No início dos interrogatórios do chamado “núcleo crucial”, nesta segunda-feira (9), o tenente-coronel Mauro Cid foi o primeiro a ficar frente a frente com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. O processo apura a atuação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados na tentativa de golpe de Estado. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o grupo teve papel central na tentativa de ruptura institucional. Cid explica, no entanto, que o “miolo” da presidência nunca teve contato com qualquer liderança ou financiador: “Sabíamos o que estava acontecendo pelas mídias sociais, mas o núcleo interno não mantinha contato com ninguém”.
O ajudante de ordens do ex-presidente afirmou que presenciou grande parte dos fatos, mas não participou deles. Durante a declaração, apontou que a grande preocupação do presidente (como se refere ao Bolsonaro), no seu ponto de vista, foi encontrar uma fraude nas urnas. “Coisa que sempre foi muito ostensivo dentro da opinião do presidente. Ele sempre buscou uma fraude nas urnas.”
Ainda, Cid admitiu que chegou a ver a minuta do golpe. Ao ser questionado se em algum momento foi coagido a dar depoimento à Polícia Federal (PF), negou que tenha sido. Além disso, alegou que recebeu do próprio ex-ministro Braga Netto, que é general da reserva do Exército, uma quantia em dinheiro vivo em uma caixa de vinhos, para entregar ao também tenente-coronel Rafael de Oliveira, que é acusado de liderar um grupo que supostamente planejou matar Alexandre de Moraes.
Anteparo
O ministro Luiz Fux afirmou que Cid tinha a qualidade de anteparo, a pessoa que tinha a função de pressionar o então presidente para assinar a “minuta de Estado de defesa”, “Estado de sítio”, dentre outros nomes: “Esse documento foi assinado?”, pergunta.
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“Não, senhor. Não foi assinado. Em nenhum momento foi assinado. Inclusive, era a grande preocupação do comandante do Exército, por isso que ele me chamava várias vezes, para que o presidente assinasse alguma coisa sem consulta, sem falar com ele antes. Porque, de certa forma, todo aquele imbróglio desses grupos que eu dividi, ele acabava sendo a voz mais lúcida, que ia conversar, que dava o entendimento maior do que estava acontecendo”, responde o tenente-coronel.
Sobre as conversas dos “kids pretos”: “Ministro, as pessoas criticavam muito o senhor. As mesmas críticas que o senhor recebe, xingamentos, de certa forma, passaram por ali. Não vou dizer que não houve, porque houve. Até porque era uma conversa de bar. Não teve nada de ‘temos que acabar com ele’ [se referindo a Moraes], nunca existiu. ‘Vamos planejar alguma coisa com ele?’, nunca existiu. Tinha assim, xingamentos, ‘esse cara é um desgraçado’, coisas que o senhor já ouviu bastante, inclusive, figurinhas, fotos, memes, essas coisas”, comenta Cid.
Ordem dos interrogatórios
Os interrogatórios no STF começaram com o réu colaborador, tenente-coronel Mauro Cid. Os demais serão ouvidos por ordem alfabética: Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto. No geral, as sessões serão presenciais e ocorrerão na sala de sessões da Primeira Turma, como no caso de Mauro Cid. No caso de Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro, o interrogatório será feito por videoconferência. No caso de Alexandre Ramagem, a investigação sobre fatos ocorridos após sua posse como deputado federal, em janeiro de 2023, está suspensa até o fim do mandato.
A denúncia foi aceita pelo STF em março. Os réus respondem por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, participação em organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. (Especial para O Hoje)
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