A comunicação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apostará em um novo mantra para recuperar a popularidade da gestão petista. A narrativa da comunicação presidencial passou a investir em uma nova linguagem: agora, o foco é criar um debate que coloque os ricos contra os pobres no País.
A estratégia, ao que tudo indica, caiu nas graças da cúpula do Palácio do Planalto — que vê com bons olhos a narrativa adotada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom). A tentativa da comunicação é resgatar a imagem de Lula como ‘homem forte’ na briga pelos interesses do povo. Um dos ganchos é o projeto que isenta os trabalhadores que recebem até R$ 5 mil do Imposto de Renda (IR).
Para o mestrando em comunicação pela Universidade de Federal de Goiás (UFG) e especialista em marketing político, Felipe Fulquim, a estratégia tende a funcionar caso o governo de fato consiga colocar o discurso em prática. “A estratégia discursiva de ricos x pobres vai funcionar se efetivamente o governo conseguir colocar em prática a taxação das grandes fortunas ou fizer alguma medida prática que mexa no bolso de uma elite financeira — que é numericamente menor que o todo da população, mas que tem maior força econômica para ditar os ritmos da economia e da política”, disse o especialista.
“Justiça social passa por dar condições de equidade para que pessoas pobres consigam viver melhor e fazer com que os mais abastados contribuam de forma justa para uma sociedade mais sustentável. Mas, estrategicamente, despertar rivalidades que acaloram o debate e por vezes criam cortinas de fumaça para os problemas que não são resolvidos na prática”, concluiu Fulquim.
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Congresso como alvo
Após dobrar a aposta do Congresso Nacional no impasse do aumento sobre o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) — e levar a questão para o Supremo Tribunal Federal (STF) —, o governo federal também disputa espaço com o Centrão ao pautar o debate nas redes sociais e tentar emplacar a ideia do Congresso como “inimigo do povo”.
Uma pesquisa do instituto Quaest analisou mais de 4,4 milhões de postagens feitas entre os dias 24 de junho e 4 de julho nas redes sociais (X, Instagram, Facebook e YouTube). O resultado mostra que 61% das menções criticam o Congresso Nacional, 28% das postagens foram enquadradas como neutras e 11% atacavam o governo Lula.
No curto prazo
O especialista em marketing político pela Universidade Federal de Goiás (UFG), Luiz Carlos Fernandes, entende que, ao menos a curto prazo, o resultado foi negativo para os parlamentares.
“O Congresso e o mercado acharam que poderiam emparedar Lula, mas ele teve iniciativa de peitar o Centrão. Não sei dizer o resultado a médio e longo prazo, mas a curto prazo inverteu o jogo. O Congresso está emparedado agora. Além disso, a iniciativa, que parece que é mais do PT que do governo Lula, trouxe a novidade de mobilizar ações da militância e segmento organizado, tanto física quanto digitalmente, coisa que há muito tempo não se conseguia. Soma-se a isso o uso de IA para ganhar engajamento enorme, nos moldes dos conseguidos pela extrema direita”, avaliou Fernandes.
Opção perigosa
Já Fulquim entende que a narrativa “Congresso inimigo do povo” é “perigosa para qualquer governo” em razão da influência que os parlamentares “de diferentes matizes políticas e eleitorais” exercem em seus redutos eleitorais. “Esse discurso pode se voltar contra o próprio governo em certa medida se não souber demonstrar consistentemente as provas que sustentam esse argumento”, avaliou o especialista. (Especial para O Hoje)
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