O título de eleitor de Ronaldo Caiado é de Nova Crixás (13.095 habitantes), no Vale do Araguaia. Dos três senadores, Jorge Kajuru é paulista, Wilder Morais é de Taquaral (4.146) e Pedro Chaves é de São Domingos (9.581), no Nordeste goiano. São municípios fora da lista dos 70 com mais moradores. Das 10 maiores cidades fora a Capital (Goiânia tem 1.494.599), apenas dois elegeram deputados federais, Rio Verde (Marussa Boldrin) e Luziânia (Célio Silveira). Aparecida (550.925) e Anápolis (415.847) têm juntas quase 1 milhão de vidas humanas e não conseguiram ter integrantes no Legislativo nacional – o que é quase desumano. A tendência é ficar ainda mais difícil, pois se as redes sociais ampliam a divisão, mesmo falando-se de quem milita na política por ser vocacionado a servir àquele lugar, ainda que tenha vindo de outros Estados.
Mesmo que não sejam os natos, alguns da Câmara dos Deputados continuam militando em municípios de porte médio. Adriana Accorsi é natural de Itapuranga (26.574). Adriano do Baldy é da antiga Capital, Goiás (24.233). Ismael Alexandrino é de São Luís de Montes Belos (35.031). Rubens Otoni é de Goianésia (77.014). São mineiros José Nelto, Lêda Borges, Flávia Morais e Daniel Agrobom, que representa Bom Jesus (24.701 moradores), onde foi e seu filho e xará é prefeito. Glaustin da Fokus nasceu em Goiânia, porém seu pai é prefeito em Aragoiânia (12.554). Professor Alcides é baiano e Magda Mofatto, paulista. Goiânia é terra natal de Silvye Alves, Jeferson Rodrigues, Gustavo Gayer e Zacharias Calil.
Rompendo os limites da razão
Pela quantidade desarrazoada de pré-candidaturas que aparecem nas conversas e na internet, e mais ainda nas conversas de internet, as grandes vítimas podem ser as de sempre, as cidades grandes. Lêda representa Valparaíso (7ª maior, com 213.506), que agora vai se dividir entre o ex-prefeito Pábio Mossoró e os trocentos paraquedistas.
Outra carrada de aventureiros não vai deixar Rio Verde sem nome no Congresso porque o presidente da Federação de Agricultura (Faeg), José Mário Schreiner, estaria se reaproximando de sua afilhada Marussa. O ex-prefeito Paulo do Vale cresceu tanto que está mais cotado para suplente de Senado na chapa de Gracinha Caiado ou vice de Daniel Vilela para governador. Pode ficar tentado a lançar ao Congresso o filho, Lucas do Vale, que tem reeleição certa na Assembleia Legislativa.
O marido chegou 1º
A nº 1 do Entorno do Distrito Federal, Águas Lindas (4ª do Estado, 240.613) teve um deputado federal neste mandato, o suplente Hildo do Candango, ex-prefeito que assumiu interinamente no lugar de Jeferson Rodrigues. A atual vice do prefeito Lucas Antonieti, Aleandra Souza, é casada com Hildo, que vai ser apoiado pelos dois. Em 2018, Aleandra era favorita para se eleger deputada federal quando o então senatoriável Marconi Perillo a convenceu a ser sua suplente. Marconi estava disparado na frente, mas acabou em 5º lugar e, na casa dos Candango, o marido acabou chegando 1º ao Congresso Nacional.
Luziânia (218.872), que durante por dois séculos foi a maior do Leste até ser superada por Águas Lindas em 2018, é um celeiro de políticos relevantes, como o deputado federal Célio Silveira e o conselheiro Valcenôr Braz, ambos ex-prefeitos locais. Há um dado a se considerar: não importa o tamanho da cidade, o que vale é o tamanho do esforço do candidato. Célio, por exemplo, circula o Estado inteiro, e em 2022 contou com apoios fechados em polos importantes, a começar dos de porte médio (Itapaci) e Morrinhos (53.640), com a característica de concentrarem os equipamentos públicos da circunvizinhança.
O trator do Sudoeste
Há também os líderes regionais que, por gratidão a serviços prestados, ajudam candidatos da Capital. O secretário de Infraestrutura do Governo Caiado, Adib Elias, maior nome da política no Sudeste do Estado, apoia José Nelto em Catalão (120.789), Ipameri (26.163) e dezenas de outras cidades vizinhas. Nos últimos 50 anos, as maiores lideranças de Goiás vieram de lugares pequenos do interior. Iris Rezende era de Cristianópolis (3.630). A mãe de Marconi Perillo veio dar à luz em Goiânia, mas ele fez política a partir de Palmeiras (33.749). Lúcia Vânia foi primeira-dama de Goiás, deputada federal, duas vezes senadora, ministra do Social (Governo FHC) e nasceu em Cumari (2.955) – aliás, Cumari é no Sudeste e ali Adib também apoia Nelto.
Quem não tem parlamentar fica com menos verbas
Há cidades sem dono, como Goiânia e Aparecida, onde todo mundo faz campanha. E há as bairristas, como Rio Verde, que separa a turma por ideologia ou religião, desde que os candidatos sejam de lá mesmo. Tem casos como o de Inhumas, que durante 32 anos contou com o deputado federal Roberto Balestra, às vezes com seu adversário local Luiz Soyer no mesmo Plenário. Não importa: que legislar e fiscalizar que nada, a população, incitada pelos prefeitos quer deputado para trazer recursos. Sem representante na Câmara e/ou no Senado, fica ser ter com quem brigar por suas emendas.
Os maiores carreadores de verbas para os municípios eram os então deputados federais Jovair Arantes, Sandes Júnior e Pedro Chaves, suplente de Vanderlan Cardoso que está em seu lugar no Senado. O repórter viu algumas das reuniões para dividir o dinheiro a que Goiás tinha direito, antes da explosão financeira com emendas PIX e outras novidades, e testemunhou brigas homéricas. Quem ficava calado perigava sair de mãos vazias e bolsos mais ainda.
Barbosa Neto, que foi deputado federal e representava Itaberaí (46.943), era bom de luta por seus municípios. A atual coordenadora da bancada goiana, Flávia Morais, também se agiganta na hora de defender as cidades que mais a ajudam. Os detentores de mandatos municipais conhecem o jogo, sabem que bons projetos até colaboram com a prospecção de dinheiro, mas o que resolve mesmo é ter um Jovair para conseguir os montantes e satisfazer a todos.
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