As pesquisas mostram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ganha, no 1º e no 2º turno, de todos os seus adversários. Um detalhe define a vitória: Lula é o único candidato da esquerda, enquanto os candidatos que se dizem de direita se espalham por cinco partidos, Michelle Bolsonaro (PL) e os governadores Ronaldo Caiado (GO) do União Brasil, Romeu Zema (MG) do Novo, Tarcísio de Freitas (SP) do Republicanos e dois do PSD, Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS). O vice de Lula é completamente o seu oposto, enquanto seus opostos querem vices iguais a si. Ou seja, as dificuldades só aumentam.
Para tomar consciência de que deveria ampliar as alianças além de seu ramo ideológico, o PT perdeu as eleições presidenciais de 1989, 1994 e 1998. Para o pleito seguinte, o partido tomou uma decisão que mudou o panorama, unir-se ao lado contrário de sua corrente de seu pensamento. Duas lideranças lulistas, José Dirceu e Delúbio Soares, goiano de Buriti Alegre, convenceram os organismos internos do petismo a aceitarem a “Carta ao povo brasileiro”, que após a aprovação foi lançada por Lula em junho de 2002. Em decorrência dela, foi escolhido para companheiro de chapa um dos maiores empresários do Brasil, o mineiro José Alencar, que à época plantava e industrializava algodão em Goiás.
Seria a hora de a direita, composta em sua maioria por um pessoal que até há pouco tempo nem sabia o que é isso, agora, se é que sabe, tornou a ideologia uma camisa de força. O presidente do PP e da federação que seu partido fez com o União Brasil, o senador Ciro Nogueira (PI), pretende ser vice de Tarcísio. Já o governador de São Paulo gostaria que o acompanhasse a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro ou seu colega Zema, na retomada da política do café (SP) com leite (Minas).
Os políticos da direita tiveram tamanho empenho para a solidão que não se vê alternativa nas outras fontes. Preferem morrer de calor a abrir o leque. Ciro Nogueira tanto se esforçou que conseguiu brigar com Caiado por causa de nada. Eduardo Bolsonaro, o deputado por São Paulo que era favorito ao Senado, está de mal de grande parte do espectro do pai. O empresário da religião Silas Malafaia está disponível para brigar com quem se sentir apto a cair na baixaria, desde que o oponente seja fora da esquerda. Enfim, as primeiras derrotas da direita nada têm a ver com Lula.
Nas duas vezes em que se candidatou a cargo majoritário, ambas à Presidência da República, Jair Bolsonaro preferiu generais do Exército, o gaúcho Hamilton Mourão em 2018 e o mineiro Walter Braga Netto em 2022. Na 1ª, chutou um cachorro morto e ainda teve a disputa adiada para o 2º turno, em que venceu por 55,13% a 44,87%. Na 2ª, enquanto Lula fez tudo para engrossar seu exército, Bolsonaro se esforçou para engessar o seu.
Uma fatia do PT rosnou, xingou, babou, de nada adiantou: Lula buscou no PSDB o governador de São Paulo por quatro mandatos, Geraldo Alckmin, um médico que foi presidente de Câmara Municipal e prefeito de Pindamonhangaba (SP), deputado estadual e federal. Atraiu a revelação da campanha de 2022, Simone Tebet (MDB/MS). E ainda assim deu upa para ganhar: Lula 50,9%, Bolsonaro 49,1%.
Cabe à direita aprender com os insucessos – perdeu para o PT em 2002, 2006, 2010, 2014 e 2022. A Lula bastaram três sovas.
Estratégia nacional pode se repetir em Goiás
O ex-governador José Eliton, então no PSDB, apoiou o PT na eleição de 2018, no 2º turno. Agora, foi procurado pela direção do partido de Lula para ser candidato ao Palácio das Esmeraldas pelo PSB, ao qual se filiou após sair do tucanato. Com isso, os petistas passam a ter um nome com algum estofo, após o petardo sofrido com Wolmir Amado em 2022. Se o governadoriável for minimamente competitivo, o partido ganha passa a ter palanque para a reeleição de Lula e dá a seu eleitor a opção de votar na legenda para deputado federal, sonho maior de todos as legendas.
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Nem assim a direita aprende, repetindo no Estado o erro do nacional. O suposto grupo de Bolsonaro se esmurra o tempo inteiro. Os caiadistas têm um candidato a governador do MDB, o vice de Caiado, Daniel Vilela. O PL de Bolsonaro está com o senador Wilder Morais para enfrentar Daniel. É o verbo correto: enfrentar. Os bastidores são quentes entre as duas turmas, mas ambas não apresentam a mesma fúria contra o PT. O próprio Marconi Perillo tem trabalho para ser o anti-Caiado, porque quem mais fala mal do governador são alguns que se dizem seus amigos.