Bruno Goulart
A confirmação de que o Partido Liberal (PL) terá vaga assegurada na chapa majoritária do MDB no Distrito Federal nas eleições de 2026 repercutiu em Goiás. O anúncio do governador Ibaneis Rocha (MDB) reforçou a aliança que sustentará a pré-candidatura da vice-governadora Celina Leão (PP) ao Governo do DF e abriu espaço sobre uma possível reprodução da fórmula em território goiano — a união do PL de Wilder Morais e do MDB de Daniel Vilela em 2026. Mas informações de bastidores indicam que o cenário está mais fragmentado e que uma composição semelhante seria improvável, ao menos por enquanto.
Fontes ouvidas pelo O HOJE lembram que o MDB é quase como uma “confederação de federações estaduais”, em que cada diretório tem autonomia para definir alianças. “O que acontece no DF não necessariamente se repete em Goiás”, resume um interlocutor do partido.
De fato, houve conversas meses atrás sobre uma aproximação entre o grupo do vice-governador Daniel Vilela (MDB) e o do senador Wilder Morais (PL). Na época, o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro teria sugerido que o PL “colocasse a mão na cabeça” e considerasse a aliança com o MDB goiano. No entanto, o diálogo esfriou.
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Hoje, Wilder demonstra interesse — ainda que internamente — em disputar o Governo de Goiás, enquanto Daniel é o nome natural da base governista para suceder Ronaldo Caiado (União Brasil). Nos bastidores, uma ala do PL defende que o senador tire da cabeça os anseios de chegar ao Palácio das Esmeraldas no próximo ano. Ainda assim, a tendência, segundo um interlocutor ouvido pelo O HOJE, é de que prevaleça a vontade de Wilder — a de ser governador.
Benefícios para ambos os lados
A possibilidade de uma aliança entre MDB e PL em Goiás traria benefícios para ambos os lados. Daniel Vilela ampliaria sua base eleitoral ao incorporar o eleitorado conservador. O PL, por sua vez, garantiria espaço no governo e o apoio do grupo em eleições futuras. Contudo, até o momento, o que há de certo dentro do PL é que o deputado Gustavo Gayer deve disputar vaga no Senado.
E é aí que entra a vantagem para o partido de Wilder. A força eleitoral de Gracinha Caiado (União Brasil) ao Senado será determinante. “Gracinha vai se eleger e, também, vai eleger o segundo senador. O candidato que estiver junto tende a ser puxado para cima”, analisa outro interlocutor.
Neste cenário, Gayer poderia se beneficiar caso o PL participasse da chapa de Daniel e Gracinha. Mas, caso o grupo de Wilder opte por caminhar sozinho, as chances diminuem. “Se Gustavo Gayer estiver na chapa de Gracinha e Daniel, a tendência é ser eleito. Se ficar com Wilder, corre o risco de ser derrotado”, completa.
Avaliação prematura
Para o cientista político Lehninger Mota, ainda é prematuro falar em alianças entre MDB e PL fora do Distrito Federal, especialmente em Goiás. Mota destaca que o tabuleiro nacional ainda está em formação e pode redefinir arranjos regionais. “As articulações ainda estão muito embrionárias. Em Brasília, há o fator Michelle Bolsonaro, cotada para o Senado ou até para ser vice de Tarcísio de Freitas. Então é cedo para pensar que essa união entre MDB e PL possa se repetir em outros Estados. A conjuntura nacional interfere muito na forma como as coisas vão funcionar”, avalia Mota.
Dentro do PL nacional há uma percepção: Bolsonaro e Valdemar Costa Neto dão prioridade a candidatos ao Senado, e não a postulantes a governos estaduais apenas para cumprir tabela. Isso pode afetar diretamente a viabilidade da candidatura de Wilder ao Palácio das Esmeraldas. (Especial para O HOJE)