Até os pombos das praças, aqueles belos pássaros especializados em manchar blusas e janelas, sabem que o relatório do ministro Alexandre de Moraes será pela condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro e sete de seus auxiliares. No cenário mais favorável aos bolsonaristas no julgamento na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, vão perder de 4 votos (Moraes, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin e Flávio Dino) a 1 (Luiz Fux). Porém, o placar generalizado deve ser de 5 a 0, o que rebaixa os participantes sem direito a repescagem.
Aqui não se discutirá a individualização de condutas, o duplo grau de jurisdição, o juiz natural ou qualquer outro princípio do Direito. Não haverá juízo de valor nem gradação de certo e errado. A pauta é se haverá – spoiler: haverá, sim – consequências imediatas, até antes das próximas eleições, inclusive nas de Goiás, tanto para os aliados de Jair Bolsonaro quanto para seus adversários, com reflexo no raciocínio de quem não é uma coisa nem outra – e esses são a maioria.
Dino tinha assessor goiano e Cármen Lúcia é cunhada de suplente de Marconi
Quando militava no Partido Comunista do Brasil, Dino era colega de partido do casal ex-deputada Isaura Lemos e ex-vereador Euler Ivo. No Ministério da Justiça e Segurança Pública, foi auxiliado pelo ex-vereador em Goiânia e ex-deputado federal Elias Vaz.
Cármen Lúcia é irmã de Luiza, casada com o ex-deputado federal constituinte Jalles Fontoura (PSDB), que na eleição passada foi candidato a suplente de senador de Marconi Perillo, de quem foi também secretário da Fazenda. Jalles é filho de Otávio Lage, último governador eleito antes do regime militar.
O presidente da turma é Zanin, advogado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do Petrolão, que oficialmente era a Operação Lava Jato.
De 5, PT indicou 4, que definirão o que é tentativa
Dos cinco ministros do colegiado, quatro saíram de governos do PT. Lula indicou três: Zanin, Dino e Cármen. Fux: Dilma Rousseff. Moraes: Michel Temer (MDB).
São cinco também os crimes identificados por Moraes e denunciados pelo procurador-Geral da República, Paulo Gonet. Os piores são liderar organização criminosa armada, tentar abolir com violência o estado democrático de direito, tentar dar golpe de estado, deteriorar patrimônio tombado e cometer dano contra o patrimônio da União. São raríssimos os crimes de tentativa e, durante o governo de Jair Bolsonaro, o então ministro e hoje senador Sergio Moro teve a “brilhante” ideia de acabar com a Lei de Segurança Nacional levando seus crimes para o fim do Código Penal. Foi aí que o delito de “tentar” ganhou as mesmas penas de executar. Então, o que os magistrados entenderem que é tentativa, já é crime e ai de quem eles acharem que cometeu. E o que é tentar? O que os ministros disserem que é.
Condenação está escrita na estrela
Haverá repercussão política com incidência nas eleições porque cada grupo vai se valer do que estiver a seu dispor. Caso Jair Bolsonaro seja condenado por todos os crimes, e é o que está escrito nas estrelas vermelhas, seus adversários vão espalhar que agora ao receber pena ele se iguala a Lula, perdendo o discurso da primariedade.
Os bolsonaristas, entre eles o senador Wilder Morais e o deputado federal Gustavo Gayer, vão continuar dizendo que ele não roubou, não se corrompeu, nada fez contra as finanças populares.
No meio dos polos está o eleitor isento, que é a maioria
Entre os dois polos está o eleitor sem partido, sem ídolos na política, sem dívidas com governantes, sem motivo para bajular um polo ou outro. Essa faixa da população, que é a maioria, vai pesar sem paixão, vai pensar sem militância.
Os dois grupos não colocaram goianos no 1º escalão – o máximo a que Lula cedeu foi para Olavo Noleto ser o nº 2 da Articulação Política, com breve interinidade. Bolsonaro ia nomear Wilder para o Ministério da Infraestrutura, mas o próprio senador preferiu o que seu grupo acabou decidindo: indicar Tarcísio. Temer chegou a nomear dois goianos, Alexandre Baldy no Ministério das Cidades e Renato Borges Dias na direção-geral da Polícia Rodoviária Federal.
Outro problema, os efeitos
Outros efeitos da sentença penal condenatória de Bolsonaro serão esmiuçados:
O ex-presidente vai cumprir a pena em regime inicialmente fechado ou, devido a seu estado de saúde e à idade (70 anos), será mantido em prisão domiciliar?
Vídeos de Bolsonaro poderão ser usados na pré-campanha e durante o Horário Eleitoral?
Ele vai ficar isolado a ponto de os políticos não terem acesso no período da campanha?
A 1ª Turma vai manter o estilo das decisões de Moraes, já prevendo expressamente na sentença o dia em que o apenado vai progredir de regime?
Progredir é melhorar, sair do regime fechado, por exemplo, para o semiaberto (fica o dia trabalhando fora da cadeia e, à noite, volta para dormir atrás das grades) e aberto.
Família será fundamental para governo e Senado
Outra dúvida será acerca do futuro de Goiás e o grau de engajamento da família Bolsonaro nas eleições de governador, senador e deputado. Se a ex-primeira-dama Michelle de Paula for candidata ao Senado pelo Distrito Federal, vai valer ouro sua participação nos municípios goianos do Entorno de Brasília.
Outro integrante do clã cotado para disputar na vizinhança é o vereador carioca Carlos Bolsonaro, o gênio do marketing digital que o PL nacional quer transferir (e ele, não) do Rio de Janeiro para outra unidade da federação e o Mato Grosso é um dos escolhidos. Uma campanha em conjunto com Carlos renderia bons frutos por aqui, principalmente nas regiões Oeste, Sudoeste e do Vale do Araguaia.
Outro vereador filho do ex-presidente é Jair Renan, com mandato em Balneário Camboriú, a Dubai brasileira em Santa Catarina. Renan foi notícia quanto a mudar o título eleitoral para Valparaíso ou outro grande município do Entorno do DF, mas a operação não vingou. Se ele vier participar de comícios, carreatas e gravações terá bons resultados, também.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, que no momento tenta continuar exercendo o cargo a partir dos Estados Unidos, e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) são amicíssimos do senador Wilder Morais e do deputado federal Gustavo Gayer. Há um certo suspense quanto ao futuro de Eduardo, que comprou a briga do pai em palcos internacionais, viu que ficar no Brasil não interferiria na realidade e foi buscar ajuda com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Um vídeo de Eduardo pedindo votos também vale o peso do candidato em diamantes. Se ele puder vir para a campanha, será decisivo, assim como Flávio.
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