A Polícia Federal (PF) finalizou o inquérito que investigava o uso ilegal da estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo de Jair Bolsonaro. Conhecido como o caso da “Abin paralela”, o esquema teria sido utilizado para monitorar, de forma irregular, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), parlamentares, jornalistas e outras autoridades públicas.
O relatório foi enviado ao STF e permanece sob sigilo. Segundo informações da CNN Brasil, mais de 30 pessoas foram indiciadas. Entre elas estão o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho Carlos Bolsonaro (vereador pelo Rio de Janeiro) e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin.
De acordo com a Polícia Federal, Alexandre Ramagem é apontado como o principal responsável por organizar o esquema de monitoramento ilegal. Ele ocupou o cargo de diretor da Abin de 2019 a 2022. O relatório indica que a estrutura operava fora dos procedimentos legais da agência.
A lista de indiciados também inclui o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, além de outros integrantes da cúpula da agência. A PF afirma que houve tentativa de obstrução das investigações. Durante uma das fases de busca e apreensão, computadores que estariam ocultos foram localizados e apreendidos.
As investigações apontam que a ferramenta de geolocalização FirstMile, desenvolvida pela empresa israelense Cognyte, foi usada de forma irregular para rastrear alvos. Segundo o relatório, o sistema permitia o monitoramento de até 10 mil celulares por ano nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, com maior intensidade em 2021, período pré-eleitoral.
Gravação de reunião de 2020 integra o inquérito
Entre os elementos que embasam o relatório da PF está a gravação de uma reunião realizada em 2020, divulgada em julho de 2023. No áudio, Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem e advogadas de Flávio Bolsonaro discutem estratégias para monitorar auditores da Receita Federal. Esses servidores atuavam nas investigações sobre o caso das “rachadinhas” no gabinete de Flávio quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.
Na gravação, Ramagem sugere a instauração de um procedimento administrativo contra os auditores, com o objetivo de afastá-los de suas funções. Jair Bolsonaro também aparece na reunião discutindo o tema.
Após a divulgação do áudio, Alexandre Ramagem declarou que defendeu uma atuação dentro dos limites legais. “Eu me manifestei contrariamente à atuação do GSI no tema, indicando o caminho por procedimento administrativo pela Receita Federal, previsto em lei, e ainda judicial no STF”, afirmou.
Flávio Bolsonaro também comentou sobre a gravação. “Mais uma vez, a montanha pariu um rato… o áudio mostra apenas minhas advogadas comunicando as suspeitas de que um grupo agia com interesses políticos dentro da Receita Federal e com objetivo de prejudicar a mim e a minha família”, disse.
Carlos Bolsonaro reage ao indiciamento
O vereador Carlos Bolsonaro se manifestou nas redes sociais após ser indiciado. Ele ironizou a decisão da PF ao escrever: “Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”.
De acordo com o relatório, Carlos Bolsonaro foi indiciado por liderar o chamado “gabinete do ódio”, que teria utilizado informações obtidas pela Abin paralela para produzir e disseminar conteúdo nas redes sociais com o objetivo de atacar adversários políticos do ex-presidente.
O documento da PF também aponta que ministros do STF, deputados e jornalistas tiveram suas localizações rastreadas. Segundo a investigação, a estrutura de monitoramento foi criada e utilizada à margem dos canais oficiais da Abin.
O conteúdo completo do relatório segue sob sigilo judicial.
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