No recente fim de semana, o grande bafafá não se resumiu aos da arbitragem do clássico Choque Rei, no Campeonato Brasileiro de futebol entre São Paulo e Palmeiras. O bafão se deu quando o senador Ciro Nogueira, presidente do PP e da federação União Progressista, citou trocentos pretendentes ao Palácio do Planalto, menos o que representa a sua agremiação, Ronaldo Caiado (UB).
Como, de forma planejada, Ciro não o citou, o governador de Goiás expressou o que meio mundo já sabe: trata-se de um “parlamentar inexpressivo”, perto de perder a reeleição no Piauí, que quer escapar da surra regional se abrigando numa chapa nacional, como vice na tentativa presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Claro, o alcance em prestígio de Caiado e Nogueira extrapola o tamanho político e econômico de seus Estados. Mesmo assim, os dois maiores líderes da federação União Progressista não se igualam aos Estados mais populosos do Brasil. São Paulo e Minas Gerais, via seus líderes, fizeram um pacto do café com leite particular — onde e com quem um for, o outro estará junto. Ambos são de direita, que já comemora as vitórias ante os fracionados adversários. Mas calma.
As duas faces dos ocupantes do Governo Federal, PT e aliados, inclusive o centrão, também se irmanaram no apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. São os dois lados da mesma moeda de R$ 1, a esquerda. Um detalhe as distingue, os lulistas permanecem juntos e estão atraindo quem era contra, a oposição já foi maioria e está como o feminino daquela personagem esquálida, smilinguida.
O que estão fazendo é uma reviravolta histórica, pois dividida costumava ser a esquerda com seus múltiplos nichos. No Brasil, a direita liberal está aos cacos eleitoralmente desde a morte de Tancredo Neves, em 1985. Nos 40 anos, vieram seu vice, José Sarney, com diversos esquerdistas nos ministérios, e Fernando Collor, que durou pouco, e outro vice, Itamar Franco, que recheou a Praça dos Três Poderes com socialistas. Fernando Henrique Cardoso passou oito anos fazendo o que imaginou para o pós-revolução do proletariado, antecipando a China. Aí, começou a Era PT, com breve interrupção para mais um vice, Michel Temer, e um militar, Jair Bolsonaro.
Enquanto isso, cadê a direita? Os presidentes a incluíram fora de tudo. Temer também nomeou esquerdistas e Bolsonaro preferiu seus colegas das Forças Armadas.
Agora, quando se imaginava que a direita estava encomendando os ternos de posse para vice e presidente da República, a desorganização ressuscitou as expectativas de Lula.
Tudo isso tem a ver com a discussão ácida entre Caiado e Nogueira. Enquanto isso, o presidente da República vai devorando o restinho da maioria ainda na oposição. Os oito grandes cargos dados por Lula ao centrão, sete ministérios e a presidência da Caixa Econômica Federal, estão sendo defendidos com pulso forte. Pelo PT? Não, pelos filiados ao União Brasil (3 ministérios), PSD (mais 3) e PP (1 e a CEF). Essa turma, junto com seus milhares de apaniguados, prefere sair das siglas a deixar as repartições.
Como esse pessoal deseja reconquistar o poder se nunca saiu dele? Caiado disse corretamente que Ciro foi atrelado a Lula. Sim, o PP inteiro, assim como Valdemar da Costa Neto e seu PL, hoje com Bolsonaro. Na verdade, não é que estiveram ou estejam com Lula: estão com o poder e no poder.
Tarcísio tem vários vices e pode unir oposição
Em Goiás, Tarcísio de Freitas conta com dois amigos que exerceram importância capital em sua nomeação a ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro. Eles são o senador Wilder Morais e o governador Ronaldo Caiado, que tinham moral com o Michel Temer e foram fundamentais no impeachment da presidente Dilma Rousseff e na indicação de Tarcísio e do ministro da Saúde, Luiz Mandetta. Curiosamente, são dois dos raros líderes de oposição fora da lista de prováveis companheiros de chapa de Tarcísio à Presidência da República.
Entre os falados ao cargo estão a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, o senador Ciro Nogueira e os governadores Romeu Zema (Minas Gerais) e Eduardo Leite (Rio Grande do Sul).
Ronaldo Caiado e o governador do Paraná, Ratinho Jr., são tidos como pré-candidatos apenas na cabeça da chapa.
De todos eles, o único capaz de unir as oposições é Tarcísio.
Se houver surpresa e Caiado for o vice de Tarcísio, agregará o partido, o agro, a segurança pública e a respeitabilidade. Tinha zero rejeição interna e provavelmente continua com aceitação geral, já que o PP tem dois cargos no 1° escalão do Governo Caiado.
Ratinho levaria o pai, o apresentador Carlos Massa, de quem herdou o apelido, pois quem vai guiar o PSD é o próprio presidente do diretório nacional, Gilberto Kassab.
Com Tarcísio, até o MDB iria — como sempre, divididíssimo. O maior cargo do partido é a Prefeitura de São Paulo, com Ricardo Nunes, bolsonarista fanático por Tarcísio.