O Senado é chamado de Câmara Alta. Atualmente, altíssima para alguns e baixaria para outros. Há diversas propostas parlamentares para acabar com ele, as críticas vão do PT ao PL, os dois lados da polarização política e eleitoral. Motivo: a simbiose entre os dois presidentes, o do Senado e o da República. Quais deles? Escolha, porque têm sido todos, inclusive os atuais e seus antecessores. É o oposto da outra Casa do Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados.
Atualmente, os comandantes são Luiz Inácio Lula da Silva (República), Davi Alcolumbre (Senado) e Hugo Motta (Câmara). Seus antecessores Jair Bolsonaro, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira passaram pelos mesmos polos – a encrenca está sempre na Câmara, a autoproclamada Casa do Povo, que na verdade é a Central do Centrão. O atual morador do Palácio do Planalto, como os demais, vem empilhando projetos rejeitados, mesmo pagando caro a cada ideia. Alcolumbre é fácil, basta bater na beira do cocho que ele se aprochega; Motta não aceita cabresto – quer botar a cangalha, bota, mas noutro poder.
A mais recente rebordosa entre o Palácio do Planalto e a cuia virada aconteceu com a Lei da Antifacção. Como o autor é o próprio governo, Motta tirou o relator da oposição, mas não um deputado qualquer, o próprio anti-Lula em pessoa, Guilherme Derrite, o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, que reassumiu a cadeira de deputado federal enquanto tramita a ideia. E dá canseira na base lulista.
Claro que ia dar zebra sem listra. Deu. O novo relator, pré-candidato a senador contra os nomes do Governo Federal, incluiu no texto a equiparação de organização criminosa a terrorismo. Fez mais ou menos o óbvio, já que PCC e Comando Vermelho deram um passo à frente no conceito de quadrilha e pularam direto para máfia. Sim, o que fazem é terrorismo:
Dicionário Houaiss – terrorismo é “modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror”, “emprego sistemático da violência para fins políticos” como “a prática de atentados e destruições por grupos cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder”, “ameaça do uso da violência a fim de intimidar uma população”. Eureca! Essa aí: ameaça do uso da violência a fim de intimidar uma população. O que as 30 facções que tocam o terror no Brasil inteiro fazem dia e noite: não apenas ameaçam como usam violência e intimidam uma população.
Mais que Marcos Mion, estão na moda os “Marcos Legais”. O governo pretende fazer do projeto antifacção o Marco Legal do Combate ao Crime Organizado. Tudo lorota se não for afastada a ordem do Supremo Tribunal Federal que impede a Polícia de entrar nas favelas do Rio de Janeiro. O que pode ser pior que a lacração em assunto sério? O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) dar piti. E ele apelou feio com Hugo Motta. A energia que não gasta para combater o CV no Estado pelo qual é eleito, ele emprega para contestar o presidente da Câmara por um ato administrativo normal. Algo do tipo “traficante é vítima do usuário”.
Por trás das explosões verborrágicas dos petistas está outro modismo, o controle da narrativa. Com Jair Bolsonaro condenado, preso e doente, Lula ficou sem seu malvado favorito, está sem saco de pancada para esmurrar. Outra vítima do presidente do Brasil é seu colega dos Estados Unidos – colega é esforço de retórica para não repetir palavras: Donald Trump quer distância de Lula depois dos discursos na 4ª Cúpula Celac-UE (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos e União Europeia), na Colômbia.
Se não pode bater em Bolsonaro, não pode bater em Trump, só lhe resta bater perna num iate ancorado em Belém (PA) por preço com todos os indícios de subfaturamento – tem até um empresário suspeito no meio. Se já tivesse virado lei, o projeto do governo relatado por Derrite alcançaria o refinamento do terrorismo a ponto de se investigar como “emprego sistemático da violência para fins políticos” esse tipo de crime em que um gasta, outro desconfia e o suspeito declara sigilo de cem anos?








