Bruno Goulart
A possível reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump desperta atenção no Brasil e nos Estados Unidos. Ainda não há confirmação sobre data nem formato — se será presencial ou por videochamada —, mas já circulam informações de que o governo brasileiro quer priorizar questões tarifárias no encontro. Essa pauta, inclusive, estaria entre os critérios colocados pelo Brasil para que a conversa ocorra.
O próprio Lula ressaltou, nesta quarta-feira (24), que não vê limites para os assuntos. “Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível”, disse após encontro nos bastidores com Trump em Nova York. O presidente classificou a interação como positiva e destacou uma “química” entre eles: “Fiquei feliz ao ouvir dele que ‘pintou uma química’ entre nós. Eu, pessoalmente, acredito que 80% de uma boa relação é química e 20% é emoção. Por isso, considero essa sintonia muito importante e torço para que essa relação dê certo”.
A avaliação do governo é de que a aproximação pode abrir espaço para uma agenda bilateral mais ampla, que inclua comércio, investimentos e relações políticas. Lula disse acreditar que Trump agiu com base em informações equivocadas sobre o Brasil. “Estou convencido que algumas decisões tomadas pelo presidente Trump se deveram ao fato da qualidade de informações que ele tinha sobre o Brasil. Quando ele tiver as informações corretas, ele pode mudar de posição”, afirmou.
“Formato definirá dinâmica conversa”
Mas há cautela. O cientista político Lehninger Mota avalia, ao O HOJE, que o formato do encontro será decisivo para a dinâmica. Mota lembra que Trump já adotou postura agressiva em reuniões presenciais com outros líderes, como o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o premiê do Canadá, Mark Carney. “Essas reuniões em que o Trump foi desrespeitoso com outros chefes de nações foram presenciais. Agora, ainda não se sabe se será presencial ou por videochamada, e isso muda muito o cenário”, observa. Segundo Mota, se a reunião não for pública, “muito provavelmente a imprensa não terá acesso ao conteúdo, a não ser por bastidores”.
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Para o cientista político, existe também uma “paradiplomacia” em curso: empresários brasileiros e americanos atuam em conjunto para pressionar pela abertura de negociações. “Há pressão de vários empresários, mostrando que é um atraso, que todos estão perdendo dinheiro e que precisa entrar em um acordo urgente para evitar quebrar empresas e gerar desemprego”, explica.
Nesse cenário, Mota vê possibilidade de avanços. “É possível esperar acordos — se não 100% do que se espera —, pelo menos redução ou fim do tarifário, diminuição de produtos afetados e abertura ao diálogo. Quando se volta à mesa, a possibilidade de entendimento é muito maior.” Para o cientista político, a disposição de Lula em conversar sobre tudo é uma vantagem.
“Reunião pode não acontecer”
Mas nem todos compartilham desse otimismo. O advogado e vereador Oséias Varão (PL) questiona se o encontro irá mesmo ocorrer. “Eu tenho a impressão de que essa reunião não irá acontecer. Donald Trump provavelmente só vai aceitar se ela for presencial, e Lula só vai aceitar se for por telefone. Então, na hora em que for concretizar isso, acho que vai ficar impossível de acontecer”, afirma.
Varão também alerta para os riscos políticos: “Existe uma grande chance, pelo perfil do Donald Trump, de ele colocar Lula numa situação constrangedora. Trump é um negociador profissional e sempre conduz as negociações de maneira que ele sai vencedor”.
Para o vereador do PL, um dos principais pontos de impasse será a posição geopolítica brasileira. “O governo Lula tem se posicionado sistematicamente contra os Estados Unidos, priorizando alianças com China, Rússia e outros países do Brics. Isso reduz muito a chance de Lula conseguir negociar de maneira favorável com Trump.”
Outro tema sensível seria a questão político-judicial que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores — algo que, na visão de Varão, Lula não teria como oferecer. “Não sou otimista nem quanto à realização, nem quanto ao resultado da reunião”, concluiu. (Especial para O HOJE)
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