Em meio a protestos, o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), prestou contas nesta quinta-feira (28/5) sobre os quatro primeiros meses de sua gestão à frente da Prefeitura da capital. A audiência pública, realizada no plenário da Câmara Municipal, revelou dados que escancaram o enfraquecimento de políticas públicas voltadas à Assistência Social, especialmente no que diz respeito ao tratamento dispensado à população em situação de rua.
Entre os números analisados pelo O HOJE, chama atenção o repasse do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), que despencou significativamente neste início de ano. De janeiro a abril de 2024, a Prefeitura recebeu R$ 9 milhões do fundo federal. No mesmo período de 2025, o valor foi de apenas R$ 2,1 milhões — uma queda de aproximadamente 77%.
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Essa redução ocorre em um contexto onde o prefeito é acusado por organizações civis, parlamentares e defensores dos direitos humanos de negligência e até repressão à população em situação de rua. O episódio mais recente aconteceu no sábado, 17 de maio, quando a Guarda Civil Metropolitana (GCM) de Goiânia impediu a realização da ação social “Banho Solidário”, promovida por voluntários da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e Santa Edwiges.
Relatos indicam que agentes da GCM intimidaram os voluntários e impediram a distribuição de roupas, alimentos, água e kits de higiene a moradores em situação de rua na Praça Joaquim Lúcio, região de Campinas. Segundo testemunhas, os guardas teriam afirmado que “não era para dar banho, nem distribuir roupas, nem comida, nem água, nem nada”. O caso foi denunciado ao Ministério Público de Goiás (MP-GO), à Defensoria Pública do Estado (DPE-GO) e ao Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) pelo vereador Fabrício Rosa (PT), que classificou a ação como “muito preocupante”.
Outros casos
As críticas se intensificam quando se resgatam declarações do próprio prefeito Sandro Mabel, que em março, durante uma visita ao setor Campinas, foi gravado dizendo a um morador de rua: “Assim não vai ter mais jeito de ficar não, porque meu coração dói demais ver vocês na rua” — referindo-se ao homem como “um caboco forte que nem você”. A fala foi interpretada como expressão de uma política higienista, que busca remover a população de rua dos espaços públicos sem oferecer alternativas reais de acolhimento e reintegração.
Segundo estimativas da Coordenação de Apoio Técnico Pericial do Ministério Público de Goiás (Catep), Goiânia tinha cerca de 2.500 pessoas vivendo nas ruas em 2024 — um crescimento significativo em comparação às 1.500 apontadas pela Prefeitura em 2019.
Repasses do FNAS
A queda nos repasses do FNAS pode ter várias explicações. Uma delas é que a Prefeitura não apresentou um Plano de Trabalho para celebração de contratos ou convênios com o fundo nacional para a assistência a pessoas em vulnerabilidade.
Outra possibilidade é o uso de recursos próprios do Tesouro Municipal para cobrir ações assistenciais. A terceira hipótese, e a mais preocupante, é a de que a atual gestão simplesmente tenha reduzido as ações voltadas à assistência social, o que parece ser o cenário mais provável diante da realidade enfrentada pelas ruas da capital.