O vice-presidente estadual do Partido Liberal (PL), Fred Rodrigues, afirma que o pedido de calamidade financeira de Sandro Mabel (UB) é uma encenação, uma estratégia política da prefeitura. Segundo ele, o gestor municipal precisa passar para a população a situação de que há uma calamidade, que a cidade está ingovernável, para depois falar: ‘Olha, peguei a cidade completamente destruída e agora consegui apresentar esses resultados positivos aqui para vocês’. Na sua opinião, nesse começo de gestão, não deu tempo de Mabel ajustar as coisas, mas acredita que ele começou com o “pé esquerdo”. “Você não pode se apresentar como um gestor e, antes mesmo de ser empossado no cargo de prefeito, articular para passar uma nova taxa. O gestor é quem faz mais com menos”, disse.
Em uma entrevista exclusiva nos estúdios do Jornal O HOJE, Fred fala sobre os primeiros passos de Mabel na prefeitura, do suposto racha no PL, da possível composição estadual com a base caiadista e a plausibilidade da candidatura à presidência da República de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Conduzida pelos jornalistas Herbert Alencar e Raunner Vinicius Soares, o candidato à prefeitura de Goiânia de 2024 explica que apesar das pessoas tentarem denegrir a polarização, acha que é necessária.
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“Não acho que a polarização seja errada. O contrário de polarização é discurso único. Então, a polarização tem que existir, assim como tem que existir o centro também, que é aquele cara que ou não sabe muito bem o que quer da vida, ou não tem estudo suficiente para entender os vários elementos políticos, ou simplesmente quer ganhar em todas as situações. Mas tem que existir o centro. É natural na democracia e na república. Mas a polarização acho que vai ser mais interessante em 2026”, declara.
Gestão Mabel
Fred Rodrigues aponta que gosta de ser sempre muito justo em suas análises e que Mabel tem um desafio muito grande pela frente, uma vez que há muitas situações represadas. No entanto, todos sabiam o que iam ‘receber’. “Não acredito nessa dívida de R$ 3,7 bilhões que a prefeitura está ventilando. Se essa dívida existe, temos que fechar a Câmara Municipal, porque os vereadores não estão trabalhando”, afirma.
“Não estão honrando nem os seus salários e nem os votos que receberam. Porque o prefeito Rogério Cruz ia lá três vezes por ano para prestar contas. Não havia como construir uma dívida de R$ 3,7 bilhões sem que os vereadores percebessem isso, a menos que fossem as pessoas mais incompetentes da face da Terra. Eles não deviam estar lá se essa dívida realmente existe. No entanto, boa parte estão na base do Mabel”, disse.
Além disso, explica que a cidade tem uma grande capacidade independente do gestor e o fato de não ter quebrado na gestão Rogério Cruz mostra isso. “Na verdade, a LOA (Lei Orçamentária Anual) cresceu mais de 20%, de 2023 para 2024. Nesse sentido, a cidade gera muita riqueza, é uma cidade empreendedora, é uma cidade que tem tudo para crescer. Nesse momento, ele tem que fazer vários ajustes, talvez mais ajustes técnicos do que ajustes financeiros. E o fato dele ter se apresentado como um gestor gera uma expectativa e uma responsabilidade ainda maior nele”, ressalta.
“Na minha opinião começou errado, você não pode se apresentar como um gestor e, antes mesmo de ser empossado no cargo de prefeito, articular para passar uma nova taxa. O gestor é quem faz mais com menos. Não é quem quando precisa de mais dinheiro vai lá e aplica mais taxa na população para tirar dinheiro. Não pode fazer isso em uma empresa privada. E ele é um gestor da iniciativa privada, nunca foi gestor público”, disse. “Não é a nossa escola, já tinha falado que jamais ia criar taxas novas, ia lutar para acabar com o IPTU. Para mim, qualquer imposto de propriedade: IPTU, IPVA, é extremamente errado, é um aluguel que está pagando do bem que você comprou”, afirma.
Fred também fala da questão do trânsito, que sempre foi um crítico dos motociclistas na faixa de ônibus: “Eu ando de moto e vejo que isso realmente atrapalha, trazendo muita insegurança”. Na questão dos moradores de rua, pondera: “Acho que tem que ter um cuidado maior com esse tratamento [em relação a atuação truculenta de Mabel]. Apesar de, obviamente, a cidade também não poder ficar à mercê, e não pode ficar sendo tomada por moradores de rua. A cidade precisa se desenvolver. Precisamos oferecer uma alternativa digna para essas pessoas.”
