Bruno Goulart
A segunda sessão do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022 trouxe um movimento inesperado: generais de confiança de Jair Bolsonaro agora tentam se descolar do ex-presidente. As defesas de Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e de Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa – ambos do primeiro escalão do governo do ex-presidente – adotaram discursos que, na prática, afastam seus clientes de qualquer responsabilidade e deixam Bolsonaro cada vez mais isolado.
Defesa de Augusto Heleno
De um lado, o advogado Matheus Milanez, que representa Augusto Heleno, afirmou que o general já havia se distanciado de Bolsonaro ainda durante o mandato, especialmente após a aproximação do ex-presidente com o Centrão e a filiação ao PL. Segundo ele, Heleno não participava de reuniões relevantes e não tinha contato sobre qualquer tentativa de golpe. Para reforçar a versão, a defesa destacou até anotações pessoais do general, como a recomendação para que Bolsonaro tomasse a vacina contra a covid-19 — atitude que contrastava com a postura negacionista do então presidente.
Milanez também rebateu provas apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR), incluindo a polêmica frase de Heleno em uma reunião ministerial sobre a necessidade de “fazer alguma coisa antes das eleições”. De acordo com o advogado, a fala tinha sentido legalista: o general apenas defendia que, depois do resultado das urnas, não haveria contestação possível. “O que o general Heleno está trazendo aqui são falas até certo ponto republicanas: após as eleições não tem discussão, quem ganha a maioria dos votos leva”, observou.
Defesa de Paulo Sérgio Nogueira
Já a defesa de Paulo Sérgio Nogueira foi além e classificou o núcleo bolsonarista como uma “organização criminosa”. O advogado Andrew Fernandes afirmou que seu cliente atuou para dissuadir Bolsonaro de medidas golpistas e não participou de planos para impedir a posse de Lula. Questionado pela ministra Cármen Lúcia sobre o que exatamente o general teria desmotivado, Fernandes foi direto: “de qualquer medida de exceção”.
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A acusação contra Nogueira se baseia em relatos de que ele teria elaborado documentos críticos ao sistema eleitoral, a pedido de Bolsonaro. No entanto, a defesa alegou que não houve manipulação de relatórios das Forças Armadas e que não existe prova de adesão a qualquer plano golpista.
Defesa de Bolsonaro
Em paralelo, a defesa de Jair Bolsonaro insistiu em negar participação do ex-presidente na suposta conspiração. Os advogados Celso Vilardi e Paulo Bueno sustentaram que não há provas concretas contra ele, que teria sido “dragado” pelos fatos investigados. Criticaram a delação de Mauro Cid, apontando contradições em seus depoimentos, e minimizaram a existência das chamadas “minutas golpistas”, que nunca teriam saído do papel.
Para os defensores, Bolsonaro não atentou contra o Estado Democrático de Direito, nem incentivou os atos de 8 de janeiro. Eles lembraram que o ex-presidente autorizou a transição para o governo Lula e chegou a pedir a caminhoneiros que liberassem estradas.
Salvando a própria pele
No entanto, o contraste entre as falas é evidente. Enquanto Bolsonaro ainda tenta se defender como vítima de exageros da investigação, antigos aliados de primeira hora, como Heleno e Nogueira, buscam se desvincular completamente, reforçando a narrativa de que o ex-presidente caminhava sozinho em suas intenções.
Com esse movimento, o julgamento do STF deixa claro que a lealdade política dos generais não resiste ao risco de condenação. Ao tentar salvar a própria pele, eles ajudam a consolidar a imagem de Bolsonaro como cada vez mais isolado — tanto no plano jurídico quanto no político.
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