara de ganhar a eleição presidencial. Então, acho que não é uma reaproximação, porque nunca estiveram distantes, mas é um ato simbólico de mostrar: ainda que o prenda, o bolsonarismo vai sobreviver em uma candidatura.”
Mota ainda deixa claro que, para Bolsonaro, o governador é importante pois dialoga com o empresariado e com o Centrão. “O que o Tarcísio tem que um membro da família Bolsonaro não teria é os votos do centro, porque seria um voto que qualquer membro da família Bolsonaro teria dificuldade em conquistar.
Ao que tudo indica, Tarcísio tem um apoio forte da Faria Lima — que é a massa econômica dos banqueiros e empresários do Brasil. Todos alertam Bolsonaro que, muito provavelmente, a única forma de o ex-presidente não ficar muito tempo na cadeia seria ao indicar e hipotecar seu apoio a um candidato de direita que tenha condições reais de ganhar a eleição. E Tarcísio é essa figura”, pontua o cientista político.
O post Tarcísio demonstra apoio irrestrito a Bolsonaro em meio à tensão pré-STF apareceu primeiro em O Hoje.