“Nesse começo de gestão, quero ser bem justo, não deu tempo dele [Mabel] ajustar as coisas. Mas acredito que ele começou com o pé esquerdo”, disse.
Calamidade financeira
Sem mandato, o vice-presidente estadual do PL que não enxerga o pedido de calamidade como uma necessidade financeira, mas política. “Mais que uma necessidade em si, acho que é uma estratégia política da prefeitura do Mabel. Eles perceberam que a cidade não está na melhor das suas condições, mas ao mesmo tempo é uma cidade que arrecada muito. Os sucessivos aumentos que vemos na LOA e o próprio superávit que teve agora no primeiro trimestre mostram isso. No entanto, ele precisa passar para a população a situação de que há uma calamidade, que a cidade está ingovernável. Não é verdade”, declara.
Fred destaca que antes mesmo da campanha, Mabel se associou à maioria dos vereadores. “Ele tem esse apoio, e ainda tem a maioria na Câmara com uma oposição muito pequena. Na verdade, não há uma oposição contundente. O que ele pode fazer, e o que eu entendo que está tentando fazer nesse momento, é justamente passar para a população uma situação de ‘peguei a cidade arrasada, quebrada’. O Rogério Cruz era a vidraça da eleição, todo mundo batia com certa razão, pelo que foi construído ali. Claro, grande responsabilidade da Câmara dos vereadores – talvez 50% de responsabilidade”, afirma.
“Mas, o que o Mabel está fazendo, na minha opinião, é uma encenação. ‘A cidade está ruim, está horrível’, e daqui um ano, talvez no final deste ano, quando começar a organizar as contas. Mais pela capacidade da cidade de se auto-erguer, pela resiliência da cidade de Goiânia, do povo de Goiânia, vai começar haver um equilíbrio. Aí ele vai falar: ‘Olha, peguei a cidade completamente destruída e agora consegui apresentar esses resultados positivos aqui para vocês’”, disse. Fred não vê necessidade da calamidade financeira, com também não vê a necessidade da ‘Taxa do Lixo’. Segundo ele, o problema passa por uma readequação na Cormug, que não é fácil, mas a própria questão de readequação da “farra” já supria os valores cobrados pela ‘Taxa do Lixo’.
“Vejo como uma encenação, Goiânia não está nessa calamidade. Não havia necessidade dessa calamidade, assim como não havia necessidade da Taxa do Lixo”, afirma.
Briga do PL?
Ao intitula como bolsonarista, aponta que não há confusão, foi uma rusga do Major Vitor Hugo contra todo o partido: “Ele está praticamente isolado ali”. “A posição do Wilder, que é o presidente estadual, a posição do Gayer, que é presidente municipal de Goiânia, a minha posição, que sou o vice-presidente estadual, são as mesmas. Somente o Major Vitor Hugo estava, até então, quero acreditar que parou, depois de toda… mais uma vez, porque isso já aconteceu alguns meses atrás e foi para a imprensa, e a mesma coisa, mas continuou a articulação, continuaram as declarações. Quero acreditar que isso tenha cessado”, disse.
“Mas a grande questão é que eu vi alguns veículos de imprensa falando que há racha no partido. Não, não há racha no partido quando só uma pessoa está criando intriga com todo restante do partido. Inclusive com os vereadores, com os deputados estaduais, com os deputados federais, ninguém está com ele”, afirma.
O projeto do PL, hoje, é, para presidência, Bolsonaro, para o governo estadual, o senador Wilder Morais, e para o Sanado, Gustavo Gayer. “Todas as outras vagas, obviamente, de deputado estadual e federal serão definidas de acordo com a identificação com o partido para evitarmos oportunistas. Então, as três principais vagas: presidente, governador e Senado, já estão definidas”, comenta. Nesse sentido, Fred aponta que quando Vitor Hugo fala em aliança com a base caiadista, está excluindo todo um planejamento. Da mesma forma, não enxerga que há esse espaço do PL na chapa majoritária da base.
Sobre o Tarcísio de Freitas
Não exclui a possibilidade logo de cara, mas não enxerga a figura do governador de São Paulo como um líder capaz de lidar com a “guerra cultural”. Por questão de escolha, não vê nele alguém disposto com os ideais conservadores. Além disso, ele está em outro partido, o que pesaria muito na decisão.