Edinho Silva tem tudo para estar PT da vida com os goianos, suas vítimas preferidas. Depois de tentar, sem sucesso, fazer a sucessora em Araraquara (SP), terminou de forma melancólica seu mandato de prefeito e foi obrigado a passar a faixa para um bolsonarista como a maioria dos goianos, Luís Cláudio Lapena, o cirurgião plástico que o surrou nas urnas. Mas não foi por isso que entrou na Justiça para impedir a continuidade de obras viárias no Estado de Goiás. Inicialmente, petistas e integrantes do Ministério Público festejaram a decisão do ministro Alexandre de Moraes paralisando os trabalhos em quatro rodovias. Mas na terça-feira (21) o mesmo magistrado divulgou outra interpretação.
Por isso, Edinho & Cia. haverão de chorar de raiva, mas máquinas e homens vão retomar na manhã desta quinta-feira (23) a movimentação nos canteiros. O presidente do Sistema Faeg/Senar, José Mário Schreiner, disse ontem a O HOJE que “o ritmo de agora em diante será ainda mais célere”. Entre as quatro rodovias que ficaram paradas em consequência da ação do petista, duas estavam de forma tão veloz que poderiam ser entregues juntamente com os presentes de Natal de 2025, a 178, da BR-364 à GO-306, e a 180, na vizinhança de Jataí. Com chão preto de primeira qualidade nas duas vias, a expectativa de Caiado, José Mário e Pedro Sales, presidente da Agência de Infraestrutura (Goinfra), é mais que dobrar a área cultivada: passar de 160 para 400 mil hectares de lavoura.
Como não sabe nem o que é uma produtividade dessas, Edinho não tem muito motivo para soltar foguetes. Está à frente de uma sigla que diz estar atrás de apoio do agro e faz um gol contra desses. Aliás, seu representante local nas competições esportivas, a Ferroviária, está atrás dos três goianos, mas em outra seara: na classificação da Série B do Campeonato Brasileiro de futebol, a famosa Segundona. O Goiás é o 6º; o Atlético Goianiense, o 10º; o Vila Nova, o 12º, cinco pontos acima da Locomotiva, o apelido da equipe de Edinho. Mas não é por isso que ele quer vetar a ascensão do agro em Goiás. Edinho preside o diretório nacional do Partido dos Trabalhadores e foi ministro de Comunicação Social do governo de Dilma Rousseff. Portanto, tem motivos para querer barrar a ascensão do governador Ronaldo Caiado, pré-candidato ao cargo do responsável pelos êxitos de Edinho na política, o presidente Lula.
A agenda de entregas está sendo reprogramada, pois as obras das rodovias ficaram paradas durante 11 dias. Atônitos, os empresários não sabiam o que fazer. Obedeceram, mas tinham compromissos a saldar. Por isso, houve dispensa de pessoal, que desde ontem recomeçou a ser contratado, segundo Schreiner. A maioria manteve o quadro de operários e as máquinas locadas. Tudo isso graças a uma tremenda bola fora de Edinho, porém, é possível retribuir com goelada. Neste dia 26, o próximo domingo, o Vila Nova vai enfrentar a Ferroviária no Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga, o OBA, em Goiânia. Em Araraquara, o Vila ganhou por 3 a 1. Perdeu para o Goiás no Estádio da Serrinha (0 a 2) e empatou em casa (1 a 1). Mas não é por isso que Edinho tanto quer prejudicar o escoamento da produção, sobretudo a do Sudoeste goiano — até porque seu clube ganhou do Atlético lá (2 a 0) e aqui (3 a 1). Edinho deve estar desesperado porque sua assessoria jurídica tão bem remunerada se enrola no cabelo das pernas que passa nos outros: Moraes tem mudado muito do rapaz dos livros de Direito Constitucional para o ministro guardião da Constituição, porém ainda sabe a diferença entre ex tunc e ex nunc.
Entre copos cheios de bebida alcoólica, a galera que comemorou a paralisação das obras se esqueceu de usar a voz pastosa para definir ex nunc e ex tunc. O ministro explicou que sua decisão “tem eficácia prospectiva (ex nunc)”. Ou seja, a partir de agora as Leis Estaduais 22.940 de 2024 e 23.291 de 2025 não podem servir de amparo para a ausência de processo licitatório, ainda que as obras sejam feitas com dinheiro de contribuição dos produtores rurais para eles mesmos, via Ifag, o Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás. Se o efeito tivesse sido ex tunc, os serviços já iniciados não poderiam sequer ser pagos ou continuados de acordo com as tratativas entre particulares — as empresas de engenharia e o Ifag.
O Governo de Goiás, representado pela Procuradoria do Estado, vai continuar agindo para reverter a inconstitucionalidade das leis no Pleno do STF (quando todos os 11 ministros se reúnem, já que a decisão de Moraes foi monocrática, ou seja, tomada por ele sozinho). Celeuma gigante porque se trata de algo puramente interpretativo: Moraes quer que a contribuição arrecadada se submeta à débil Lei federal 8.666, cuja eficiência é zero no combate à corrupção ou no preço justo conseguido em processos licitatórios. A saída via Ifag barateia as obras, dá velocidade às empreitadas e impede todos os vícios das relações entre público e privado.
As regras de licitação, em vez de luz, são caminho para as trevas. Edinho sabe disso, até porque de brilho ali só o estádio local, a Fonte Luminosa.
Quem é Edinho Silva, o epicentro das discussões
Edinho Silva foi por quatro mandatos prefeito de Araraquara, uma cidade de 260 mil habitantes cujo subsolo fica pertinho do aquífero Guarani e no qual passeou o dinossauro Farlowichnus rapidus. Mesmo depois de o presidente do PT passar por um problemaço na Justiça, o município o acolheu e lhe deu mais oito anos de gestão. Novamente, seu nome foi parar na boca do sapo. Olha o que saiu sobre ele na revista “Veja” na época da pandemia:
“O nome de Edinho aparece no meio de um inquérito em curso no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que apura uma fraude de 48,7 milhões de reais na tentativa de compra de 300 respiradores chineses pelo Consórcio Nordeste, grupo que os bolsonaristas sempre quiseram, sem sucesso, que fosse investigado na CPI da Pandemia do Senado. O dinheiro foi pago para a empresa Hempcare, que não entregou os produtos. Segundo as investigações, quando da contratação, o coordenador do Consórcio Nordeste, Carlos Gabas, ex-ministro da Previdência no governo do PT, acertou com a Hempcare a doação de respiradores, avaliados em 4 milhões de reais, para a Prefeitura de Araraquara, comandada por Edinho, seu amigo e antigo colega de governo. Seria uma espécie de comissão. Com base nessa informação, em dezembro passado a CPI da Covid da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte pediu o indiciamento de Edinho por envolvimento na fraude na compra dos respiradores”.
Os problemas de Edinho são maiores que o dinossauro, pois gravações o mostram em contato com os protagonistas dos desvios. Enquanto os doentes padeciam, os rolos continuavam: “Interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça como evidências de que Cristiana (Taddeo) e a (sua empresa) Hempcare agiram em conluio com os petistas, inclusive com Edinho Silva, para realizar a fraude”.
Quando atuou como tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff, Edinho respondeu a inquérito, depois arquivado, que o enredava com o recebimento de doações irregulares. Mas ninguém de Goiás foi à CPI da Pandemia denunciá-lo ou entrar com ação no Supremo na tentativa de paralisar obras em Araraquara.
