A outros pode interessar o anúncio imediato do escolhido por Jair Bolsonaro para a candidatura da direita, menos ao próprio. Se o escolhido for algum dos governadores, é com ele que os demais políticos vão articular, não com o capitão, na expectativa de que transfira votos. A romaria em busca do marido de Michelle de Paula, vedada pelo ministro Alexandre de Moraes (do Supremo Tribunal Federal), seria inibida pela baixa frequência, pois os traíras o abandonariam. Portanto, o ex-presidente está correto em adiar a cegueira de seus súditos. Os apressados comem crueldade.
Os que não se adaptam ao feeling de Bolsonaro estão vitaminando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que de defunto insepulto passou a favoritaço. Piores que eles, só os que esperam soluções caírem do céu da boca dos amigos da onça. O mais afoito até agora e, portanto, o mais prejudicial tem sido Ciro Nogueira, o presidente do PP e da federação União Progressista (UPr). Sua vítima da semana é o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do UB, maior partido da federação chefiada por Nogueira.
Mesmo em prisão domiciliar, Bolsonaro permanece na ativa e produtivo para seu grupo. É endeusado por grande parte dos eleitores e procurado por todo tipo de orêa, os oportunistas incluídos. Entre os amigos de conveniência está Nogueira, que já foi o queridinho de Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer. Sem chance de se reeleger senador no Piauí, o presidente da federação UPr sonha ser vice da federação brasileira.
O spoiler está publicado: Ciro quer forçar Bolsonaro a dizer logo que o candidato de seu estamento é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pelo único interesse de compor a chapa majoritária. Infelizmente para ele, Nogueira tem nadíssima a acrescentar à candidatura: não tem votos nem no Piauí (talvez se elegesse deputado federal gastando igual influencer quando vai à Rolex), não manda na maioria de seu partido (o deputado federal Arthur Lira, de Alagoas, dá de dez), parece ter esquecido o que sempre soube de articulação (ao ser covarde com Caiado, livrou-se do apoio do UB).
Cada vez que Ciro abre a boca, a esquerda fecha um apoio. Se ficar sem mandato e sem partido, pode ser que aprenda. Melhor para o Brasil do que se chegar a vice-presidente da República.
7 vices para Tarcísio melhores que Ciro
No frigir dos ovos de Páscoa, falta a Ciro Nogueira o que sobra em seus adversários internos na direita, utilidade. Não tem sequer grau de comparação entre um parlamentar desgastado do Piauí, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, os governadores (além de Caiado e Tarcísio, Romeu Zema de Minas Gerais e Eduardo Leite do Rio Grande do Sul).
Ciro Nogueira — Não tem repercussão no Nordeste, cujos líderes regionais sequer se aproximam dele. Não tem prestígio no Ceará. No Maranhão, never. Na Bahia, nenhum. No Pernambuco, passa em branco. O mesmo no Sergipe, em Alagoas, no Rio Grande do Norte, na Paraíba… No Piauí, os petistas já são 90%, então, resta exatamente nadica de nada para nosso malvado predileto. Nas demais regiões do País, pior ainda. Nem liderança classista. Aposentou-se do papel desempenhado com mais sucesso, o de agregador. Sobrou nem fumaça.
Eduardo Bolsonaro — Teve a audácia de buscar nos Estados Unidos uma esperança de socorro para o pai. Começou tendo efeitos, mas o presidente Donald Trump acabou se rendendo a Lula, o que não anula o fato de Eduardo ter tentado. Levaria para a chapa todos os bolsonaristas fanáticos. Se errou, foi tentando acertar.
Eduardo Leite — Gay casado com homem, conseguiu ser eleito governador no Estado mais conservador do País. Seu êxito na administração o alçou a pré-candidato a presidente da República em 2022. Sua competência impede que a questão sexual obtenha realce. Renunciou ao cargo para se viabilizar. Em vão. Foi ejetado nacionalmente em seu então partido, o PSDB, voltou ao Rio Grande e quebrou uma série de tabus — por exemplo, a reeleição. Acrescentaria os sulistas e seria o contraponto de diversidade.
Michelle Bolsonaro — Reúne milhões de evangélicos, além do legado do marido. Representa ainda, e bem, as pessoas com deficiência, que foram seu público durante o tempo de primeira-dama — estreou a quase obrigatoriedade da linguagem de sinais em eventos públicos. Seu discurso soa como hino para os bolsonaristas. Fica ótima também pela questão de gênero: seria a primeira mulher vice-presidente da República.
Ratinho Júnior — Estrela a colheita de grandes gestores que salvaram unidades da federação nos últimos dois mandatos. Na hierarquia dos governadores, perde somente para Tarcísio de Freitas. É moderno, acredita na ciência, na tecnologia e na inovação.
Romeu Zema — Empresário de sucesso, poderia dar o exemplo de empreendedorismo, já que Tarcísio é servidor público de carreira. Está no 2° excelente mandato em Minas Gerais. Ganhou e foi reeleito por um partido minúsculo, o Novo, que o que tem de pequeno tem de credibilidade.
Ronaldo Caiado — Não tem vocação para vice, mas está de tal forma grilado com Ciro Nogueira que é capaz de aceitar ser a companhia de Tarcísio na chapa só pra contrariá-lo. Caiado levaria para a candidatura seu grande eleitorado no interior do Paraná, de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul, além de vastas faixas do eleitorado no Centro-Oeste e no Nordeste. É o porta-voz do combate ao banditismo. A experiência em Goiás pode se replicar no profissionalismo da promoção social, na Educação 1° lugar no Ideb, na saúde regionalizada, na impiedosa campanha para reduzir a violência.