O eleitor goiano sabe o que é companheiro e o que é capacho. Para usar uma linguagem mais moderna, o que é raiz e o que é nutella. Vota em componente de um grupo político capaz de garantir os recursos para governar, mas corre para longe de quem não consegue viver fora da aba do chapéu de padrinho. Por isso, os três principais candidatos a governador vão marcando as diferenças, como na forma de juntar gente.
O senador Wilder Morais (PL) comemorou seu aniversário com milhares de convidados (6 mil, segundo sua assessoria). O ex-governador Marconi Perillo (PSDB) lotou a Assembleia Legislativa com talvez a mesma quantidade, só que sem o melhor arroz carreteiro do Brasil. O vice-governador Daniel Vilela (MDB) ainda não testou sua capacidade de agregar, mas participa de inaugurações e lançamentos realizados pelo governo.
Se o critério forem prefeitos, das duas, uma, o trio está empatado ou Goiás (246) tem mais municípios que Minas Gerais (853). Os danielistas dizem que ele conta com 200, os wilderistas não deixam por menos de 150 e os marconistas garantem cem, fora os que estão indecisos, não foram ouvidos ou apoiam outros pré-candidatos. A verdade é que esse pessoal mente muito.
Quem tem mais prefeitos atuais e ex?
Caso valham ex-prefeitos, Marconi ganha de lavada: realmente, havia mais de cem no evento da Assembleia, fora outros 200 juntados em dois grupos de WhatsApp. Wilder, que no Governo Temer (2016 a 2018) abasteceu todas as cidades com verbas quando isso era novidade, também é farturento em número de administradores que já deixaram os cargos – teria, talvez, a metade do que Marconi conseguiu. Daniel está com problemas, pois tanto os atuais quanto os ex, de seu partido ou do União Brasil do governador, não são fiéis a ele, mas a Ronaldo Caiado, que se não torcer o boi pelo chifre o peão cai antes dos oito segundos.
Marconi goleia quando o quesito é serviço prestado a Goiás. Construiu e/ou refez 14 mil quilômetros de asfalto. Fez a Universidade Estadual, o Vapt-Vupt, as duplicações nas saídas de Goiânia, as centenas de estações de tratamento de água e esgoto, o Hugol… A lista é tão grande que não caberia aqui. Muito disso foi em parceria com Wilder, tanto como seu secretário de Infraestrutura quando enviando verbas conquistadas como senador. Nessa competição de obras e outras serventias, Daniel nada fez por Goiás em seus mandatos de vereador, deputado estadual e federal, além da atual posição como vice. É jovem, pode ser que ainda faça muito, talvez nos nove meses em que vai assumir o cargo em 2026, caso Caiado renuncie para ser candidato a presidente da República, que é seu sonho.
Os maiores abandonados
A base de Marconi, que migrou para Caiado mais rápido que Ayrton Senna, está de volta, ainda que os detentores de mandato não possam assumir por lealdade administrativa ao atual governador ou a Lula. O desafio de Wilder é gigantesco, unir os bolsonaristas, que incluem 95% dos caiadistas. A tarefa de Daniel é hercúlea, juntar os iristas (é provável que nem 5% sejam fiéis ao filho de Maguito Vilela), os MDBistas autênticos e os caiadistas de verdade, aqueles que estavam com o governador antes de ele morar no Palácio das Esmeraldas, grande parte deles se sentindo abandonada, pois foi preterida por gestores de outras paragens.
Foi interessante acompanhar, nas últimas semanas, a guerra de multidões travada entre Marconi e Caiado, o ex-governador com saliva e bons vídeos, o atual com sua maior obra, o Cora, e o próprio 76º aniversário. Estão se mobilizando, tentando, fazendo, articulando. Marconi preside o diretório nacional de um partido nanico e Caiado o estadual de outro que nacionalmente é mais dividido que Minas Gerais. Enfim, duas siglas com as quais seus líderes não podem contar. Wilder não está promovendo eventos, apesar de os últimos terem juntado centenas de lideranças. Quanto a Daniel, nem tenta voar com as próprias asas, como os graúdos históricos de seu partido: Iris Rezende com os mutirões e os aniversários em sua fazenda de Guapó, Maguito com as atividades esportivas e a distribuição de alimentos, Henrique Santillo com a saúde na porta da casa de quem precisava.
O que pesa contra os três principais candidatos
Daniel Vilela deveria estar rezando sem parar em paróquias católicas, fazendo mandinga e macumba, sendo ungido por pastores, indo a centro espírita, tomando banho em terreiro de candomblé, enfim, se valendo de tudo para impedir que Ronaldo Caiado se candidate a presidente da República. Caso insista em se mudar para o Palácio do Planalto, Caiado vai ficar no Sul, no Sudeste e nos dois Mato Grosso fazendo campanha dia e noite. Gracinha Caiado, sua esposa, tem muita popularidade na Bahia, onde nasceu. Da terra natal, Dona Gracinha pode ir a Pernambuco, Sergipe e Alagoas com frequência apresentar as propostas do marido. Tá, tudo bem, e quem vai fazer campanha em Goiás para Daniel? Enviem respostas nos espaços de interatividade das mídias sociais de O HOJE.
O problema de Marconi é a rejeição, advinda da mesma safra dos que o aprovam: os quatro mandatos de governador, já que foi um senador mediano (teve ótimo mandato de deputado estadual e um quase bom de federal).
Pesa contra Wilder o estilo de fazer política. Como se elegeu senador sem campanha eleitoral, acha que pode chegar ao governo por votos que em 2026 serão alcançados também sem sair de casa. É um erro de análise de conjuntura. As circunstâncias que o levaram ao Senado em dois mandatos são praticamente irrepetíveis. Precisa promover mais eventos, como o Panelão do Gugu, sucesso absoluto na recente temporada do Araguaia, 20 mil banhistas na praia se alimentando de comidas típicas naquele paraíso que é o rio predileto dos goianos.
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