Bruno Goulart
A disputa em torno do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) transformou-se em um novo foco de tensão entre Executivo, Legislativo e Judiciário, que culminou na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de suspender, nesta sexta-feira (4), todos os efeitos dos decretos que tratavam do tributo. Em caráter liminar, Moraes determinou que ficassem paralisados tanto o decreto presidencial que aumentava as alíquotas do IOF quanto o decreto legislativo que anulava a medida.
O caso chegou ao Supremo após uma judicialização que partiu dos dois lados do espectro político. Primeiro, o PL acionou a Corte e pediu que fosse barrado o aumento editado pelo governo Lula em maio, com o argumento de que ele feria princípios constitucionais ao onerar contribuintes sem debate legislativo. Em seguida, PSOL e o próprio Executivo recorreram ao STF para derrubar o decreto legislativo aprovado por Câmara e Senado, que havia revogado o aumento.
Na decisão, Moraes afirmou que ambos os instrumentos normativos – o decreto presidencial e o decreto legislativo – apresentavam “fundada dúvida” sobre sua validade jurídica. Segundo o ministro, havia indícios de desvio de finalidade na edição do ato do Executivo, assim como excesso de competência no movimento do Legislativo. Diante do impasse, o relator do caso no STF marcou uma audiência de conciliação entre os Poderes, agendada para 15 de julho. O objetivo é tentar conter a escalada institucional e costurar um entendimento que preserve a estabilidade política e fiscal.
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O aumento do IOF foi anunciado pelo governo como parte de uma estratégia emergencial para reforçar a arrecadação e cumprir as metas do novo arcabouço fiscal. O argumento era de que a elevação do imposto ajudaria a cobrir despesas correntes sem descumprir o teto de gastos. Entretanto, a medida desagradou o mercado e líderes partidários, que consideraram a decisão unilateral e desprovida de diálogo.
Mesmo após o governo anunciar ajustes e prometer alternativas, o Congresso manteve a ofensiva. Em uma sessão, deputados e senadores aprovaram em tempo recorde o projeto de decreto legislativo que derrubou o aumento. O gesto foi interpretado como um recado ao Planalto e também como um movimento de afirmação da autonomia do Parlamento.
STF prevê investidas do Congresso
Para ministros do Supremo, o episódio acendeu um alerta sobre o risco de que o Legislativo amplie suas investidas e passe a questionar prerrogativas constitucionais do Judiciário. Segundo relatos, uma ala do STF avalia que a derrubada do decreto presidencial pode ser apenas o início de uma agenda legislativa voltada a restringir competências da Corte.
Atualmente, tramitam no Congresso projetos que pretendem autorizar o Legislativo a sustar decisões do Supremo e de órgãos como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Embora essas propostas tenham sido arquivadas ou paralisadas, ministros veem nelas um sintoma de disposição política para reduzir o poder contramajoritário do Judiciário.
Oposição
Em paralelo à decisão do ministro Alexandre de Moraes, que suspendeu o aumento do IOF e a revogação aprovada pelo Congresso, o líder da oposição na Câmara, deputado Luciano Zucco (PL-RS), divulgou uma nota com críticas à medida. Para o parlamentar do PL, embora a suspensão impeça a elevação da carga tributária e seja uma vitória parcial para trabalhadores e empreendedores, cria um precedente perigoso ao transformar o Supremo em um “poder moderador” de disputas políticas que deveriam ser resolvidas exclusivamente no Parlamento.
O deputado argumentou que questões fiscais e o debate sobre impostos são de natureza política e devem ocorrer com transparência, diálogo e respeito à soberania popular. Na avaliação de Zucco, o governo Lula judicializa qualquer contestação e usa estruturas públicas e campanhas de desinformação para atacar o Congresso, ao mesmo tempo em que evita reconhecer sua própria responsabilidade pelo desequilíbrio fiscal. O líder da oposição defendeu que uma conciliação verdadeira só acontecerá quando o Executivo admitir seus erros e apresentar um plano fiscal consistente.
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