Bruno Goulart
A condenação de Jair Bolsonaro (PL), a 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado, confirmada nesta quinta-feira (12), muda o tabuleiro político. Se antes o ex-presidente ainda era visto como uma sombra sobre a sucessão de 2026, agora seu afastamento definitivo abre espaço para novas lideranças no campo da direita. O nome mais citado nesse cenário é o de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, que passa a ser considerado a aposta natural para herdar o espólio bolsonarista. Mas será que a equação é tão simples assim?
Ao O HOJE, o historiador e especialista em políticas públicas Tiago Zancopé avalia que a sentença apenas cristalizou uma realidade que já era esperada. “Ninguém imaginava que Bolsonaro seria inocentado. Isso nunca passou pela cabeça de líderes do PL, do União Brasil ou de qualquer partido que orbita no campo da centro-direita. O que vemos agora é apenas a confirmação de que ele não poderá disputar a eleição”, disse.
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Segundo o professor, o movimento político tende a ser inevitável: “É natural haver uma corrida para as colinas. Como faziam os franceses, quando um rei morria: rei morto, rei posto, viva o novo rei. Esse novo rei, ao que parece, será Tarcísio”.
Dilema de Tarcísio
Apesar de despontar como favorito, o governador de São Paulo enfrenta um dilema. Sua chance de reeleição no Estado é considerada alta, o que o colocaria em posição confortável para seguir na carreira política sem se arriscar em 2026. A dúvida é se Tarcísio estará disposto a deixar a segurança do Palácio dos Bandeirantes para liderar uma campanha nacional carregada de ressentimento.
Isso porque parte significativa do eleitorado de direita encara a condenação de Bolsonaro como produto de um processo “viciado”, avalia Zancopé. “O que se vai construir é a narrativa de que não foi apenas a inelegibilidade, mas a condenação que afastou Bolsonaro da disputa. Cabe a Tarcísio decidir se quer ser o porta-voz desse sentimento. Se ele mobilizar esse ressentimento e trouxer para seu lado Caiado, Zema e Ratinho, terá chance de enfrentar Lula. Mas para isso precisa pacificar esse campo da centro-direita”, aponta.
Presidenciáveis
O caminho, porém, está longe de ser pacífico. Governadores como Ronaldo Caiado (União Brasil), Ratinho Jr. (PSD) e Romeu Zema (Novo) não pretendem abrir mão de seus projetos nacionais apenas porque Tarcísio pode ser “ungido” pelo bolsonarismo.
“Não é assim que a política funciona, nunca foi. Ser governador de São Paulo é importante, mas não é garantia de vitória. Os últimos que tentaram saíram derrotados. Caiado, Zema e Ratinho sabem disso e não vão aceitar passivamente. Eles vão continuar estressando seus nomes, forçando agendas e tentando ganhar visibilidade para se manter no jogo”, avalia Zancopé.
Além disso, esses governadores têm argumentos políticos e partidários fortes. Caiado pode se apoiar no peso da federação União Brasil–PP. Ratinho Jr., por sua vez, é filiado ao PSD, partido com a maior quantidade de prefeitos no País. Já Zema aposta na imagem de gestor mineiro e no discurso liberal para tentar se diferenciar dos demais.
Além São Paulo
Para Zancopé, a grande questão é se Tarcísio conseguirá fazer política além das fronteiras paulistas. “Ele precisa mostrar que tem viabilidade nacional. Quando sentar com Caiado e Ratinho, vai ouvir: você não tem nem o maior partido, nem a federação mais robusta. O PSD de Ratinho tem capilaridade entre prefeitos, enquanto a federação União Progressista, de Caiado, tem força em Brasília.
Ou seja, a condenação de Bolsonaro abre espaço, mas não entrega a chave do Planalto de bandeja. Tarcísio pode até ser visto como herdeiro natural, mas, para transformar expectativa em candidatura real, terá que costurar alianças, administrar resistências e provar que pode ser mais do que o governador de São Paulo — um líder capaz de unificar um campo político marcado por vaidades e interesses regionais. (Especial para O HOJE)
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