Bruno Goulart
Depois de um período de instabilidade e sinais de esvaziamento político, o presidente Lula da Silva (PT) conseguiu reorganizar as forças no Congresso Nacional e garantir uma demonstração de fôlego político. A aprovação do projeto de corte de gastos, na última quarta-feira (29), por 286 votos a favor, simbolizou a retomada da articulação do governo com a base aliada e partidos do Centrão, o que abre caminho para a votação de outras matérias prioritárias nas próximas semanas — entre elas a PEC da Segurança Pública, a MP do IOF e o Orçamento da União para 2026.
Até a semana anterior à votação, o governo Lula havia empenhado apenas 3% das emendas de comissão, o que alimentava o descontentamento entre deputados da base. No entanto, após uma ofensiva coordenada pela ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais), o índice saltou para mais de 60%, o que destravou apoios e apaziguou tensões com legendas como PP, Republicanos e União Brasil, que demonstravam resistência à pauta econômica do governo.
O projeto aprovado deve gerar R$ 25 bilhões em receitas extras, com combinação de cortes de despesas e o fechamento de brechas em créditos tributários de PIS e Cofins. Além disso, recupera parte do conteúdo da antiga MP 1.303, que caducou por falta de apoio no Congresso. A nova versão do texto foi incluída em um projeto já em tramitação que permite ao governo evitar o desgaste de editar uma nova medida provisória e concentrar esforços na negociação política.
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Segundo interlocutores do governo Lula, a votação serviu como um “termômetro” da recomposição da base. “Foi uma demonstração de que o governo voltou a ter controle da pauta e que há disposição de dialogar”, avaliou um assessor próximo a Gleisi. Nos bastidores, o movimento também é interpretado como um passo estratégico diante do cenário eleitoral de 2026, no qual Lula já confirmou a intenção de disputar a reeleição.
Reaproximação do governo Lula com o Centrão
Desde meados de outubro, o governo Lula tem feito uma triagem dos cargos de segundo e terceiro escalões ocupados por indicados de parlamentares que votaram contra o Planalto em matérias estratégicas. A substituição desses nomes por aliados mais fiéis tem sido conduzida por Gleisi Hoffmann e pelo ministro Rui Costa (Casa Civil), com aval direto do presidente.
Essa reconfiguração administrativa visa, ao mesmo tempo, punir infiéis e recompensar os que se mantiveram leais. “O governo está reorganizando as forças para garantir sustentação até o fim do ano e já mirar 2026”, disse um dirigente petista.
Em paralelo, líderes partidários têm aproveitado o novo clima de negociação para se reaproximar do Planalto. Deputados de siglas do Centrão, que haviam se afastado após o impasse da MP 1.303, voltaram a buscar interlocução com a equipe de articulação política por temer ficar de fora das futuras liberações de recursos e cargos.
PEC da Segurança Pública
Entre as próximas prioridades do governo está a PEC da Segurança Pública, que deve avançar em tramitação conjunta com outros projetos de combate ao crime organizado. De acordo com Gleisi Hoffmann, o governo Lula articula uma reunião com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para alinhar o cronograma de votações.
Corrida pelo Orçamento e pela MP do IOF
Outra frente sensível é a MP do IOF, que reestrutura a cobrança do imposto sobre operações financeiras e faz parte da estratégia de recomposição fiscal do governo. O texto, que enfrenta resistência no Legislativo, deve ser reapresentado em forma de projeto de lei com tramitação em regime de urgência.
Paralelamente, a equipe econômica quer acelerar a discussão do Orçamento de 2026, cuja aprovação é vital para garantir previsibilidade fiscal e abrir espaço para novas políticas sociais. (Especial para O HOJE)










