Fernando Collor de Mello voltou ao noticiário nacional na noite desta quinta-feira (24) ao ser preso em Maceió, após ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão ocorre após o fim dos recursos contra a condenação imposta em 2023, que o sentenciou a mais de oito anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em esquema ligado à BR Distribuidora.
Mas quem é Fernando Collor, figura que marcou a política brasileira desde os anos 1980?
Collor nasceu no Rio de Janeiro em 1949, mas fez carreira política por Alagoas, onde foi prefeito de Maceió, deputado federal, governador e senador. Vem de uma tradicional família política — seu pai, Arnon de Mello, foi senador, e sua família controla um dos principais grupos de comunicação do estado. Antes de entrar de vez na política, também atuou como jornalista e empresário no setor de mídia.
O presidente mais jovem da Nova República
Fernando Collor ganhou projeção nacional em 1989, quando foi eleito presidente da República pelo então PRN (atual Agir), aos 40 anos, tornando-se o mais jovem a ocupar o cargo no Brasil e o primeiro eleito por voto direto após o regime militar. Na campanha, ganhou fama como o “caçador de marajás”, prometendo moralizar o serviço público e enfrentar privilégios.
Seu governo ficou marcado por medidas econômicas de impacto, como o Plano Collor, que promoveu o confisco de depósitos bancários para tentar conter a hiperinflação. A ministra da Fazenda era sua prima, Zélia Cardoso de Mello. As decisões econômicas trouxeram instabilidade e desgaste popular.
O ex-presidente Fernando Collor (1990 a 1992)
Impeachment e saída do poder
Em 1992, denúncias de corrupção envolvendo o tesoureiro de campanha Paulo César Farias, o PC Farias, levaram à abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). As acusações, reforçadas por Pedro Collor, irmão do presidente, indicavam um esquema de desvio de dinheiro público e enriquecimento ilícito. O episódio do Fiat Elba, comprado com recursos suspeitos, virou símbolo da crise.
Com a pressão das ruas, liderada pelo movimento dos “caras-pintadas”, Collor renunciou em dezembro de 1992, pouco antes de o Senado votar o impeachment. Ainda assim, teve seus direitos políticos suspensos por oito anos. Em 2014, foi absolvido pelo STF da acusação de peculato, relativa ao caso da década de 1990.
Retorno à política
Após anos afastado, Fernando Collor voltou ao cenário político nos anos 2000. Tentou ser governador de Alagoas em 2002, sem sucesso, mas foi eleito senador em 2006. Em 2010, tentou novamente o governo estadual e foi derrotado no segundo turno. Em 2014, voltou ao Senado, exercendo mandato até 2023.
Durante esse período, manteve forte atuação política e se alinhou a diferentes governos. Inicialmente próximo ao PT, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e, nos últimos anos, apoiou pautas do governo Jair Bolsonaro.
Apesar da tentativa de reconstrução da imagem, o nome de Fernando Collor voltou a aparecer em investigações da Lava Jato. Em 2015, foi alvo da Operação Politeia, da Polícia Federal, que resultou na apreensão de carros de luxo e documentos. O processo que resultou em sua condenação foi baseado em denúncias de que Collor recebeu cerca de R$ 20 milhões em propinas por meio de contratos fraudulentos com a BR Distribuidora.
Prisão após condenação no STF
Em maio de 2023, Fernando Collor foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a oito anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A sentença também incluiu multa, perda dos direitos políticos e obrigação de indenizar a União em R$ 20 milhões, juntamente com outros dois réus. A decisão foi unânime entre os ministros do STF.
Após a rejeição de recursos apresentados por sua defesa, o ministro Alexandre de Moraes determinou o início do cumprimento da pena. Collor foi preso nesta sexta-feira em sua casa, em Maceió, enquanto se preparava para viajar a Brasília. Segundo os advogados, ele pretendia se apresentar espontaneamente à Justiça.
A defesa confirmou que Fernando Collor está na Superintendência da Polícia Federal na capital alagoana. Em nota, os advogados afirmaram que a prisão foi realizada de forma tranquila e sem resistência.