Anna Salgado, Letícia Leite, Leticia Marielle e Micael Silva
Goiânia foi uma das capitais brasileiras a registrar manifestações neste domingo (21) contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, apelidada por organizadores por ‘PEC da Blindagem’. A mobilização, que começou por volta das 16h na Praça Universitária, no Setor Universitário, reuniu partidos da esquerda, movimentos sociais e sindicatos ligados ao Fórum Goiano em Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania.
A concentração inicial contou com faixas e cartazes que destacavam os nomes dos parlamentares goianos que votaram a favor da proposta na Câmara dos Deputados, em um gesto de repúdio. Além das críticas à PEC, manifestantes também empunhavam bandeiras e palavras de ordem em defesa de pautas populares, como a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores de baixa e média renda e o fim da jornada de trabalho 6 por 1, considerada exaustiva por categorias organizadas.
Às 17h, o grupo iniciou uma caminhada pelas principais vias da região central, em direção à Praça Cívica. O Fórum Goiano, responsável pela articulação, reuniu uma ampla gama de entidades. Entre elas, o Sindicato dos Trabalhadores Federais em Saúde e Previdência (Sintfesp-GO/TO), o Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg-Sindicato), o Sindicato dos Trabalhadores no Sistema Único de Saúde em Goiás (Sindsaúde-GO), o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (Sintego) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS/CUT).
Em nota, o Sintfesp afirmou que a sociedade “não pode se calar diante da PEC da Bandidagem”, enquanto a CNTSS classificou a medida como uma “atrocidade” e pediu que o Senado interrompa sua tramitação.
A chamada PEC da Blindagem foi aprovada pela Câmara dos Deputados na última semana e ainda será analisada no Senado, onde a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) deve colocar o tema em pauta nesta semana. O texto prevê que parlamentares só possam ser julgados ou presos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com autorização das respectivas Casas Legislativas, salvo em casos de flagrante de crime inafiançável.
Entre os manifestantes presentes, Victor Hugo destacou a união da população local e o engajamento da esquerda. “É muito bom ver pessoas de várias idades e raças unidas por um objetivo comum, presentes em uma manifestação organizada que busca tornar o Brasil um lugar melhor”, declara.
Maria Clara Franco destacou a diversidade etária presente no ato e a mobilização da população local. Ela observou que havia jovens de 17 anos, adultos na faixa dos 30 e pessoas acima de 60, além de famílias inteiras, o que surpreendeu a manifestante. “A força do movimento vai além do esperado, mesmo comparando com atos anteriores, como as manifestações em defesa da vacinação”, relata.
Ainda segundo a jovem, a intenção do protesto é denunciar a chamada “PEC da Bandidagem”, que, na visão dos críticos, poderia favorecer parlamentares, dificultar julgamentos imparciais e comprometer o princípio de igualdade perante a lei. A manifestante ressaltou que o ato busca reforçar a mobilização da nova geração em defesa da justiça e da transparência, além de alertar contra qualquer tentativa de anistia.
O vereador de Goiânia, Fabrício Rosa (PT), marcou presença no ato público e destacou que “cada sindicato, cada partido que resistiu ao longo dos últimos 10 anos”. “Esse é um ato pra botar fascista no chão. Esse é um ato pra botar homofóbico no chão. Falam que Goiânia é uma terra conservadora. Mas a gente está aqui pra dizer que Goiânia e Goiás são terra da democracia, terra dos Direitos Humanos, nós estamos na rua porque nós não aceitamos fascista nesse território”, disse.
Rosa também criticou desvios de recursos públicos. “Nós estamos na rua porque nós não aceitamos os sequestradores do orçamento público. Eles sequestraram o orçamento roubando emendas impositivas. O que há em comum nessa PEC é que eles querem impunidade. Eles sequestraram o processo eleitoral. Eles corromperam o processo eleitoral e agora querem anistia. Não haverá anistia para golpista! Não haverá anistia para a bandido!”
O parlamentar reforçou a posição de combate àquilo que classificou como ‘bandidagem política’. “Os principais bandidos, os piores bandidos, são os bandidos que atacam a democracia brasileira. E o povo goianiense tá aqui pra dizer que nós não vamos aceitar as duas bandidagens. Nem a bandidagem da anistia e nem a bandidagem da blindagem. É sem anistia. O povo goiano é um povo de coragem, é um povo de luta. Sem anistia para Caiado e para Mabel, para toda política liberal que vem tentando privatizar as nossas vidas, que vem tentando privatizar todos os setores públicos e vem tentando calar toda possibilidade de política pública para as pessoas mais pobres do nosso País”, afirmou.
Samanta Nascimento avaliou como significativa a mobilização. Para a participante do protesto, o ato simboliza a resistência da população diante de retrocessos políticos e sociais. “É um momento importante, porque a população goiana resolveu acordar e vir à luta para mostrar que existe esquerda no Estado. Aqui não é só o agro que domina, não é só a direita que domina. A esquerda também sabe se fazer ouvir e lutar pelo o que acredita. Isso é muito importante, porque não podemos deixar uma PEC tão vergonhosa como essa ser aprovada”, concluiu.
Manifestações em 52 cidades do Brasil reúnem multidões e artistas em ato
Além de Goiânia, cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Brasília e Recife registraram manifestações simultâneas. Em todas, os organizadores reforçaram o mesmo objetivo imediato: pressionar o Senado a rejeitar a PEC, considerada por eles um retrocesso democrático. A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) destacou nas redes sociais que foram registradas manifestações em 52 cidades, em todas as regiões do Brasil.
Os atos também tiveram forte presença artística. A orla da praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, se transformou em palco para apresentações de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan e Chico Buarque, símbolos da resistência durante a ditadura militar. Suas músicas de protesto, que marcaram aquele período, foram reutilizadas em defesa, mais uma vez, da democracia brasileira.
De acordo com levantamento da Universidade de São Paulo (USP), mais de 42 mil pessoas estiveram presentes na Avenida Paulista. Durante o evento, um grande bandeirão do Brasil foi estendido, em contraponto ao estandarte norte-americano exibido por apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) no ato pró-anistia de 7 de setembro.
Em Salvador, a cantora Daniela Mercury se apresentou em manifestação de contrariedade à PEC da Blindagem. A cantora puxou o trio elétrico, ao lado do ator Wagner Moura, que reforçou a crítica à extrema direita. Bonecos infláveis de Jair Bolsonaro vestido de presidiário e de Donald Trump como Tio Sam chamaram a atenção do público, que entoava palavras de ordem contra a anistia em várias cidades.
Em Brasília, o ato no Museu da República contou com discursos políticos e apresentações de Chico César e Djonga. “Temos que tomar consciência de que, para mudar este País, temos que mudar o Congresso Nacional”, declarou o ex-ministro José Dirceu (PT), antes de os músicos assumirem o tom da manifestação.
Hilton afirmou que a multiplicação dos atos “demonstra a força da mobilização popular” diante do Congresso. Os artistas, segundo a deputada, ajudaram a dar voz às ruas, transformando os protestos em um grande espetáculo contra a impunidade e contra o enfraquecimento da democracia.
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