A notícia do divórcio do Centrão com a esquerda foi comemorada pela equipe do governador Ronaldo Caiado, mas muita alma nessa chora. Em tese, a articulação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva perdeu fôlego com o desembarque de dois partidos do chamado centro democrático, que vão desistir de quatro ministérios. Só em tese. No frigir das candidaturas em 2026, se Lula resistir competitivo, dificilmente o quarteto o abandonará.
Os dois partidos, UB e PP, se juntaram para formar a federação União Progressista. O propósito, que já atingiram, nada tem a ver com unir ou progredir: pressionar sua turma a tirar os pés das duas canoas — numa, o conservadorismo exigido pelo eleitorado; noutra, cargos e verbas. Até porque as pastas cedidas por Lula são pouco desprezíveis para titulares que estreiam no top nacional: Comunicações, Esportes, Turismo e Integração, além de picanhas suculentas como a Caixa Econômica Federal.
Desfiliação ou desistência
Os ministros podem ser obrigados pela federação a sair agora, já que a decisão é oficial. Porém, isso não significa que vão obedecer — outra alternativa, da parte deles, é a desfiliação voluntária; da parte da UP, a expulsão.
As duas conclusões a que chegaram PP e UB — se juntarem e largarem o governo — foram muito aplaudidas pelos defensores de candidatura própria a presidente da República, até porque existe um nome já lançado: Caiado.
Vice de Tarcísio
O percurso começou agora a ser percorrido. No longo caminho, Caiado precisa convencer a cúpula da federação ou não vai longe. O presidente do União Brasil e vice da UP, Antônio Rueda, não é entusiasta de lançar alternativa própria. O presidente do PP e da UP, o senador Ciro Nogueira, gostaria de ser vice de Tarcísio de Freitas, caso o governador de São Paulo se aventure a presidente da República. O mais amigo do governador de Goiás é ACM Neto, ex-prefeito de Salvador, que foi perdendo importância interna com a mudança de nome do partido.
Essa indiferença quanto a Caiado é oriunda dos seus índices nas pesquisas, na faixa dos 3%. Se não reagir, é gigantesca a chance de ser traído pelos maiorais da federação. O outro lance cabe a Lula. No caso de continuar em pé de igualdade e até superioridade com os bolsonaristas, o lado fisiológico vai amputar o pouco que os grandões da UP tem de fidelidade aos colegas de partido.
Alcolumbre, não a federação, manda em seus ministros
Os ocupantes de ministérios são políticos ou apadrinhados do presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (UP-AP).
O médico André Fufuca é deputado federal pelo PP do Maranhão e tem futuro atrelado a se manter no Ministério do Esporte. Sua chance de ser senador, agora que passou dos 35 anos, depende de permanecer o máximo possível no 1° escalão federal. Se voltar à Câmara, será mais um entre 513.
O advogado Celso Sabino, do União Brasil do Pará, também é um jovem deputado federal. Deixando o Ministério do Turismo antes de Belém sediar a COP 30, em novembro, vai cair na vala comum. Teriam sido em vão os esforços para o Norte formar uma liderança de âmbito nacional.
Os outros dois ministérios são da cota pessoal de Alcolumbre, daí a firmeza ao vetar pautas da oposição, como o impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal. Waldez Góes nasceu no Pará, como Sabino, e faz política no Amapá, igual a Alcolumbre. Entre altos e baixos com o presidente do Congresso, Góes foi por ele indicado, depois do sucesso como governador amapaense. O outro levado por Alcolumbre à equipe de Lula é o ministro das Comunicações, Frederico de Siqueira Filho, que por ser engenheiro com longa permanência em tecnologia da informação é considerado técnico.
Sabe que dia esses ministros vão sair? Quando lhes der na cabeça — no caso de Góes e Siqueira Filho, na cabeça de Alcolumbre. Se o presidente do Senado, mesmo de posse do maior cargo de um integrante da federação, decidir que seus afilhados vão permanecer nos postos, lá estarão até Sua Excelência abrir mão (e Davi Alcolumbre é um mão fechada).
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