Nilson Gomes-Carneiro
O radicalismo impede que se elejam os melhores candidatos quando eles estão nas chapas que desagrada à ideologia. Por isso, o Brasil não teve na Presidência da República alguns de seus melhores quadros, como o advogado Ruy Barbosa, que perdeu (36% x 64%) para o marechal Hermes da Fonseca em 1910, estreia da disputa entre candidatos – os cinco primeiros presidentes foram o autor do golpe que derrubou Dom Pedro II e outros quatro candidatos únicos. Houve dois períodos de ditadura, os 15 anos de Getúlio Vargas (1930/45) e os 20 dos militares (1964/1985), dois bons governos (JK 1956/61 e FHC 1995/2002), dois vices que consertaram estragos dos antecessores (Itamar Franco, 1992/95, e Michel Temer, 2016/18).
Além de Ruy Barbosa, cuja derrota só se equipara na América Latina à do escritor Mario Vargas Llosa no Peru, o Brasil desperdiçou oportunidades de eleger Mario Covas, Ciro Gomes, Henrique Meirelles e Enéas Carneiro. O mesmo está ocorrendo agora. Há bons nomes, como os de seis governadores, Eduardo Leite (RS), Ibaneis Rocha (DF), Ratinho Jr. (Paraná), Romeu Zema (Minas Gerais), Ronaldo Caiado (GO) e Tarcísio de Freitas (São Paulo). Essa meia dúzia seria a chamada direita liberal, que se distingue do que os lulistas apelidaram de extrema direita, resumida aos bolsonaristas. Portanto, sobram alternativas, mas nenhuma une a nação em torno de seus propósitos.
O eterno Fla-Flu histérico paralisa o debate que realmente interessa à população. Apenas os contendores aguentam a gritaria, mais estridente nas redes sociais, dos fãs do ex-presidente Jair Bolsonaro contra os apaixonados por Luiz Inácio Lula da Silva e vice-versa. É impossível convencer alguém, pois reina a baixaria, há um deserto de ideias e cada qual contempla a própria barriga. O que é importante para esses grupos quase nunca é o que o Brasil quer. Lula e Bolsonaro, conforme se viu no debate da TV Globo em 2022, estão acima da histeria. Ambos são péssimos para argumentar, mas ao menos poupam os ouvidos da audiência da profusão de palavras chulas pronunciadas por seus aliados nos vídeos distribuídos por aplicativos.
Não se sabe o que vão fazer com a nação
A mente dos que sonham com o Palácio do Planalto é um cofre cuja senha apenas os partidos têm. Está no escuro o que os pretendentes ao Executivo federal pensam acerca das relações exteriores, principalmente porque vão conviver no mínimo durante dois anos com o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Por enquanto, a pauta tem sido de uns prometendo anistia às vítimas do Supremo Tribunal Federal e outros distribuindo benesses oficiais. Nenhuma sílaba sobre a desindustrialização, o seguro para a produção rural, a mudança para as energias limpas e outros problemas que exigem urgência. Mas enquanto os fanáticos pelos dois lados estiverem dando likes e seguindo seus ídolos, o Brasil vai a reboque.
30 perguntas que colocam os candidatos para correr… delas
Os presidenciáveis precisam se comprometer com as pautas nacionais, não as de seu partido, mas as que incomodam. Então, precisam começar respondendo às interrogações abaixo:
1 – No seu mandato acabarão os subsídios fiscais que drenam R$ 647 bilhões dos cofres públicos? (isso em 2023, agora deve ser mais uma trégua no populismo).
2 – Acha correto haver mais gente recebendo do governo sem trabalhar do que os empregados com carteira assinada?
3 – Tem coragem de brecar os fundões eleitoral e partidário?
4 – É brabo o suficiente para encarar as facções?
5 – Vai imitar Lula e fazer acordo com tráfico e milícia antes de entrar na favela?
6 – Anima-se a brigar com os grupos de direitos humanos e cobrar dos presos o aluguel da cadeia e o pagamento pelas marmitas?
7 – Vai destinar quanto para a Lei Rouanet bancar espetáculos de artistas ricos?
8 – Apoia o próprio impeachment se não duplicar a BR 153, também conhecida como Transbrasiliana e vários outros nomes, que atravessa o Brasil de Norte a Sul e mata gente de Sul a Norte?
10 – Aceita receber chuva de ovos se empregar parentes no governo?
11 – Compromete-se a tratar os parlamentares do Centrão do mesmo jeito que eles tratam os recursos públicos?
12 – Se um ministro for acusado de roubar, o Sr. vai demiti-lo imediatamente, esperar a apuração do caso ou chamá-lo para exibir a sua parte?
13 – Vai vender a Petrobras ou conservar a fábrica de escândalos financeiros?
14 – Os Correios serão privados no 1º mês de governo ou no 2º?
15 – Promete desmontar o Gabinete do Ódio? Ou vai acabar com o dos outros e montar o seu?
16 – A orgia das diárias é do seu conhecimento ou com sua participação?
17 – Compromete-se a viajar ao exterior somente com os auxiliares necessários às negociações e apenas para destinos que vão render dinheiro ao Brasil?
18 – Seus filhos são empreendedores com recursos públicos ou honestos?
19 – Seu cônjuge será fonte de problemas ou vai ficar de boa, sem gerar crises?
20 – Numa briga entre Estados Unidos e Irã, o Brasil ficaria com quem?
21 – Hamas e Hezbollaz serão considerados grupos terroristas ou ONGs de companheiros?
22 – Morreu ou se aposentou um ministro de Tribunal Superior. Seu indicado será alguém do grupo ou alguém que presta?
23 – As emendas Pix e assemelhadas receberão qual tratamento, o de dinheiro roubado ou de dinheiro furtado?
24 – É seu propósito liberar as drogas ou apenas o álcool e o vape?
25 – Em quantos meses vai ser dado o start na extração de petróleo na Margem Equatorial?
26 – Ibama e Instituto Chico Mendes vão continuar mandando no Brasil?
27 – Se criar algum imposto, taxa ou algo do gênero pode ser exilado na Namíbia?
28 – O senhor e sua família aceitam ser tratados em hospitais públicos da periferia?
29 – Como pretende resolver a questão da Previdência Social?
30 – Se for pego na mentira, promete renunciar? Ou está mentindo até neste questionário?
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