Bruno Goulart
Quem vai carregar o bastão da direita em 2026? Essa pergunta, que já rondava os bastidores de Brasília, ganhou novas camadas de urgência e incerteza com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de aplicar uma série de restrições ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A mais simbólica — e humilhante, na visão de alguns — foi a imposição de uma tornozeleira eletrônica. Mas há mais: o ex-presidente está proibido de usar redes sociais e deverá cumprir recolhimento domiciliar entre 19h e 6h de segunda a sexta-feira e em tempo integral nos fins de semana e feriados.
Se antes a inelegibilidade parecia suficiente para frear o retorno de Bolsonaro ao Planalto, agora o Judiciário o empurra ainda mais para fora do tabuleiro. A pergunta que se impõe, portanto, é: quem herda o espólio político do ex-capitão?
Sem Bolsonaro no palanque, quem sobe no palco?
Há meses, os nomes de governadores como Tarcísio de Freitas (SP), Ronaldo Caiado (GO), Romeu Zema (MG) e Ratinho Jr. (PR) circulam como possíveis herdeiros do bolsonarismo. Mas o momento atual exige mais do que favoritismo em pesquisas ou retórica antipetista: exige sangue frio, musculatura política e capacidade de navegar em mares revoltos.
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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é apontado por aliados como o mais viável num cenário de afastamento definitivo de Bolsonaro. Militar da reserva e ex-ministro da Infraestrutura, tem credenciais técnicas e eleitorado consolidado. Mas sofre resistências dentro do próprio campo bolsonarista, que o enxerga como figura independente demais — talvez até moderada demais.
Já Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, enfrenta a missão de se tornar conhecido fora de seu reduto eleitoral. No último sábado (19), se adiantou ao anunciar a reação mais concreta contra a crise comercial com os Estados Unidos – uma linha de crédito a juros baixos para empresas exportadoras com a contrapartida delas manterem empregos. Além disso, cobrou medidas do governo federal. Segundo Caiado, as ações visam garantir que empresas goianas “permaneçam firmes no mercado” e que nenhum trabalhador “seja demitido”.
Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, saiu na frente na defesa pública de Bolsonaro após as medidas do STF. Disse que a decisão foi “mais um ato absurdo de perseguição política” — um gesto que pode lhe render fidelidade de parte do eleitorado conservador. Seu vice, Mateus Simões, foi ainda mais incisivo, afirmando que o caso representa “um novo e sombrio capítulo” do sistema judicial brasileiro.
Do sul, o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), se movimenta com discrição. Já tem o endosso formal do partido para disputar a Presidência em 2026, segundo declarou Gilberto Kassab. Mas sua viabilidade nacional ainda é incerta — sua atuação é mais forte dentro do estado, e sua exposição no noticiário político nacional ainda é limitada.
E a família Bolsonaro? Sai de cena ou entra na disputa?
Enquanto os nomes dos governadores são testados, o clã Bolsonaro não sai do radar. Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos EUA, já ensaia discursos de candidato. Embora sua licença da Câmara tenha terminado neste domingo (20), afirma que não volta ao Brasil tão cedo — diz temer ser preso. Foi sua atuação internacional, aliás, que serviu de gatilho para a investigação que culminou nas medidas restritivas contra o pai.
A possível fuga de Jair Bolsonaro também foi especulada. A Polícia Federal encontrou US$ 14 mil em espécie em sua casa — para o STF, um indício de plano de evasão. O ex-presidente nega. Disse que não deixará o Brasil para não ser visto como “covarde” e insiste na narrativa de “suprema perseguição”.
Nos bastidores, aliados confidenciam preocupações com o estado físico e psicológico do ex-presidente. Após a derrota em 2022, Bolsonaro enfrentou episódios de depressão. A tornozeleira eletrônica e o cerco judicial podem agravar esse quadro. Mas, ao mesmo tempo, alimentam a narrativa do mártir perseguido — um ativo poderoso no bolsonarismo. E se Bolsonaro não voltar? Mesmo inelegível, Bolsonaro deve seguir como o grande cabo eleitoral da direita.
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