Bruno Goulart
Enquanto o prazo para formalização de federações partidárias se aproxima, o MDB, uma das maiores e mais tradicionais siglas do país, continua enfrentando dificuldades para firmar alianças com outras legendas. O problema central, segundo especialistas ouvidos pelo O HOJE, está na própria estrutura do partido, marcado por uma organização descentralizada e forte presença regional, o que torna arriscado, para partidos menores, entrar em uma federação onde o MDB pode acabar sendo dominante.
“Confederação de caciques”
Para o professor e especialista em políticas públicas Tiago Zancopé, há um elemento histórico que explica essa dificuldade: “O MDB funciona quase como uma confederação de caciques. Você tinha uma hegemonia do Íris e do Maguito em Goiás, do Jader Barbalho no Pará, do Renan Calheiros em Alagoas. Cada grupo se entendia localmente e depois se encontrava em Brasília para estabelecer uma pauta comum.” Com isso, partidos menores, como Republicanos ou o atual PSDB, hesitam em abrir mão de sua autonomia para compor uma federação com um gigante que pode engoli-los politicamente.
O cientista político Lehninger Mota segue a mesma linha ao explicar que o MDB, ao contrário de partidos que nasceram mais recentemente, carrega a herança do bipartidarismo da ditadura militar. “É um partido arraigado em todo o território nacional, porque durante o regime militar foi a única alternativa à Arena. Isso dá ao MDB uma força muito capilarizada, que o torna atraente, mas também difícil de manejar em alianças”, afirma.
PSD como opção para federar
A comparação com o PT também é importante. Enquanto o partido do presidente Lula formou federação com partidos muito menores (como PCdoB e PV), o MDB enfrenta o desafio de encontrar parceiros que aceitem o papel de coadjuvantes. “Acho que o único partido que talvez teria condição de federar com o MDB em condição de igualdade hoje seria o PSD”, avalia Zancopé. Segundo ele, o PSD teria assumido, nos últimos anos, um papel que historicamente foi do MDB: o de maior número de prefeitos e capilaridade nacional.
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Para além disso, a fragmentação interna se reflete ainda na dúvida de com qual MDB outros partidos estariam firmando uma aliança. “É com o MDB da Simone Tebet, mais alinhada ao governo federal, ou com o MDB do Baleia Rossi? O do Senado ou o da Câmara?”, questiona Zancopé.
Além das dificuldades políticas, há também impactos eleitorais e financeiros. Partidos que não alcançarem o novo coeficiente de votos imposto pela cláusula de barreira podem perder acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV. Para esses, a federação com o MDB seria uma tábua de salvação — desde que aceitem um papel secundário.
Goiás
No entanto, em Goiás, o cenário é bem diferente. Segundo Zancopé, a posição do MDB é sólida. “A situação do MDB aqui em Goiás é bastante confortável. O MDB hoje tem o vice-governador, Daniel Vilela, o prefeito da segunda maior cidade, que é o Leandro Vilela, além de uma bancada forte na Assembleia Legislativa e na Câmara de Goiânia.”
Zancopé avalia que mesmo sem uma federação, o MDB tem condições favoráveis para disputar o governo do Estado com Vilela. “Eu não vejo como isso poderia atrapalhar aqui em Goiás. Pelo contrário. Acho que o MDB tem uma capilaridade histórica aqui que perpassa gestões de Íris Rezende, Santillo e Maguito. A ausência de uma federação não compromete esse projeto.”
Para Lehninger Mota, no entanto, há um desafio: o desalinhamento entre o MDB goiano e a cúpula nacional. “A dificuldade hoje seria em ter um MDB goiano mais alinhado com a direita, o que não acontece no cenário nacional onde o partido é alinhado ao governo Lula”.
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