Muitos são os sinais e consequências do acúmulo de forças do governo Lula. A começar pela ausência do chefe do Planalto em Goiânia para inaugurar a obra da Saneago na manhã desta sexta-feira (17), onde a presença do petista foi substituída pelo ministro das Cidades Jader Filho (MDB). Após fortes críticas de Lula direcionadas ao Congresso Nacional em relação à atuação da extrema direita que, segundo o presidente, nunca esteve em um nível tão baixo como nos dias atuais, a suspeita é de que o petista não comparecerá à capital goiana por conta das repercussões quanto ao seu embate com o Congresso.
Isso se soma a outros fatores que colaboram para a não disponibilidade de Lula em função da conjuntura política do País. A exemplo disso, têm-se o desligamento do governo com partidos do Centrão, o que resultou em demissões de membros ligados aos partidos do centro que atuavam na gestão por se posicionarem contra o projeto do governo que determinava a cobrança de impostos de empresas e instituições financeiras.
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Ao O HOJE, o analista político Pedro Célio vê de uma outra forma a iniciativa de Lula em não estabelecer vínculos com partidos do Centrão. “Tudo indica que a estratégia não é desligar o Centrão. Parece-me que se busca um rearranjo no esquema de apoio, tentando substituir peças desse segmento, por sinal muito heterogêneo, por outras indicações feitas por quem efetivamente apoia (ou se compromete a apoiar) o governo.”
Já o sociólogo Jones Matos diz acreditar que os partidos afetados pelas demissões feitas por Lula e que se posicionaram contra projetos da gestão são os mesmos que vão voltar a estabelecer vínculos com Lula, com foco no período eleitoral do próximo ano. “Lula tem uma presença muito forte, principalmente no Nordeste brasileiro. Então, eu acredito que muitos desses partidos [criticados por Lula] vão filiar ao próprio PT ou a partidos aliados para poder tentar viabilizar suas eleições nos Estados. Vai acontecer muito isso.”
Separação seguida de reconciliação
Matos estende essa mesma percepção para os ministros que atuam no governo e que compõem partidos que, antes, tinham ligação com a atual gestão. “O ministro Celso Sabino, do Turismo, vai se filiar ao PT e será candidato ao Senado pelo Pará. O André Fufuca [ministro do Esporte], a mesma coisa: vai filiar ao PT ou a algum partido aliado, mas prefere se filiar ao PT. Isso vai acontecer.”
Lula com Silvio Costa Filho (Republicanos) e André Fufuca (Partido Progressistas) no ato de posse dos ministros indicados pelo Centrão – Créditos: Ricardo Stuckert/PR
O sociólogo conclui ao explicar como as estratégias adotadas por Lula podem influenciar nas eleições do próximo ano. “O governo está fazendo o jogo e isso vai ter influência nas eleições de 2026. Vamos aguardar e isso certamente vai impactar positivamente o governo.”
Sem recuo
Para tornar o embate governamental ainda mais tenso, a base do governo não recua e reforça as iniciativas de separação de forças no Congresso. “A nossa aliança não é com a extrema direita ou o Centrão. Nossa aliança é com o povo, com a classe trabalhadora, com os sindicatos. Só vamos conversar com os partidos progressistas, que defendem a democracia… E nessa aliança nós vamos dar uma grande votação para o presidente Lula aqui em Goiás”, afirmou a deputada federal e presidente estadual do PT, Adriana Accorsi.
Em contrapartida, a oposição reage às críticas de Lula relativas às posições contrárias dos parlamentares aos seus projetos e reitera que se há algo de ruim, hoje, no Brasil, é a gestão petista. “Pior é um governo que persegue opositores, nomeia amigos como ministros do Supremo Tribunal Federal para blindar seus próprios interesses e desrespeita as instituições da República”, ressalta a liderança da oposição na Câmara.
A base se posiciona e chega ao ápice do conflito ao dizer que os partidos contrários às decisões do Governo não têm de atuar na gestão. “Essa votação prejudicou o Brasil, prejudicou o povo brasileiro e não o presidente Lula. Nesse sentido, essas pessoas, esses deputados, esses partidos, não têm de estar governando o País junto com o presidente Lula”, desabafa Accorsi. (Especial para O HOJE)